(none) || (none)
UAI
Publicidade

Estado de Minas

Dia Internacional da Mulher: balconista testemunhou café com prosas políticas em BH

Nos últimos 36 anos, Sônia Borges Moreira Gomes teve um balcão privilegiado em plena Praça Sete para ouvir e até apertar a mão dos principais candidatos em campanha na capital


postado em 08/03/2012 06:00 / atualizado em 08/03/2012 13:02

Soninha, como é mais conhecida, diz que mesmo fora do período de campanha eleitoral, a política é o assunto predominante dos clientes(foto: Gladyston Rodrigues/ EM/D.A Press )
Soninha, como é mais conhecida, diz que mesmo fora do período de campanha eleitoral, a política é o assunto predominante dos clientes (foto: Gladyston Rodrigues/ EM/D.A Press )

Ela conheceu Tancredo Neves (PMDB), Ulysses Guimarães (PMDB), Fernando Collor de Melo (PTB), Luiz Inácio Lula da Silva (PT), Dilma Rousseff (PT), Aécio Neves (PSDB), José Sarney (PMDB), Antonio Anastasia (PSDB), Marina Silva (PV) e Itamar Franco (PPS). Todos em pleno local de trabalho. Atrás do balcão, servindo cafezinho, em um dos mais tradicionais pontos de encontro de políticos na capital mineira, o Café Nice, Sônia Borges Moreira Gomes, de 54 anos, é personagem da cena política do país. Em poucos minutos de conversa com Soninha, como é chamada pelos clientes, é fácil perceber que ela entende do assunto. "Acabei aprendendo um pouco ouvindo as conversas aqui", confessa.

Nascida no Bairro Salgado Filho, Região Oeste de Belo Horizonte, a balconista chegou ao café nos últimos anos da ditadura militar, em 1976, quando só homens frequentavam o local. Soninha tinha 18 anos. A participação das mulheres na política cresceu, o movimento feminista ganhou força e o perfil dos clientes do café também mudou. Nas eleições de 2010, num fato inédito, Soninha atendeu duas fortes candidatas à Presidência: Dilma e Marina Silva. "Tivemos de sair correndo pelo Centro da cidade para comprar um chá de camomila para a Marina porque ela não toma café", conta. Ela diz que em dias de campanha o local fica cheio e é dificil conversar e até ouvir o que os políticos dizem. Apesar de não ter trocado palavras com Dilma, Soninha garante ter, de longe, percebido a força da presidente, que pediu a ela um café preto com adoçante. "As mulheres são o sexo forte e não o frágil e a presidente está mostrando isso na política. Eu, por exemplo, pago as minhas contas e cuido da casa sozinha", ressaltou.

Apesar de afirmar gostar muito de Dilma e do ex-presidente Lula, que para Soninha melhoraram a qualidade de vida dos pobres, é com Aécio Neves que a balconista queria tomar um café. Com açúcar, como ele prefere. Aécio ia ao Café Nice todos os sábados quando era deputado, acompanhado dos ex-ministros Leopoldo Bessone (PTB) – da Reforma de Desenvolvimento Agrário no governo José Sarney – e Pimenta da Veiga (PSDB), das Comunicações do governo Fernando Henrique Cardoso. Na última eleição, quando o tucano concorreu ao senado, Soninha apertou a mão dele e disse que o queria na presidência. Aécio respondeu: "Não vou sair candidato dessa vez, mas na próxima vou concorrer à presidência". Soninha conta que não era comum, na época de Tancredo, Ulysses e Collor os políticos conversarem ou até cumprimentarem as atendentes. "Isso mudou. Eles agora apertam a nossa mão, às vezes dão uma palavrinha, um sorriso", compara.

Do lado de fora Soninha é viúva e tem duas filhas, Carla, de 28 anos, e Sandra, que completa 25 hoje. Ela pega no batente às 6:30h e deixa o serviço às 15h. Além de servir café, fica uma hora no caixa, durante a troca de turno dos chefes. A reportagem chegou quase na hora do almoço, quando ela atendia um cliente. "Espere um pouco que converso com vocês aqui mesmo. Deixa eu só tomar o meu remédio (ela usa insulina para controlar o diabetes)", pediu. Um pouco desconfiada, como todo mineiro, Soninha só se soltou depois de quase uma hora de entrevista quando voltou ao fundo do estabelecimento, tirou o uniforme e a touca e passou batom para tirar fotos.

A balconista contou que depois que tira a roupa do Café Nice também deixa os políticos e a política para trás. "Não acompanho muito de fora daqui", disse. Hoje, o parlamentar mais assíduo – "frequenta diariamente o café" – é o vereador Alberto Rodrigues (PV), com quem ela gosta de conversar sobre futebol "Fala-se muito de política aqui. Tem muita gente que entende. Às vezes as discussões são acaloradas, quase sai briga", afirma, acrescentando que muitos assessores parlamentares se entregam ao debate depois de sorver o tradicional cafezinho.

Prata da casa


Na parede do Café Nice, entre fotos de ex-presidentes, ex-governadores e ex-prefeitos, destaca-se a imagem da ex-vereadora de Belo Horizonte Ana Paschoal (PT). Diferentemente das outras fotos, onde os políticos aparecem tomando café, Ana está atrás do balcão, de uniforme. Ela trabalhou no estabelecimento, que funciona há 73 anos, de 1964 a 1970. Os ex-colegas contam que foi lá que Ana Paschoal começou a se interessar pela política e conheceu pessoas influentes no meio que a ajudaram a se candidatar à Câmara Municipal, onde foi vereadora de 2001 a 2008. Antes de assumir o cargo, com a ajuda de amigos que conheceu no café, Ana voltou a estudar e trabalhou em creches comunitárias. Hoje ela é diretora da Ceasa Minas.

 

 


receba nossa newsletter

Comece o dia com as notícias selecionadas pelo nosso editor

Cadastro realizado com sucesso!

*Para comentar, faça seu login ou assine

Publicidade

(none) || (none)