Jornal Estado de Minas

Fora da briga para presidência, estratégia do PMDB é focar em prefeituras

PMDB disputa maciçamente as prefeituras e mantém as maiores médias de votos para deputado federal

Bertha Maakaroun - enviada especial

Enquanto o PT e o PSDB polarizam a disputa nacional em torno do Palácio do Planalto, divergindo em relação às prioridades de governo, o PMDB adotou, ao longo das últimas duas décadas, uma estratégia diferente: privilegiou a sua presença nos municípios, o que se verifica não apenas pelo maior número de candidatos a prefeito lançados em todo o país, como também pela maior votação média conquistada nos municípios e nas eleições para deputados federais na comparação com todos os partidos. “A estratégia do PMDB é local. Fazer parte do governo federal faz todo sentido. É ter acesso aos recursos do Executivo não só para mandar aos prefeitos, mas também para manter as bases dos congressistas”, afirma a pesquisadora e cientista política Natália Maciel, doutoranda do Instituto de Estudos Sociais e Políticos (Iesp) da Universidade Estadual do Rio de Janeiro (Uerj).

Ao mesmo tempo em que o PMDB se mantém nas últimas décadas sempre no governo por uma conveniência estratégica – mesmo em 2002, quando compôs a chapa com José Serra, apressou-se em ingressar na base do governo Lula –, tanto o PSDB quanto o PT precisaram muito da legenda para a formação de maioria parlamentar. Além disso, a coligação com o PMDB garante ainda preciosos minutos no horário eleitoral gratuito, uma vez que neste mandato ele tem a segunda maior bancada. “O PMDB é a peça chave para os governos e as eleições. Para ser o que é, precisa estar no governo, ao mesmo tempo em que o governo precisa do PMDB”, afirma a cientista.

Levantamento de pesquisa espacial realizado por Natália Maciel com a votação dos candidatos e partidos políticos em todos os municípios brasileiros a partir de 1994 mostra como o PMDB, partido de centro, sem uma plataforma ideológica que o vincule e identifique, se manteve não apenas em todos os governos tucanos e petistas, mas também registrou ao longo do tempo, entre todas as legendas, as maiores votações médias nos municípios brasileiros para deputados federais.

Evolução

Nas eleições de 1994, o PMDB obteve, em média, 15% dos votos nas eleições proporcionais em cada município brasileiro. Naquele ano, o PT havia obtido apenas 3,9%, o PSDB 6% e o então PFL – atual DEM – 10,9%. Enquanto a média do PMDB nas eleições seguintes para deputado federal manteve-se sempre superior aos 15% registrados em 1994 – foi a 15,6% em 1998, saltou para 17% em 2002, chegou a 17,9% em 2006 e ficou em 16,6% em 2010 –, o PFL encolheu. Nos anos em que integrou o governo Fernando Henrique Cardoso, a votação dos candidatos a deputado federal do partido saltou de uma média de 10,9% dos votos em 1994 para 16,3% em 1998, votação média que se manteve estável em 16,4% nas eleições de 2002. A partir daí, entretanto, durante o governo Lula, a votação média do PFL nas cidades brasileiras despencou para 11,2% em 2006 e 7,8% em 2010.

Também o PSDB cresceu ao sabor do governo FHC, manteve o seu desempenho estável nas eleições de 2006, que se seguiram ao primeiro mandato do governo Lula, e em 2010, encolheu um pouco, embora nem de longe tanto quanto o parceiro PFL. Entre o Plano Real e as eleições de 1998, o PSDB dobrou a sua votação média nas cidades brasileiras de 6% para 12,6%. Em 2002, os tucanos conquistaram, em média, 13,5% dos votos para deputado federal nas cidades brasileiras e no pleito seguinte 13,2%. Nas últimas eleições, o desempenho médio do partido nos municípios brasileiros caiu para 10,6%. Já o PT, que durante os anos FHC não foi bem, com médias de 3,9% e 4,95% dos votos para deputado federal, reagiu em 2002, na esteira da candidatura Lula e do desgaste do governo tucano: o desempenho médio da sigla para deputado federal saltou para 11,2% dos votos. Em 2006, o escândalo do mensalão impediu o crescimento da legenda, e o índice médio de votação ficou em 10,9%. Em 2010, o PT voltou a crescer, obtendo em cada cidade uma média de 13,4% dos votos para deputado federal.

Custos da vitória

“Ter a Presidência da República, o governo, traz benefícios, mas também custos. Isso é particularmente verdade quando se analisa o desempenho do PSDB nas eleições de 2002 e do PT após o mensalão em 2006”, afirma a cientista política Natália Maciel. Mas a constatação não é verdadeira para o PMDB, que embora estivesse sempre integrado aos governos do PSDB e do PT, não teve seu desempenho afetado por desgastes em nenhum pleito. Isso sugere que o PMDB participa dos governos e colhe os benefícios da máquina, mantendo um desempenho médio alto e estável nas eleições para a Câmara dos Deputados. “Com a sua heterogeneidade e com a debandada dos mais ideológicos para fundar outros partidos no final dos anos 1980, o PMDB foi naturalmente empurrado para o centro. Nessa posição, compõe à direita e à esquerda, está sempre no governo, se beneficia dele e reforça a sua estratégia de fortalecimento nos municípios”, afirma Natália Maciel. Também nas eleições municipais, o PMDB é o partido que ao longo do tempo mais lançou chapas às câmaras municipais e candidaturas majoritárias. “É uma legenda que está em todo o país. Tem mais capilaridade e presença em todo o território”, considera a cientista.