Na justificativa do projeto, o pedetista se lembra da “indignação da sociedade brasileira” com os salários extras. Já Gleisi explicou que a ajuda de custo foi criada quando a precariedade dos meios de transporte obrigava o parlamentar a se mudar para a capital do país no início de cada ano e só voltar a seu estado de origem no fim dos trabalhos legislativos. Hoje, os senadores e deputados retornam semanalmente para seus estados, o que, para ela, justificaria o fim dos salários extras.
As duas propostas estacionaram nas respectivas Casas. Apesar de, no Senado, o texto ter sido encaminhado para a Comissão de Assuntos Econômicos, não há previsão de ser votado. A falta de interesse chega ao ponto de integrantes desconhecerem por completo a existência da proposta. “Sou da comissão e confesso que nunca vi essa matéria. Quem é o relator?”, perguntou o senador Benedito de Lira (PP-AL). “Esse assunto não está na ordem do dia. Nem conhecia essa proposta. Quando chegar ao plenário, a gente discute”, prometeu o senador Agripino Maia (DEM-RN), que também integra a comissão. A matéria pegou de surpresa até o líder do PMDB no Senado,
Renan Calheiros (PMDB-AL). “Onde está (a proposta)?”, indagou.
“Sem chance”
Na Câmara, o projeto de Reguffe não chegou nem a ser distribuído para as comissões e ainda adormece na Mesa Diretora. O tema é tão sensível que o presidente Marco Maia (PT-RS) esquivou-se de comentar o projeto e a decisão da Câmara Legislativa. “Não falo disso de jeito nenhum. Sem chance”, afirmou. Se depender do esforço dos líderes partidários, a proposta deve permanecer no limbo. “Quando cheguei aqui, já era assim. Nunca parei para pensar. O projeto tem que entrar na fila. A ajuda de custo é válida porque temos que ter condições para trabalhar”, considerou o líder do PT na Câmara, Jilmar Tatto (SP). O sentimento de corporativismo se estende à oposição. “Não posso falar sobre o andamento da matéria porque não sou da Mesa Diretora”, justificou o líder do PSDB na Câmara, Bruno Araújo (PE).
Desde o início deste mandato, três deputados abriram mão dos salários extras. Além de Reguffe, os deputados Carlos Sampaio (PSDB-SP) e Severino Ninho (PSB-CE) enviaram à Direção-Geral da Câmara o pedido para não receberem o montante. A assessoria de imprensa do Senado informou não ter esse levantamento na Casa.
Benefícios na mira
A Câmara dos Deputados e o Senado consideram os dois salários extras uma ajuda de custo para a atividade política. As Casas preferem chamá-los de primeira e segunda parcela.
Quando são pagos
» O 14º cai integralmente na conta dos congressistas em fevereiro de cada ano.
» O 15º salário é proporcional à presença nas sessões deliberativas. Para recebê-lo, o parlamentar deve comparecer a pelo menos dois terços das sessões. A parcela entra em dezembro.
Impacto
» Cada parcela tem o mesmo valor do salário mensal de um congressista, R$ 26.723,12.
» Por ano, se os 513 deputados e os 81 senadores receberem os dois salários extras, o impacto será de R$ 31,7 milhões.
» Nos quatro anos dos deputados, o custo para a Câmara é de R$ 109,6 milhões.
» Nos oito anos de mandato dos senadores, o custo é de R$ 34,6 milhões.
Quem abriu mão do extra
Apenas três deputados dispensaram o recebimento dos salários
» Reguffe (PDT-DF) Formalizou o pedido no primeiro dia do mandato (1/2/2011)
» Carlos Sampaio (PSDB-SP)Abriu mão em 17/11/2011 (Recebeu o 14º em 2011)
» Severino Ninho (PSB-CE) Pediu para não receber os extras assim que deixou a condição de suplente para assumir o mandato, em 20/10/2011
* No Senado, de acordo com a assessoria de imprensa da Casa, não há esse levantamento.