No ano em que o Brasil sediará a Rio%2b20, o mais importante evento de diplomacia e desenvolvimento sustentável do ano, a área de meio ambiente do governo vive uma crise institucional. Em meio a atritos com a ministra do Meio Ambiente, Izabella Teixeira, o presidente do Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio), Rômulo José Mello, pediu demissão do cargo. A carta foi entregue a Izabella e, conforme o Correio apurou, a ministra aceitou a demissão. Não há previsão sobre o substituto. Oficialmente, entretanto, a assessoria de Izabella afirma que o pedido de Rômulo se deu por razões pessoais — “Ele se diz exausto” — e que a ministra ainda não decidiu se aceitará a saída de seu auxiliar.
A demissão de Rômulo remonta à própria criação do órgão, subordinado ao Ministério do Meio Ambiente (MMA). O instituto é um desmembramento do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama). Criado em agosto de 2007, passou a ser responsável pela criação e gestão das unidades de conservação federais. Izabella, que fez carreira no Ibama, discorda do modo de funcionamento do órgão.
A decisão de criar o ICMBio foi da então ministra do Meio Ambiente Marina Silva. Ela assinou a lei que instituiu o órgão, com o então presidente, Luiz Inácio Lula da Silva. O primeiro a exercer a presidência do instituto foi João Paulo Capobianco, que era secretário executivo de Marina no ministério. Em 2010, ele coordenou a campanha à Presidência da ex-senadora. Quando Carlos Minc substituiu Marina no MMA, em 2008, um comitê foi formado para indicar nomes à presidência do ICMBio. Marina e Capobianco integraram o comitê, que sugeriu três nomes a Minc. Rômulo, servidor de carreira do Ibama, foi o escolhido pelo ministro.
Ao aceitar a demissão do presidente do ICMBio, Izabella rompe com mais um ato de Marina Silva. As duas já protagonizaram outras divergências no que diz respeito à política ambiental das gestões petistas. “Izabella ficou incomodada com a forma como o ICMBio foi criado. A relação conflituosa com Rômulo existe desde o início”, afirma uma fonte do governo. “Não se sabe qual será o destino do órgão, nem quem será o sucessor de Rômulo.”
Conflito
A criação de unidades de conservação sempre foi objeto de conflito dentro do governo. Medidas provisórias do Executivo neste ano reduziram unidades de conservação na Amazônia para dar espaço a novas usinas hidrelétricas. “O ICMBio não colocou obstáculos, até porque se trata de medidas provisórias. Mas é claro que isso entra na discussão”, diz a fonte ouvida pelo Correio.
Um dos responsáveis pela indicação de Rômulo ao cargo, Capobianco defende a continuidade do ICMBio. “Não vejo hipótese de voltar a existir uma única instituição (Ibama) cuidando de tudo. É inviável.” Aliado de primeira ordem de Marina Silva, Capobianco afirma que o órgão não foi criado por um ato exclusivo da ministra em 2007. “O ICMBio foi criado pela Presidência da República.” O desmembramento do Ibama gerou uma onda de protestos e greves de servidores, muitos deles sem saber onde passariam a atuar com a criação do instituto.
O Correio tentou falar com Rômulo, que não retornou as ligações. Segundo sua assessoria, cabe à ministra Izabella posicionar-se sobre o pedido de demissão. Rômulo já foi presidente do Ibama (em 2002), diretor no MMA e diretor no ICMBio. Desde 31 de julho de 2008, após nomeação pela então ministra da Casa Civil, Dilma Rousseff, exerce a presidência do ICMBio.