Jornal Estado de Minas

Presidente da Fifa pede desculpas por declarações e quer se reunir com Dilma

Joseph Blatter disse estar "preocupado" com o que classificou como "deterioração" da realação entre o país e a entidade que, segundo ele, sempre foram parceiros

Marcelo Ernesto - Enviado especial a Curitiba
O presidente da Federação Internacional de Futebol (Fifa), Joseph Blatter, enviou carta, nesta terça-feira, ao ministro do Esporte, Aldo Rebelo, pedindo desculpas pelas declarações do secretário-geral da entidade, Jérome Valcke. No documento, o presidente da federação se disse bastante preocupado com a “deterioração da relação entre a Fifa e o governo brasileiro”. Blatter aproveitou para pedir uma reunião com a presidente Dilma já na próxima semana. O estranhamento entre governo e Fifa começaram na sexta-feira quando Valcke disse que o Brasil precisava de “um chute no traseiro” por causa de atrasos nas obras da Copa de 2014. A fala causou a reação de líderes do governo e do ministro, que enviou uma carta a Blatter nessa segunda-feira, pedindo o afastamento do secretário-geral das negociações com o Brasil.
Na carta, além de pedir desculpas, o presidente da Fifa ressaltou que sempre houve uma relação de respeito mútuo entre o governo e a entidade e que ambos possuem uma meta em comum que é “organizar uma Copa do Mundo extraordinária no país do futebol”. “Como presidente da Fifa e pessoalmente, meu único comentário com relação a esse assunto é pedir desculpas a todos aqueles que tiveram sua honra e orgulho feridos, em especial o governo brasileiro e a presidente Dilma Rousseff”, declarou.

Apesar do clima de gentilezas e pedidos de desculpas, Blatter não deixou de chamar atenção, de leve, para a necessidade de trabalho em conjunto sem perder tempo para construir “algo maior”. “Todavia, o tempo está passando desde 2007. Por isso, não deixemos que conflitos nos façam perder tempo. Ao invés disso, trabalhemos juntos para construir algo maior, como prometido pelo presidente Lula durante seu mandato”, afirmou.

Nessa segunda-feira, logo após o ministro Aldo Rebelo encaminhar seu pedido para que Valcke fosse substituído, o próprio secretário enviou um pedido formal de desculpas ao ministro. Ele disse que lamenta “profundamente” a interpretação incorreta de suas declarações. Segundo o secretário-geral da Fifa, em francês, a expressão "um chute no traseiro" significa “apenas acelerar o ritmo”. “Gostaria de pedir desculpas ao senhor e também a qualquer pessoa que tenha se sentido ofendida com as minhas palavras. Há certamente um ar de preocupação na Fifa e, sendo eu, em última análise, a pessoa responsável por essa Copa do Mundo, estou sob bastante pressão”, diz o secretário na carta. Valcke destaca ainda que sente “imenso respeito e admiração” pelo Brasil.

Nessa segunda-feira, o presidente da comissão especial que analisa a Lei Geral da Copa, deputado Renan Filho (PMDB-AL), classificou como “inadmissível” a declaração. Em nota, Renan Filho chamou ainda de "insultuosa, descuidada e inapropriada" a manifestação de Valcke. O presidente do Senado e do Congresso Nacional, José Sarney (PMDB-AP), também desqualificou as críticas e disse que a fala de Jérôme é uma “intromissão grosseira”.

Hoje, o presidente da Câmara, Marco Maia (PT), disse que, após o pedido de desculpas, não há mais motivos para exigir a substituição de Valcke como interlocutor da Fifa nos assuntos relativos à Copa. O presidente da Câmara sugeriu ainda que o ministro do Esporte, Aldo Rebelo, releve as declarações de Valcke. E usou uma expressão típica do futebol para minimizar a crise. “Ele (Valcke) levou um cartão vermelho e vai ter que cumprir a suspensão automática. Temos que relevar. Algumas palavras precisam ser desconsideradas".

Leia a carta de Joseph Blatter na íntegra:
- Foto: Reprodução Ministério do Esporte