Jornal Estado de Minas

Entidades e a CGU querem estender a lei da Ficha Limpa

Entidades e a CGU querem estender os efeitos da lei fazendo pressão para que prefeitos barrem secretários e ocupantes de cargos de confiança condenados em segunda instância

Paulo de Tarso Lyra Diego Abreu Junia Gama

Jorge Hage sugere que sócios de empresas inidôneas sejam impedidos de ocupar cargos no governo - Foto: Carlos Moura/CB/D.A.Press 

Brasília – A aprovação da Ficha Limpa para as eleições de 2012 impulsionou grupos como o Movimento de Combate à Corrupção Eleitoral (MCCE) a pressionar para que a regra não fique restrita aos cargos eletivos, mas atinja também as nomeações para o segundo escalão. A ideia é exigir dos candidatos a prefeito em outubro que estendam a exigência de probidade para todas as instâncias da máquina pública municipal. “Não adianta um prefeito ter a ficha limpa se ele monta seu secretariado com correligionários que tenham a ficha suja. O mesmo vale na esfera federal: se o presidente tem que ter a ficha limpa, seus ministros também devem ser escolhidos com base nesse critério”, afirma Marcelo Laverne, do MCCE.

No governo federal, o assunto já está em debate desde outubro. A iniciativa é da Controladoria-Geral da União (CGU), que dialoga com a Casa Civil, Ministério da Justiça, Secretaria de Relações Institucionais (SRI) e Advocacia-Geral da União (AGU) para a elaboração de um decreto presidencial para reger essa questão. Uma das sugestões do ministro-chefe da Controladoria-Geral da União, Jorge Hage, é de que sócios-dirigentes ou administradores de empresas consideradas inidôneas não possam ser indicados para cargos na máquina federal.

Os partidos também foram obrigados a se adaptar aos novos tempos. Eles terão de refazer seus planejamentos, rever os apoios eleitorais e a política de atração de filiados para concorrer nas eleições de outubro. Tudo isso deverá estar pronto até junho, quando se iniciam as convenções partidárias para a definição dos candidatos a vereador e prefeito em todo o país.

Maior partido do país em número de prefeituras, o PMDB começou a correr atrás do prejuízo. “Eu avisei aos diretórios municipais para substituir os candidatos que tivessem algum tipo de problema antes mesmo de o STF aprovar a lei”, disse o presidente nacional do PMDB, senador Valdir Raupp (PMDB-RO).

Raupp afirma que “a Ficha Limpa é um avanço no processo democrático”. Mas, há dois meses, os peemedebistas tinham restrições à nova legislação. Tanto que a cúpula partidária foi em caravana ao STF pedir a liberação para que o senador Jader Barbalho (PMDB-PA) pudesse assumir seu mandato no Senado. Em troca, lutariam, no Congresso, pelo reajuste dos servidores do Judiciário. Dilma não deu o reajuste, mas Jader foi empossado.

Peneira Um dos relatores da Lei da Ficha Limpa na Câmara, o presidente do PSD no Rio, Índio da Costa, comemorou a decisão do Supremo Tribunal Federal (STF) de validar a lei já nas eleições de 2012. “Os partidos, agora, terão que fazer um filtro. O resultado acaba com o coronelismo na política. Os traficantes, milicianos não tinham votos, mas tinham poder e acabavam sendo candidatos”, destacou Índio, que foi candidato a vice-presidente de José Serra (PSDB) nas eleições de 2010. “É o sepultamento do período em que os fins justificam os meios”, reforçou Índio.

Para o presidente do PSB, o governador de Pernambuco, Eduardo Campos, a Ficha Limpa vai ajudar a democracia e serve para agilizar a instrução processual. A pessoas próximas, o governador tem dito que uma lei como essa só precisa ser aprovada porque os julgamentos no país são “muito morosos”. Com isso, os réus em processos administrativos e criminais podem candidatar-se em busca de foro privilegiado, o que, em última instância, acaba por ajudar no prolongamento dos inquéritos.

Na opinião do presidente nacional do PPS, deputado Roberto Freire (SP), o Supremo Tribunal Federal atendeu aos anseios da sociedade pela moralidade na política brasileira. “Essa decisão é excelente. Muito importante para melhorar os costumes políticos no país”, afirmou Freire. O parlamentar acrescentou ainda que o fato de a lei ter sido aprovada antes das eleições foi positivo. “Assim, os partidos terão tempo para ajustar suas nominatas (listas de candidatos) à lei”, afirmou.