Jornal Estado de Minas

Temer adere a manifesto contra PT e admite pressão nas eleições municipais

Gabriel Mascarenhas Juliana Braga
Brasília – O presidente da República em exercício, Michel Temer, aderiu ao manifesto dos insatisfeitos do PMDB que protestam contra o projeto do PT de usar uma "ampla estrutura governamental" para ultrapassar os peemedebistas em número de prefeituras. Ele acatou o pedido dos deputados para intermediar uma solução com o governo. O líder do partido na Câmara, Henrique Eduardo Alves (RN), sugeriu que seja marcada uma reunião com as ministras das Relações Institucionais, Ideli Salvatti, e da Casa Civil, Gleisi Hoffmann, para passar ao governo as insatisfações do partido.
Em manifesto assinado por 53 dos 76 parlamentares da sigla na Câmara, o grupo afirma que a relação do PT e do PMDB com o Planalto é “desigual e injusta”. Os deputados argumentam que a lealdade ao governo não vem sendo compensada. O documento é endereçado a Temer, ao presidente do partido, Valdir Raupp (SC), a Henrique Eduardo Alves e ao líder da sigla no Senado, Renan Calheiros (AL).

Além de dar razão aos queixosos que lhe entregaram o documento ontem à tarde, Temer reconheceu que a pressão do PT sobre o PMDB é grande e, citando São Paulo, disse que não recuará: "O Gabriel Chalita (candidato do PMDB a prefeito da capital) vai até o fim". "Temos que trabalhar para eleger o maior número de prefeitos", conclamou Temer, declarando-se "defensor da liberdade das coligações" nas disputas municipais. Ele admitiu que o PT tem mais facilidade de acesso a programas e recursos do governo para as bases e prometeu buscar um "tratamento mais igualitário".

Apesar do manifesto, Raupp negou que haja crise e afirmou ainda não ver necessidade de levar as demandas à presidente Dilma Rousseff. “O que os deputados apresentaram foi uma proposta de contribuição para o partido”, tentou justificar.

Descontentes em casa O PMDB também enfrenta problemas dentro de casa. O descontentamento de parlamentares do partido no Senado com Renan Calheiros põe a bancada no caminho para a cisão. Pelo menos 10 dos 18 senadores da legenda não escondem mais a insatisfação. Eles acusam Renan de se aproveitar da proximidade com o Palácio do Planalto, prerrogativa que a liderança lhe garante, para trabalhar pelos seus interesses, em detrimento dos objetivos da bancada.

O senador Vital do Rêgo (PB) já havia se queixado com o líder do governo, Romero Jucá (PMDB-RR), e disse a correligionários que vai procurar o presidente do Senado, José Sarney (AP), principal aliado de Renan, além do próprio líder peemedebista, para avisar que não aceitará mais as orientações dos dois caciques.

Na semana passada, o partido conseguiu adiar a recondução de Bernardo Figueiredo ao cargo de diretor-geral da Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT), que seria votada no plenário. Embora o senador Roberto Requião (PR) tenha apresentado o pedido de adiamento, o bloco dos descontentes afirma que se trata de mais um drible de Renan, com objetivo de alçar um de seus apadrinhados políticos ao posto.

“Ele usa a liderança para colocar gente dele em todos os lugares. Isso vai se refletir em algum momento. O clima está muito ruim, mas o caldo só entorna na hora do voto e, dessa vez, vai entornar. No fim deste ano, começaremos a debater sucessão da Mesa (Presidência do Senado), escolha de liderança do partido, liderança do governo...”, ameaçou um peemedebista.