Um dia depois de encerrada uma disputa apertada durante Encontro de Tática Eleitoral em relação à política de alianças do PT na sucessão à Prefeitura de Belo Horizonte, o partido continua a bater cabeça. Não há consenso sequer em relação ao que foi deliberado. Em entrevista coletiva ontem, o presidente municipal petista, vice-prefeito Roberto Carvalho, que defendia a tese da candidatura própria, deu a sua versão: “O PT vetou a presença do PSDB. Se o PSB não decidir até 15 de abril a exclusão do PSDB, nós retomaremos a tese da candidatura própria”. Segundo Roberto Carvalho, o PSB receberá oficialmente o resultado da resolução para que se posicione no prazo indicado.
De forma diferente interpretam a resolução aprovada no encontro o presidente nacional do PT, Rui Falcão, e o presidente estadual, Reginaldo Lopes. “Foi aprovada a coligação com o PSB e houve ponderação ao prefeito de que seria interessante não ter o PSDB. Queremos dizer com isso que o PSDB não é bem-vindo. Mas essa decisão será do prefeito. Para nós, o elemento decisivo é o de que vamos apoiá-lo”, afirmou Rui Falcão. Na mesma linha, Reginaldo Lopes assinalou: “Foram duas teses. Se apoiaríamos o PSB com o veto explícito ao PSDB na aliança ou se apoiaríamos o PSB com um veto ideológico e político ao PSDB. E ganhou a tese do veto ideológico político. Portanto, a tese de Roberto Carvalho foi derrotada”.
A polêmica promete se estender até 15 de abril, quando, em novo encontro, os delegados eleitos do PT que participaram do debate de domingo voltarão a se reunir, desta vez para a escolha do candidato a vice na chapa de Lacerda. Até lá, entretanto, haverá ainda um novo round a ser decidido: o da interpretação do que de fato foi aprovado no encontro de domingo, por uma margem bastante apertada: 53% contra 47%.
“A resolução aprovada diz textualmente: caso o PSB até o dia 15 não se manifeste pela retirada do PSDB da chapa ou da aliança, o assunto da candidatura própria será recolocado”, insistiu Roberto Carvalho. Para ele, caso o PSB não exclua o PSDB da aliança, o próximo encontro não tratará da escolha do vice, mas debaterá a candidatura própria. “O PT só sairá unido nestas eleições se o PSDB não estiver na coligação”, disse Roberto Carvalho. “Já mostramos que a unanimidade é esta: poderemos fazer aliança com o PSB, desde que não haja a presença dos tucanos na aliança. Se houver a presença dos tucanos, o partido não vai unido”, reiterou.
O vice-prefeito rechaçou o que chamou de “qualquer interferência” externa à deliberação do partido na cidade, em referência ao fato de a Executiva Nacional do PT sustentar como estratégia nacional o fortalecimento da coligação com o PSB em várias cidades brasileiras. “Não aceitamos interferência de quem quer que seja. Esperamos que a nacional ajude sim a resgatar a identidade do PT em Belo Horizonte e a fazer aliança onde não haja partidos que são adversários da presidente Dilma e do projeto do PT”, afirmou.
Leitura Depois de rebater a interpretação de Roberto Carvalho para os resultados do encontro, Rui Falcão chamou à leitura da resolução: “Não existe isso e Roberto Carvalho está afirmando por conta dele. A resolução é clara. Trata-se de cumpri-la”. Logo após o encontro municipal de domingo, houve uma reunião em São Paulo entre Lula, Falcão e o presidente nacional do PSB, Eduardo Campos, para tratar de um calendário nacional. “Há cidades em que já estaremos com o PSB no primeiro turno. Outras em que há acordo para o segundo turno. Temos um projeto nacional iniciado por Lula do qual o PSB participa. Queremos, onde for possível, estar juntos”, disse, lembrando que, de concreto, já foi reafirmado o apoio mútuo para as eleições de várias cidades do ABC paulista.
“O gesto de Belo Horizonte foi importante para o futuro”, disse Rui Falcão. O resultado foi apresentado a Eduardo Campos durante a conversa com Lula. O socialista ficou muito satisfeito. “O PSDB fez tudo para nos afastar em Belo Horizonte. Não levamos isso em conta, pois nosso objetivo é manter a aliança com o PSB em Minas”, acrescentou Rui Falcão.
Grupo Numa tentativa de retirar de Roberto Carvalho a exclusividade da interlocução sobre a sucessão de Belo Horizonte, foi eleito durante o encontro de domingo um grupo de trabalho eleitoral, com 11 membros a serem indicados segundo o peso das forças políticas. O grupo vai organizar o encontro de 15 de abril. Enquanto Roberto Carvalho ainda tenta reavivar a sua tese, os grupos que apoiaram a aliança com o PSB e a recomendação de veto ao PSDB trabalham pela indicação do vice. Os candidatos mais fortes são o deputado federal Miguel Corrêa Junior, ligado a Fernando Pimentel e com o apoio de Roberto Carvalho, o deputado estadual André Quintão, com bom trânsito em todas as correntes do PT e mais ligado a Patrus Ananias, além da candidatura do ex-deputado federal Virgílio Guimarães.
Resolução da discórdia
Os trechos que geraram controvérsia
Art. 3º – Proclamar que dentre os pontos a serem discutidos com os partidos e candidato a prefeito três deles são de natureza fundamental, portanto obrigatoriamente considerados na formação dos acordos político-eleitorais com o PT BH em 2012, a saber:b) Reiterar a não participação nessa coligação de partidos políticos que se opõem – PSDB, PPS, DEM –, ou que no curso do processo venham a se opor, ao governo Dilma Rousseff;
Art. 5º – Marcar o Encontro de Escolha de Candidatos para o dia 15 de abril, domingo.
§ 1º – fica também esta data definida como prazo limite para que os partidos e o candidato a prefeito se manifestem com clareza absoluta e antes do início do Encontro, acerca dos temas respectivos ao Encontro, já listados no Art. 3º.