Manter-se com o poder de aprovar ou rejeitar as contas de câmaras municipais, prefeituras e do estado, recebendo R$ 26 mil por mês em um cargo durante mais 19 anos, ou se lançar na disputa pelo comando de um município de 130 mil habitantes com R$ 14 mil por mês? Seguir afastado da política ou tentar ser o salvador de uma tradicional família que vem perdendo espaço na vida pública? O presidente do Tribunal de Contas do Estado de Minas Gerais (TCE-MG), Antonio Carlos Andrada, tem até o início de junho para decidir se continua no cargo ou se concorre à Prefeitura de Barbacena, no Campo das Vertentes, onde correligionários já colocaram na rua uma pré-campanha batizada de “Volta Toninho”.
O lançamento de Andrada para o governo da cidade tem dois objetivos. Derrotar Danuza Bias Fortes (PMDB), que não é apenas a atual prefeita mas, principalmente, integrante de uma família que há cerca de 90 anos se digladia com parentes do conselheiro pelo poder na cidade. A outra meta é reerguer os Andradas no cenário estadual. O pai de Antonio Andrada, o deputado federal Bonifácio Andrada (PSDB), ficou como quarto suplente nas eleições de 2010, e só assumiu o cargo com a convocação de quatro parlamentares de sua coligação para o secretariado do governador Antonio Augusto Anastasia (PSDB). O patriarca, de 82 anos, articula para se lançar ao Senado ou integrar chapa como vice-governador na disputa pelo Palácio da Liberdade em 2014.
Um dos irmãos de Antonio Andrada, Martim Andrada (PSDB), governou Barbacena entre 2005 e 2008, mas perdeu a reeleição para Danuza. A avaliação na cidade hoje é que o tucano não tem condições de entrar em novo embate com a prefeita. Outro irmão do presidente do TCE, o deputado estadual Lafayette Andrada (PSDB), tem nicho eleitoral em Juiz de Fora, na Zona da Mata. O parlamentar foi secretário de estado de Defesa Social, mas o governador pediu o cargo há duas semanas, depois da divulgação do aumento dos índices de criminalidade no estado. Somente de assassinatos, o crescimento foi de 22,1%.
Abaixo-assinado
Na quarta-feira, Antonio Andrada recebeu no gabinete no TCE um abaixo-assinado com 10,6 mil nomes de adeptos do “Volta Toninho”. Conforme a legislação, o prazo para desincompatibilização de conselheiros e magistrados é menor, quatro meses antes do pleito. Em 2012, o primeiro turno das eleições municipais será em 7 de outubro. Secretários de estado, por exemplo, têm que deixar o cargo em abril.
Por exercer o posto, Andrada não pôde permanecer filiado a um partido. Antes de assumir o cargo no TCE, disputou as duas eleições para deputado estadual pelo PSDB. O presidente do tribunal afirmou apenas ter recebido o abaixo-assinado e que pretende discutir com o governador, o presidente da Assembleia, Dinis Pinheiro (PSDB), e o procurador-geral de Justiça, Alceu José Torres Marques, antes de tomar uma decisão. “É uma questão de gentileza. Fazemos um trabalho em conjunto”, diz. Caso vença a eleição, Andrada perde o foro de conselheiro, que se equivale ao dos desembargadores.
Na hipótese de aceitar a candidatura a prefeito de Barbacena, Adriene Andrade, vice-presidente do TCE e mulher do senador Clésio Andrade (PMDB), deverá assumir a presidência do tribunal. Apesar de a escolha ser feita em eleição com o voto dos sete conselheiros, existe um acordo entre o grupo para que a cadeira ocupada por Adriene seja a próxima indicada à sucessão de Andrada. Conforme o regimento do TCE, a eleição acontece 15 dias depois da renúncia do presidente.
Memória
Verdade ou mito?
A influência dos Andradas e dos Bias Fortes em Barbacena remonta à última metade do século 19. Tudo começou com uma aliança entre as duas famílias, que passaram a comandar a vida política local. No entanto, com a Revolução de 1930 e o surgimento de novos líderes estaduais e municipais, foi inevitável a ruptura entre os grupos. Desde então, a cidade mineira se tornou palco de acordos, disputas e conchavos por poder. Seus solares se tornaram templos políticos, onde de um lado estava uma influente família presente em vários momentos da história brasileira – o que inclui o processo de independência do Brasil – e do outro uma oligarquia local cuja história se confunde com a ocupação da região. Mas há quem diga que a rivalidade entre os dois grupos é um mito, uma vez que eles apresentavam ideias conservadoras semelhantes e dificultaram a ascenção de outros líderes e ideais políticos locais.