A decepção e a indignação da população aumentam quando vem à tona que já existem soluções que amenizariam a situação e se misturam com o desânimo, quando as novas promessas são acompanhadas de repetidos atrasos.
Desde os anos 1960
Considerada a opção mais adequada para a mobilidade em grandes centros urbanos, o metrô foi prometido pela primeira vez em BH ainda no final da década de 1960, com o compromisso do então prefeito Souza Lima de construir um transporte que atravessaria a cidade em poucos minutos. Apesar de reservar boa parte do orçamento da prefeitura em 1968 e negociar verbas com bancos internacionais, a ideia não foi colocada em prática durante sua gestão. Somente em 1981, no governo de Maurício Campos, começaram as obras para o trem urbano da capital. Mas junto com elas vieram uma série de promessas não cumpridas. O então ministro Eliseu Resende, representando o presidente João Figueiredo, anunciou que, até 1983, o trem estaria funcionando, mas o início das operações foi autorizado em 1986 e a linha 1 (Eldorado-Vilarinho) só foi concluída em 2002.
As obras para a construção de uma das novas linhas, entre o a estação do Calafate e a região do Barreiro, chegou a ser iniciada em 2003. A Companhia Brasileira de Trens Urbanos (CBTU) liberou cerca de R$ 80 milhões para estudos de viabilidade no local e autorizou serviços de terraplanagem no terreno que receberia os novos trilhos, mas logo no ano seguinte os repasses foram cancelados e a obra paralisada. A inclusão do metrô da capital no Programa de Aceleração do Crescimento 2 (PAC-2) reacendeu as expectativas da população de que as duas novas linhas do metrô – que, segundo especialista, já são consideradas insuficientes para a demanda atual – possa finalmente sair do papel.
Palavra de especialista
Nilson Nunes, chefe do Departamento de Engenharia de Transportes e Geotecnia da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG)
População e economia sofrem
“Nossa cidade precisa de um conjunto de ações para melhorar as condições de mobilidade e a ampliação do metrô estaria dentro delas. Mas o que está sendo programado, com duas novas linhas, ainda será insuficiente para atender a demanda atual. Uma cidade como Belo Horizonte precisaria de 100, ou até 150 quilômetros de metrô. Hoje, o custo social desse atraso é muito alto e afeta diretamente a população e a economia da cidade. São serviços de empresas que não podem ser feitos por falta de opções para o transporte e um ar cada vez mais poluído com o excesso de veículos nas ruas. Sem dúvida, temos hoje uma matriz equivocada, que aposta as fichas na opção dos ônibus. Para vermos melhorias reais, é preciso um planejamento integrado, com equilíbrio entre as alternativas para a locomoção das pessoas.”
Campeões do desprestígio
Metrô
Valor estimado: R$ 3,1 bilhões
Estágio atual: Em setembro do ano passado, a presidente Dilma Rousseff anunciou em Belo Horizonte a nova proposta para a ampliação do metrô. Os recursos serão divididos entre os governos federal, estadual e municipal, com apoio da iniciativa privada. O início das obras está previsto para este ano e a conclusão para entre 2016 e 2017.Até o final desta semana, o Ministério das Cidades deve divulgar os projetos escolhidos para a licitação da obra e os editais serão elaborados pela prefeitura, em parceria com o governo estadual.
BR-381
Valor estimado: R$ 4 bilhões (duplicação entre BH e Governador Valadares)
Estágio atual: O novo desenho da BR-381 sonhado pelos
motoristas que passam pelo trecho prevê a duplicação da pista e a eliminação de curvas sinuosas, com redução de 13,2 quilômetros do traçado atual. O cronograma prometido pelo Dnit previa a licitação
de dois lotes da obra até dezembro de 2011, porém o processo
não foi iniciado e o órgão não sabe informar a previsão para a abertura das licitações.
De 500 a 63 mil veículos
O trecho da BR-381 que recebeu o apelido do Rodovia da Morte, entre BH e Governador Valadares, foi construído com base em um caminho usado por tropeiros para transporte de burros de cargas que viajavam da capital até João Monlevade. Ganhou asfalto na década de 1950 com previsão inicial para atender um fluxo médio de 500 veículos por dia. Hoje, o número ultrapassa em mais de 120 vezes o limite original, chegando a 63 mil carros por dia em alguns trechos da via. A defasagem estrutural é ilustrada com os números que se repetem todos os anos. Em 2009, a rodovia registrou 9.614 acidentes, com 280 mortes, e as estatísticas pioraram no ano seguinte, com 9.890 acidentes, que resultaram em 334 mortes – número que representou 25% das mortes em estradas mineiras durante 2010.
Em janeiro, o ex-diretor-geral do Dnit – demitido durante o escândalo de superfaturamento de obras geridas pelo Ministério do Transporte – afirmou que a duplicação da via começaria em agosto de 2011, porém a promessa ficou longe da realidade e o edital entrou na lista dos congelados pela pasta. A promessa foi lembrada por moradores vizinhos da rodovia, entidades civis e até artistas, que se mobilizaram para reivindicar melhorias na via. Já com a nova diretoria à frente do órgão, foi divulgado um novo cronograma que previa até dezembro o lançamento das licitações para dois lotes da duplicação, em um trecho de 70 quilômetros que seria inteiramente reformulado e teria várias curvas eliminadas. Três meses depois, o ministério não divulga qualquer informação sobre a obra e não tem previsão de quando serão lançadas as licitações. (MF)