A presidente Dilma Rousseff avisou a interlocutores que não está disposta a ceder à pressão de partidos aliados por cargos para fortalecer a candidatura do petista Fernando Haddad à Prefeitura de São Paulo. Dilma está convencida de que, se fizer isso agora, quando a campanha sequer começou e Haddad tem apenas 3% da preferência dos eleitores, poderá ser obrigada a ceder à pressão mais à frente para ajudar seu candidato, ficando refém dos aliados.
O recado contra a liberação de cargos tem como primeiro alvo o PR, que quer desalojar o ministro Paulo Sérgio Passos dos Transportes para nomear um candidato que considere representativo da bancada. Em troca, o PR estaria disposto a apoiar Haddad, desistindo de ter candidatura própria. Na prática a mensagem serve para todos os partidos da base.
A presidente cobrou pressa do PT para acelerar o ritmo da campanha de Haddad. Para o Planalto, o momento é de o PT arregaçar as mangas e trabalhar por Haddad, tornando o candidato escolhido pelo ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva mais conhecido da população. De acordo com a última pesquisa divulgada pelo Datafolha, só 45% dos entrevistados conhecem Haddad em São Paulo, o que lhe daria terreno para reduzir a diferença em relação ao tucano José Serra, líder no mesmo levantamento.
“A campanha do Haddad tem de começar o mais rápido possível”, disse um interlocutor da presidente, acrescentando que “o PT ainda não acordou” para a necessidade de começar a trabalhar pelo candidato do partido imediatamente.
Neste momento, acentuou este interlocutor, a presidente Dilma não irá atuar diretamente para ajudar Haddad ou aumentar o número de viagens à cidade com esse objetivo.
Conforme essa avaliação, o Planalto também lembra que a situação instável da saúde do ex-presidente Lula é um fator que obriga também “o PT me mexer o quanto antes”. Como está claro que uma representativa parcela da população atestou que vota no candidato que o ex-presidente Lula apoiar, o PT precisa se apressar a colocar a campanha de Haddad na rua.
“Esse é o trunfo dele”, comentou outro interlocutor da presidente, para quem Haddad precisa “ter criatividade” para sair por São Paulo e se apresentar como candidato, já que o PT perdeu o tempo do programa político na televisão, cassado pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE).
Apesar de rechaçar a pressão por cargos em troca do apoio a Haddad, Dilma até aceita esse tipo de negociação, desde que conduzida à sua maneira. Foi assim com a nomeação na semana passada do senador Marcello Crivella (PRB-RJ) para o Ministério da Pesca, abrindo a porta para um acordo que retire a candidatura de Celso Russomanno em São Paulo. Crivella é interlocutor de confiança do Planalto e sua escolha foi considerada adequada.
Com o PR, a ideia é a mesma. Dilma até pode mexer no comando Ministério dos Transportes, desde que o indicado seja de sua confiança e a escolha seja feita no tempo em que ela considera ideal. No caso, o plano da presidente seria o de colocar o senador Blairo Maggi (PR-MT) no primeiro escalão. O problema é que Blairo sempre resiste a aceitar o convite.