Jornal Estado de Minas

Moradores de duas cidades disputam qual melhor homenageia Juscelino Kubitschek

Moradores de duas cidades emancipadas há quase 50 anos travam uma disputa inusitada

Daniel Camargos
Presidente Juscelino e Presidente Kubitschek – Um caixão chegou de Curvelo e foi deixado com o corpo no velório municipal de Presidente Juscelino, Região Central de Minas. O tempo passou e ninguém foi velar o defunto. Alguns, mais curiosos, pediram ao funcionário da funerária para conferir as informações. O rapaz, novato na função, percebeu que havia feito uma grande confusão. Havia levado o corpo para a cidade errada. Enquanto isso, em Presidente Kubitschek, distante 80 quilômetros, os familiares do defunto aguardavam o corpo para começar o velório.
A confusão não ocorre apenas em ocasiões fúnebres. Ela é corriqueira e vitima entregadores e correspondências que aportam erroneamente nas duas cidades mineiras cujos nomes prestam homenagem a Juscelino Kubtischek. Mais do que os desencontros, as duas cidades, que foram emancipadas em dezembro de 1963, disputam a primazia da homenagem. Os moradores ostentam uma memorabilia diversificada, que inclui cartas enviadas por JK, retratos imortalizados na parede com o sorridente político ladeado de cidadãos locais e histórias que tentam aproximá-los da imagem de Juscelino.

Porém, quando questionados sobre quem veste mais a camisa de JK nem o tom conciliatório do político apazigua a rivalidade. Grupos, principalmente de mais jovens, de Presidente Kubitschek se referem à outra cidade como “Preju”. Os juscelinenses não fazem por menos e cravam para os kubitschekanos um apelido no mesmo nível: “Preku”. Ambas são próximas a Diamantina, no Vale do Jequitinhonha, terra natal de JK. Presidente Kubitschek está distante 53 quilômetros e Presidente Juscelino 82 quilômetros. Para ir de uma até outra é preciso passar por duas cidades: Datas e Gouveia.

Quando conversam entre si muitos moradores não dizem o nome pomposo – e muito comprido – que homenageia JK. Mineiramente recorrem aos nomes antigos e permanecem chamando Presidente Kubitschek de Tejucal e Presidente Juscelino de Paraúna, nomes dos distritos antes da emancipação. “Ultimamente Tejucal está mais caprichado”, afirma o aposentado Alvacir de Oliveira e Silva, de Presidente Kubitschek, quando perguntado qual das duas prefere. “Aqui em Paraúna tem mais emprego. Muita gente de Tejucal veio de lá para morar aqui”, conta o professor de português Lauro da Cunha Monteiro, de Presidente Juscelino, puxando a sardinha para seu lado. O curioso é que em nenhuma das cidades há uma estátua ou um busto para homenagear aquele que lhes empresta o nome.

Memória
Homenagens em série
- Foto: Marcos Michelin/EM/D.A PRESS
Nascido em Diamantina, JK, como ficou conhecido, ocupou a Presidência da República de 1956 a 1961. Também foi prefeito de Belo Horizonte, governador de Minas Gerais, deputado constituinte e, por último, senador por Goiás até ser cassado pelos militares em 1964. Morreu em um acidente de automóvel, em 1976, quando o Chevrolet Opala em que estava se chocou com uma carreta, em Resende (RJ). A atuação política lhe rendeu homenagens de municípios por todo o país. Além das duas mineiras, existem outras duas cidades Presidente Juscelino, uma no Maranhão e outra no Rio Grande do Norte. Na Presidente Juscelino mineira, um quadro com a foto do JK e a frase “Procura-se outro” pode ser visto em todos os gabinetes da prefeitura (foto).