Jornal Estado de Minas

Depois da folia, Dilma tem uma série de desafios na área econômica

Victor Martins Karla Correia
Brasília – A quarta-feira de cinzas é quando, diz a tradição popular, o ano realmente começa. Para a presidente Dilma Rousseff, este 2012 iniciado ao meio-dia de hoje traz a ressaca da inflação persistente, da indústria fragilizada e das importações em alta. Para completar, ela ainda sofre as dores de cabeça de votações paradas no Congresso e das ameaças de greve do funcionalismo. A equipe da presidente já se sente frustrada pelo crescimento minguado de 2011, em torno de 2,7%. Quando miram o futuro, os economistas do governo ainda veem o fantasma da crise europeia assombrar investidores e a expansão do Produto Interno Bruto (PIB).
O carnaval, encerrado ontem, foi a trégua de todos esses males. Hoje, porém, a realidade bate à porta novamente. A inflação, apesar de ter desacelerado no acumulado de 12 meses, continua alta: na prévia da carestia oficial de fevereiro, a taxa acumulada está em 5,98%, longe do centro da meta, definida em 4,5%. Apesar da política monetária e da crise que derruba preços das commodities (produtos básicos com cotação internacional), os serviços não cederam e continuam apertando o bolso do consumidor.

Especialistas ouvidos pelo Estado de Minas garantem que a disparidade entre o que o país fabrica e consome vai afetar ainda a taxa de crescimento em 2012. Com estoques elevados e sem capacidade de competir com os importados, os industriais continuarão estagnados no primeiro semestre. "A indústria terá um início de ano ruim. Ela estreou 2012 muito estocada e, por isso, deve reduzir o ritmo", explica o economista Luís Otávio de Souza Leal. Nos cálculos dele, o país vai se expandir 3,7% este ano. O crescimento inócuo de 2011 também atrapalha 2012. "A expansão do ano vai ser pequena porque o país carrega o pesado fardo de 2011", diz.

De volta à realidade do Planalto, presidente Dilma tem uma agenda pesada nas próximas semanas - Foto: AFPO PIB deste ano só não ficará mais próximo do de 2011 em função do novo salário mínimo, que foi reajustado em 14,1% ao passar de R$ 545 para R$ 622 – o que representa uma injeção de R$ 47 bilhões na economia brasileira. Pelos cálculos do Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese), com esse incremento, o governo vai arrecadar R$ 22,9 bilhões a mais devido ao aumento de consumo. Essa elevação, contudo, deverá ser a única liberada por Dilma, mesmo diante das pressões do funcionalismo.

Votações Acalmados os ânimos entre o Planalto e o presidente da Câmara, Marco Maia (PT-RS), a votação do projeto que cria o Fundo de Previdência Complementar dos Servidores Públicos Federais (Funpresp) retorna ao plenário da Câmara como prioridade na agenda da semana pós-carnaval. De acordo com o líder do governo na Casa, Cândido Vaccarezza (PT-SP), o projeto deve ser votado no dia 28.O Funpresp ainda enfrenta resistência de setores da bancada governista, sobretudo do PDT, por pressão da Força Sindical, que é contrária ao projeto. "A presidente reforçou, durante reunião do Conselho Político, a importância de a base aliada estar unida na aprovação do projeto e viabilizar uma votação rápida na semana depois do carnaval, como ficou acordado pelo colégio de líderes da Câmara", diz Vaccarezza.

O Planalto também indicou que pretende apressar a votação da Lei Geral da Copa. De acordo com Vaccarezza, a expectativa é que o projeto seja votado na comissão também no dia 28 e vá, em seguida, para o plenário da Casa. Ele é, na prática, o único tema que o governo tem urgência para aprovar neste ano. O relatório do deputado Vicente Cândido (PT-SP) mantém o direito a meia-entrada para maiores de 60 anos tanto nos ingressos mais caros quanto na categoria promocional de ingressos — ponto de discórdia entre o governo e a Fifa. O parecer ainda admite a venda e o consumo de bebidas alcoólicas nas arenas dos eventos esportivos, desde que o produto seja vendido em copos de plástico.

Passeio presidencial

- Foto: FolhapressA presidente Dilma Rousseff fez um longo passeio, numa lancha da Marinha, na manhã de ontem. Ela percorreu várias ilhas situadas na Baía de Todos os Santos, na Bahia. Dilma está passando o feriadão de carnaval na praia privativa de Inema, na Base Naval de Aratu, onde também se hospedou no feriado do réveillon. Ela chegou à Bahia no início da tarde da sexta-feira e tem previsão de retorno a Brasília na manhã desta quarta-feira de cinzas. A presidente deixou a base por volta das 6h15 e somente retornou ao local onde está hospedada por volta do meio-dia. Esse foi o segundo passeio de lancha feito pela presidente desde que ela chegou a Inema. Não foi possível visualizar a presidente porque ela se manteve durante todo do passeio dentro da cabine da lancha, utilizada em patrulha.Com as lentes dos fotógrafos voltadas para a praia, a presidente tem evitado o banho de mar, diferentemente dos familiares que a acompanham no descanso, que têm aproveitado o forte sol do verão baiano. Ela somente apareceu na praia no fim da tarde de segunda-feira.