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Estado de Minas

Afinidade com governo e oposição garante a Gilberto Kassab papel de destaque em 2014


postado em 01/04/2012 08:22 / atualizado em 01/04/2012 08:31

(foto: Thais Ribeiro/Brazil Photo Press/Folhapress)
(foto: Thais Ribeiro/Brazil Photo Press/Folhapress)
Ele é detentor de uma bancada de 55 deputados na Câmara dos Deputados. Tem laços políticos do PSDB de José Serra ao PT de Dilma Rousseff e Lula. Com esses trunfos, o prefeito de São Paulo, Gilberto Kassab, é visto hoje como um dos poucos livres para seguir qualquer caminho em 2014. “E se Dilma estiver bem avaliada, por que não apoiá-la?”, diz ao Estado de Minas, abrindo o leque de opções. Na entrevista, concedida na sede da prefeitura, ele descarta, desde já, uma terceira via ao PT e ao PSDB, formada por ele e o governador de Pernambuco, Eduardo Campos (PSB). Mas, quando deixar a prefeitura, daqui a nove meses, Kassab pretende cuidar do partido e exercer alguma atividade de estado em São Paulo caso José Serra saia vencedor. O que o senhor fará quando deixar a prefeitura em 2013? Como vou continuar na vida pública, gosto da vida pública, terei uma atuação partidária. Mas também quero ter uma atuação que não seja apenas vinculada a partido. E isso vai depender das circunstâncias, das eleições deste ano. Como assim? Com o Serra ganhando as eleições, e acho que ele vai ganhar as eleições, posso contribuir com algum projeto no campo social. Não vou fazer parte do governo, mas isso vai preencher a vontade de estar numa atividade pública que não precisa estar diretamente ligada ao governo, uma atividade de estado, de apoio, de colaboração e contribuição. No entanto, é muito difícil fazer qualquer afirmação antes de termos o resultado das eleições deste ano. Os resultados é que definem os espaços mais fáceis de serem ocupados, e vou ocupar um espaço desses, espero, onde for convidado. São Paulo está sendo vista como a única eleição capaz de influir no cenário nacional de 2014. O fato de o senhor apoiar José Serra não retorna o senhor ao leito oposicionista para 2014? Primeiro, acho um grande equívoco essa questão de vincular o resultado das eleições em São Paulo à sucessão presidencial. Até porque, em 2008, venci as eleições para prefeito. Em 2010, o Serra perdeu a eleição para presidente. O Lula, em 2008, perdeu a eleição de prefeito e, em 2010, elegeu a Dilma presidente. Cada eleição fala por si só. O tempo passa, as circunstâncias mudam, e o que está em jogo este ano aqui é a eleição da cidade. Eu, todos sabem, apoio o Serra não apenas por lealdade, mas também por convicção. Entendo que é um dos homens públicos mais bem preparados do país. Ele vencendo, teremos um prefeito que já conhece todos os problemas, que já resolveu vários dos problemas da cidade. Essa é a  razão do meu otimismo com a sua vitória e o meu entusiasmo com a candidatura. E qual é esse projeto que o senhor vislumbra? É difícil saber com tanta antecedência. Precisamos esperar o resultado das eleições municipais, as circunstâncias municipais, o desempenho da presidente Dilma, do seu governo. Se Dilma tiver um bom desempenho, por que não apoiá-la? Vamos ter muita isenção nessa análise. Quais problemas estão resolvidos em São Paulo? Os problemas se resolvem por partes. A saúde, por exemplo, não está resolvida em lugar nenhum do mundo. Mas muitos avanços que aqui ocorreram tiveram a participação do Serra. Ele, por ter ocupado o cargo de ministro da Saúde, um dos melhores que o Brasil já teve, conhece bem políticas públicas. O fato de o senhor apoiar José Serra hoje não significa que o senhor seguirá com os tucanos em 2014... De maneira alguma. Temos um compromisso assumido com todos aqueles que vieram para o PSD, que se somaram a um projeto iniciado, num primeiro momento aqui, em São Paulo. Depois, a ideia se consolidou. O partido nasceu na Bahia, com o vice-governador Otto Alencar, em parceria com o governador Jaques Wagner. Portanto, um partido que tem companheiros que vieram de uma campanha presidencial apoiando a Dilma. Outros, como eu, que vieram no apoio ao Serra, não podiam ter engessadas suas posições políticas ao longo de 2012, 2013 e 2014. Até 2014, seremos independentes. Independente não significa que não possa votar com o governo. Aliás, sempre digo, o natural é que na maior