Um dos pontos considerados prioritários na definição do PT de Belo Horizonte pela reedição da aliança que elegeu o prefeito Marcio Lacerda (PSB) se tornou motivo para mais um conflito com os outros partidos da união, PSB e PSDB. O PT quer fazer coligação proporcional com o PSB para as vagas na Câmara Municipal de BH. A ideia desagrada a setores do PSB na capital, que já fazem as contas de quantas cadeiras perderiam no Legislativo caso seja formada a chapa com o PT. Já os tucanos tentam puxar a corda para o outro lado, temendo o fortalecimento dos petistas na Casa, e também pedem coligação para vereador com os socialistas.
Pelas contas dos petistas, com a coligação, eles poderiam pular de seis para oito cadeiras de vereadores. Sem a chapa com os socialistas, o PT calcula perder duas vagas, o que causa arrepio aos futuros candidatos. Para os atuais parlamentares, a situação se tornou ainda mais dramática com o possível lançamento de candidaturas no próprio PT consideradas fortes, como a do filho do ex-ministro Patrus Ananias, Pedro Ananias.
Do outro lado, o presidente municipal do PSDB, deputado estadual João Leite, também diz que o partido teria interesse na coligação. Sem ela, a previsão da legenda é conquistar cinco cadeiras na Câmara. Caso saiam com o PSB, o número de vereadores eleitos poderia até dobrar. Hoje, há quatro vereadores tucanos. “Temos conversado com os dirigentes do PSB. Já aceitamos o convite para integrar a aliança pela reeleição do Marcio Lacerda e nos interessa sairmos juntos também para vereador”, diz. Nos bastidores, tucanos revelam que o PSDB até abriria mão da coligação, mas estaria fazendo pressão para não ver o fortalecimento do PT na Câmara.
Rejeição
Apesar do cortejo dos dois aliados, alguns setores do PSB não querem nem ouvir falar de coligação. Apostando na reeleição de Marcio Lacerda, eles preferem não se aliar a qualquer partido para a Câmara Municipal. Acreditam que farão sete vereadores, mais que dobrando o atual quadro de três parlamentares. Com coligações, a legenda poderia até perder uma cadeira. O tema já foi votado em plenária do diretório municipal no ano passado, quando a maioria disse “não” a aliança na disputa proporcional.
“Não é com o PT ou PSDB. Não aceitamos esse tipo de união com qualquer partido. O PSB tem uma ótima chapa de vereadores, já definida há um ano”, argumenta o vereador Daniel Nepomuceno (PSB), acrescentando que “até entende a reivindicação dos petistas”. Ele destaca que as plenárias do partido são “soberanas” e, em conversas com o aliado, eles devem se manter “firmes”. “Se for assim, vai ter de fazer coligação com qualquer partido.”
O vereador Fábio Caldeira (PSB) reforça a opinião do colega. “Sou contra qualquer coligação proporcional no Brasil”, resume. O tema já foi até tema de doutorado do parlamentar. Na tese, ele defende que o mecanismo é “um dos fatores para a fragmentação e fragilidade do nosso sistema partidário.” “Nada mais são do que um recurso usado pelas lideranças políticas para se fortalecerem e aumentarem seu cacife no processo político”, reforça. Já o presidente municipal do PSB, João Marcos Grossi, é menos enfático. “A decisão do ano passado (de não se coligar com outros partidos) é só um indicativo. Vamos conversar com o PT.”
Politiquês/português
ALIANÇA PROPORCIONAL
A coligação proporcional é um mecanismo do sistema eleitoral que soma o voto de todos os partidos coligados. Como exemplo, imagine que o quociente eleitoral necessário para se eleger um candidato é de 100 votos. Se cinco partidos receberem 40 votos cada um na soma de seus candidatos, ninguém desses partidos é eleito. Caso estejam coligados, os 40 votos são multiplicados por cinco, totalizando 200 votos e, assim, a coligação elege pelo menos dois candidatos. A coligação é só para efeito de eleição, ou seja, termina no dia da eleição, sem resultar em alianças nos legislativos.