Depois de cinco meses de tratamento contra um câncer na laringe, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva anunciou ontem que a doença está em remissão. Os exames feitos ontem indicam que não há mais vestígios de tumor. Recuperado, Lula aproveitou para anunciar também que retornará à vida política. Apesar de ele não ter se afastado da articulação do PT mesmo em tratamento, petistas apostam em uma retomada mais intensa nos próximos dias, com foco na prefeitura de São Paulo.
A tendência é de que os índices ainda baixos do ex-ministro da Educação Fernando Haddad nas pesquisas façam com que Lula priorize a eleição paulistana. Além de aparecer junto a Haddad em eventos públicos, o ex-presidente planeja participar da propaganda de televisão, aposta do PT para fazer a campanha decolar. O primeiro trabalho de Lula será dar solução para o impasse com o PSB na capital paulista. No domingo, ele esteve com o presidente nacional da legenda, Eduardo Campos. O governador pernambucano disse que não apoiará José Serra (PSDB), mas não garantiu o apoio ao PT. Lula deve interferir também na articulação de eleições em outras capitais, como Salvador e Vitória.
No vídeo gravado após receber a notícia da extinção do tumor, Lula disse que gostaria de agradecer a todos o apoio pela sua recuperação. “Vou voltar à vida política porque eu acho que o Brasil precisa continuar crescendo, precisa continuar se desenvolvendo, precisa continuar gerando emprego, gerando distribuição de renda e melhorando o nível de vida dos milhões de brasileiros que conseguiram chegar à classe media e não querem voltar atrás, e aqueles que sonham em chegar à classe média”, justificou.
30 dias de cautela O ex-presidente disse, entretanto, que voltará à militância política com reservas. “Com muito mais cuidado, muito mais maduro, muito mais calejado, pensando, em primeiro lugar, em cuidar da saúde, mas, sobretudo, continuar lutando para ver se a gente consegue melhorar a vida do povo brasileiro um pouco mais.” Petistas avaliam que Lula terá de manter a cautela por pelo menos 30 dias. Ele continua fazendo tratamento de fonoaudiologia.
Lula recebeu a notícia da remissão na manhã de ontem, no hospital Sírio-Libanês, onde esteve entre as 8h e as 10h, acompanhado apenas dos seguranças. Quem trouxe a boa nova foi o médico Roberto Kalil, acompanhado de sua equipe. Lula teria chorado ao receber o diagnóstico. Em seguida, ligou para a esposa, Marisa Letícia; para a presidente Dilma Rousseff; e para o presidente da Câmara dos Deputados, Marco Maia (PT-RS), a quem incumbiu a tarefa de transmitir a notícia. Ele pediu ao deputado gaúcho, em especial, que desse a notícia aos líderes na Câmara do PT, Jilmar Tatto (SP), e do governo, Arlindo Chinaglia (SP). Maia disse que não conversou com Lula sobre campanha, mas que não tem dúvidas de que ele entrará de cabeça na campanha assim que estiver restabelecido.
Dilma comemora
A presidente Dilma Rousseff ficou radiante com a notícia. Antes de sair para o jantar com os presidentes dos Brics, em Nova Délhi, a presidente recebeu um telefonema de Lula, que lhe comunicou o resultado. "Falei com ele, está tudo superado", comentou a presidente, que esboçava um sorriso. "De uma certa forma, eu já esperava essa notícia. Mas, ter certeza é muito bom, né, gente?", declarou.