Chefe da direção de assuntos atômicos da Chancelaria de Buenos Aires, Gustavo Ainchil falou sobre o temor argentino à embaixadora americana Vilma Martínez. Amparado em sua “imensa popularidade”, Lula adotou uma política externa “arriscada”, analisou o argentino. Além do Irã e da missão em Pyongyang, Ainchil cita o fato de o Brasil ser “o único Bric” sem a bomba atômica - em 2009, a África do Sul ainda não integrava o grupo. Ainchil diz que há “certo alívio” na Argentina com o iminente fim do governo Lula. “Nenhum sucessor tentará manter uma política externa tão arriscada.”
Preocupação
Antes dessa conversa, outro diplomata argentino, não identificado, havia procurado a Embaixada dos EUA em Brasília com a mesma mensagem de preocupação. O despacho revelado pelo WikiLeaks foi enviado dois meses após o vice-presidente José Alencar ter defendido uma arma nuclear brasileira, o que “daria mais respeitabilidade” ao País. Procurados pela reportagem, os governos da Argentina, EUA e Brasil não quiseram se pronunciar oficialmente.
A Argentina chegou a pensar numa resposta a uma eventual retirada do Brasil da agência argentino-brasileira de controle nuclear (ABACC) ou mesmo na possibilidade - “improvável” - de o País fabricar a bomba. Os argentinos, então, buscariam “desenvolver tecnologia nuclear pacífica avançada para mostrar sua capacidade, mas sem seguir o caminho todo até a bomba”.
Federico Merke, da universidade argentina de San Andrés, diz que o cabo do WikiLeaks “é uma boa descrição da incerteza que existe entre funcionários e analistas argentinos”. “O Brasil não é visto como um país que logo terá a bomba, mas como um Estado que não termina de tornar transparente seu programa nuclear”, afirmou.