Depois da garantia do senador Delcídio do Amaral (PT-MS) de que o projeto para acabar com a farra dos salários extras vai à votação no próximo dia 20, a maioria dos senadores que integra a Comissão de Assuntos Econômicos (CAE) fugiu do tema. Levantamento realizado pelo Estado de Minas, desde terça-feira da semana passada, aponta que, dos 27 integrantes da comissão, 14 preferiram não se manifestar sobre o assunto e 11 declararam ser contra o recebimento dos rendimentos adicionais. O senador Ivo Cassol (PP-RO) foi o único que admitiu abertamente o desejo de continuar ganhando dois salários a mais do que qualquer trabalhador brasileiro. O senador Luiz Henrique (PMDB-SC) estava se recuperando de uma cirurgia e, por isso, não falou.
A maioria dos 27 senadores alega não poder emitir opiniões sobre o tema por não conhecer o projeto. É o caso, entre outros, do senador Lobão Filho (PMDB-MA), vice-presidente da CAE. Ele sustenta que “ainda” não tem uma definição sobre o assunto porque não teve tempo de analisar a proposta, apresentada há mais de um ano pela então senadora e atual ministra da Casa Civil, Gleisi Hoffmann.
A justificativa de Lobão Filho esbarra no fato de tratar-se de um texto de apenas duas páginas, que pode ser lido em poucos minutos. O senador Aloysio Nunes (PSDB-SP), ao ser procurado, alegou que precisava ler antes o projeto. Depois de fazer isso, ele se posicionou favoravelmente à eliminação dos pagamentos.
Há casos esdrúxulos, como o do senador João Vicente (PTB-PI). O gabinete do parlamentar disse que o senador votaria “a favor do que o plenário aprovasse”. Quando a reportagem insistiu para que João Vicente se posicionasse, a assessoria respondeu que ele poderia ser “o último a votar”, para acompanhar a decisão da maioria.
Para o cientista político Ricardo Caldas, os senadores que alegam estar “refletindo” sobre o tema estão, na verdade, esquivando-se do ônus de defender a manutenção dos benefícios. “Os 14 que não se posicionaram são todos a favor de manter os salários extras, mas não têm coragem de falar”, avalia. O professor teme que, caso a sociedade não fiscalize a aprovação do projeto, os parlamentares acabem rejeitando o texto. Segundo a secretaria-geral do Senado, a apreciação do projeto em questão é feita por voto aberto, a não ser que um dos senadores apresente um requerimento definindo que o voto seja secreto. Nesse caso, a escolha de cada parlamentar não seria conhecida pelo público. “Se na hora da votação não houver fiscalização, eles devem manter os salários. Caso o voto seja aberto é diferente, porque o ônus político de rejeitar um projeto desses é muito grande”, acredita Caldas.
Fique de olho
27 senadores integram a CAE
14 não se posicionaram
11 são contra os salários extras
1 é a favor
1 não falou por problemas de saúde
Não se posicionaram
Delcídio do Amaral (PT-MS)
Humberto Costa (PT-PE)
Lídice da Mata (PSB-BA)
Vanessa Grazziotin (PC do B-AM)
Valdir Raupp (PMDB-RO)
Roberto Requião (PMDB-PR)
Lobão Filho (PMDB-MA)
Francisco Dornelles (PP-RJ)
Flexa Ribeiro (PSDB-PA)
José Agripino (DEM-RN)
Demóstenes Torres (DEM-GO)
Armando Monteiro (PTB-PE)
João Vicente Claudino (PTB-PI)
João Ribeiro (PR-TO)
* o senador Luiz Henrique (PMDB-SC) não falou por problemas de saúde
Contra os salários extras
Eduardo Suplicy (PT-SP)
José Pimentel (PT-CE)
Lindbergh Farias (PT-RJ)
Acir Gurgacz (PDT-SC)
Casildo Maldaner (PMDB-SC)
Eduardo Braga (PMDB-AM)
Eunício Oliveira (PMDB-CE)
Aloysio Nunes (PSDB-SP)
Cyro Miranda (PSDB-GO)
Clésio Andrade (sem partido-MG)
Kátia Abreu (PSD-TO)
A favor dos salários extras
Ivo Cassol (PP-RO)