parte dos projetos que o governo encaminhar ao Congresso haja nosso apoio, porque não é possível que um governo queira encaminhar projetos que entenda serem ruins para o país. A oposição sempre tem uma predisposição para votar contra. Falo predisposição porque tinha uma divergência séria com o DEM no passado, que votava sempre contra. O senhor acredita em chapa pura do PSDB aqui em São Paulo? Em princípio, a minha sensibilidade política diz que não seria positivo. Existe uma tradição no Brasil, de que a aliança também é traduzida na composição da chapa. Se tem uma aliança de quatro, cinco, seis partidos, colocar o prefeito e o vice da mesma legenda não é natural. Serra saberá avaliar isso, tem o maior interesse na própria vitória, na representatividade da chapa. A sua decisão será a nossa. Mas, em princípio, acho que não é esse o melhor encaminhamento. A presidente Dilma enfrenta dificuldades políticas em Brasília. O senhor é visto como um exímio articulador. Que conselho o senhor daria a ela? Ela se revelou com muito talento administrativo e político. Tanto é que se elegeu presidente da República. Mas, ela teve o apoio do presidente Lula... Quem não tem talento político não se elege presidente da República. Ela saberá fazer ao longo do tempo os ajustes necessários. Até porque, na administração pública, o administrador jamais encontra uma solução e diz: ‘Tá resolvido’. No dia seguinte, essa mesma solução já tem que passar por ajustes. A presidente saberá fazer esses ajustes. Tenho plena confiança na sua sensibilidade. Não estou entre aqueles que entendem que ela está indo num processo irreversível de afastamento da classe política. Hoje, em Brasília, já se fala numa carreira solo PSB-PSD, com Eduardo Campos candidato a presidente e o senhor como vice... Não acredito nesse projeto. Acredito que, para 2014, o quadro já está no rumo. Uma candidatura do PT, outra do PSDB. Não posso dizer quem vai ser. Do PT, acho que será a Dilma. Do PSDB, não sei. Só posso afirmar que não será o Serra. Por quê? E se ele quiser ser candidato a presidente? Ele não será. Afirmo que não será. Tenho condições, melhor do que muitos, de afirmar isso, porque é para minha sucessão, é o nosso candidato, tenho assistido a depoimentos dele, a conversas dele. A garantia é total e absoluta. É zero a chance. Ele abandonou o projeto de presidente da República. Ele fez uma opção de vida, de voltar todas as energias para a cidade de São Paulo. Isso, para nós, é um grande ganho. Ele está muito motivado. Nunca negou que tinha o sonho de ser presidente da República, aliás, legítimo, por sua formação, sua experiência na vida pública. Mas todos nós temos sonhos que não alcançamos. Serra hoje não tem mais esse sonho. Sabe que não será presidente. E isso não diminui em nada a carreira que ele tem. Então, o presidenciável do PSDB é Aécio Neves? Na minha visão, é o provável candidato do PSDB. Mas estamos no campo da probabilidade. O partido irá fazer as suas prévias, não sou do PSDB. É mais fácil eu me manifestar em relação ao PT, porque a Dilma é a presidente. É natural que seja candidata à reeleição. Seria um atrevimento me manifestar em relação a qualquer outro partido. Mas, ouve-se muito em Brasília, entre os políticos, que ela é difícil, que com ela não dá... Não vejo a Dilma afastada da classe política, nem hoje nem amanhã. Em relação ao PSDB, é natural o Aécio se consolidar. É natural, mas não é definido. O Brasil caminha para ter uma candidatura com Dilma representando o governo e Aécio, a oposição. Como o retorno do presidente Lula para a campanha influencia a disputa? Paulistana e brasileira, né? Vejo com muito entusiasmo. Sua vinda só contribui para a nossa democracia, apoiando seus candidatos, ganhando em alguns lugares e perdendo em outros. Isso não quer dizer que os candidatos se sintam vitoriosos. Na eleição municipal, principalmente, o que pesa muito é o candidato, o conhecimento que ele tem dos problemas da cidade, o sentimento que desperta nas pessoas de capacidade, de possibilidade de composição de equipe de excelência, ainda mais numa cidade como São Paulo. Que candidato não gostaria de ter o apoio do presidente Lula, com a sua dimensão, com a sua credibilidade? Mas não é o que define uma eleição. O que pesa é a qualidade do candidato.


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