Durante o encontro, Dilma reforçou a preocupação do Brasil com o tsunami monetário provocado pelos países desenvolvidos. Ela tocou no assunto mais de uma vez durante o discurso dos presidentes no Salão Oval da Casa Branca. Depois de se reunir com Obama, a presidente afirmou que ambos estão preocupados com a crise internacional, que, nas palavras dela, levou instabilidade, baixo crescimento e desemprego para vários países.
Dilma cobrou do colega maior responsabilidade no enfrentamento da crise. Na avaliação da líder brasileira, é preciso que os países ricos, sob a liderança dos EUA, parem de injetar tanto dinheiro no mundo com o intuito de salvar as suas economias em detrimento das nações em desenvolvimento. Para descrever as responsabilidades de todos ante a crise e reforçar que ninguém é dono da verdade e que o o Brasil não tem divergência apenas com os EUA, ela recorreu a uma expressão muito usada em Minas Gerais, estado onde nasceu: “Não podemos acreditar, principalmente nós, as duas maiores democracias do continente, que todo mundo é ‘Joãozinho do passo certo’. Nós não somos Joãozinho do passo certo nem do passo errado.”
Segundo a presidente, Obama reconheceu que as políticas monetárias, sem políticas de expansão, provocam esse tsunami. “É imprescindível impedir que medidas protecionistas, principalmente as ligadas ao câmbio, nos afetem”, afirmou. No fim do dia, a presidente também pressionou os empresários norte-americanos a apoiarem políticas não protecionistas. “Nós queremos reiterar que o Brasil repudia todas as formas de protecionismo”, declarou.
O encontro dos dois líderes foi marcado pela quebra de protocolo. Em seus discursos, Dilma tratou Obama como presidente norte-americano para depois deste ano – ele ainda terá de passar por eleições no país em novembro para permanecer na Casa Branca por outro quadriênio. “A retomada do crescimento global passa pela retomada do crescimento norte-americano. Saudamos a grande melhoria ocorrida nos EUA e tenho certeza que isso será uma tônica nos próximos meses e anos, sob a presidência do presidente Obama”, disse Dilma. Em retribuição, ele classificou a brasileira como “parceira”. “As boas notícias são de que a relação entre Brasil e EUA nunca foi tão forte. Me sinto muito sortudo de ter neste processo uma líder tão capaz, com tanta visão, que é a presidente Dilma Rousseff.”
O americano elogiou os “progressos do Brasil” nos governos de Dilma e do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva na luta pela democracia e no combate à pobreza, e admitiu seu interesse em fazer dos EUA “um grande cliente” do país no campo da energia. Especialmente, em petróleo e gás. “Temos muitas oportunidades de cooperação na área de energia. O Brasil tem rios extraordinários e uma infinidade de reservas naturais. Vamos fazer um trabalho muito grande de cooperação na área energética”, destacou Obama.
Fim do visto
O encontro também serviu para selar o acordo que prevê o fim, em um futuro próximo, da exigência de visto para viagens entre turistas e executivos dos dois países. Obama ressaltou os esforços americanos para redução da burocracia e do tempo para concessão de vistos a empresários e turistas brasileiros: “Os nossos governos vão cooperar também na ampliação dos elos de amizade, comércio e investimento, permitindo um maior contato entre os povos do Brasil e dos EUA. Por exemplo, para tanto, reduzimos muito o tempo de espera de vistos consulares para visitantes brasileiros aos EUA, vamos abrir no Brasil dois novos consulados e esperamos fazer progresso ainda maior nesta frente.” O anúncio de abertura dos consulados americanos em Belo Horizonte e Porto Alegre ficou por conta da secretária de Estado norte-americana, Hillary Clinton. Além das barreiras de locomoção, os dois países firmaram sete atos, entre eles a carta de reconhecimento mútuo da cachaça como bebida brasileira e do bourbon como bebida norte-americana.
Foco na ciência
Uma das principais bandeiras do governo Dilma, o programa Ciência sem Fronteiras, terá um tratamento especial na viagem aos EUA. Hoje, Dilma fara um périplo científico pela Universidade de Harvard e pelo Massachusetts Institute of Tecnology (MIT). Serão assinados 15 acordos entre o Ministério da Educação e universidades americanas, além de um entre o Instituto de Tecnologia da Aeronáutica (ITA) e o MIT. Até 2014, 15 mil estudantes brasileiros deverão receber bolsas nos EUA.
A presidente também se encontrará com bolsistas brasileiros que estudam em Harvard. Atualmente, o Brasil tem 555 intercambistas no país e outros mil seguem para lá no segundo semestre. A secretária de Estado norte-americana, Hillary Clinton, comentou a parceria e disse acreditar que o Brasil sabe a importância de se investir em educação. “Já se podem ver os resultados”, elogiou Hillary, fazendo alusão ao Ciência sem Fronteiras.
A comitiva brasileira na Casa Branca contou com os seis ministros das áreas de comércio, relações internacionais e ciência.
Entre os presentes divulgados, Dilma deu quadros a Obama. Depois de encontrar com o presidente e com empresários, Dilma foi a homenageada de um jantar na casa do embaixador brasileiro nos EUA, Mauro Vieira, com um grupo restrito de empresários brasileiros e autoridades americanas e personalidades como o ex-presidente dos EUA Jimmy Carter, a ex-secretária de Estado norte-americana Condoleeza Rice e o editorialista do The New York Times, Thomas Friedman. (Colaborou Juliana Braga)