“As exigências técnicas não existem mais ou são detalhes, que não impediriam esse acordo. O que ainda existe e surge como maior dificuldade para nossa inclusão nessa lista é uma mentalidade que persiste sobre nossos viajantes”, analisa o especialista em relações internacionais da Fundação Getúlio Vargas, Maurício Santoro. Segundo o professor, o processo de negociação não deve acontecer no curto prazo, com estimativa de cinco anos para ser concretizado. “A Coreia do Sul, por exemplo, levou mais de dez anos para conseguir entrar na lista, em um processo demorado e de muita negociação”, exemplifica Santoro.
A lista de exigências divulgadas pelo site do Departamento de Estado dos Estados Unidos da América (www.travel.state.gov), estão determinações que levam em conta critérios de segurança adotados pelo país, como a troca de informações entre os dois governos e padrões rigorosos para a emissão de passaportes (veja quadro). “A primeira barreira que os brasileiros tradicionalmente enfrentam está ligada à questão econômica e vem sendo usada desde a décadas de 1980 e 1990, quando existia o medo de que entrassem nos Estados Unidos para procurar empregos. Depois a questão passou a ser de segurança, com questionamentos sobre nosso processo de emissão de passaportes. Era comum apontar a facilidade de se conseguir um documento falsificado aqui. Hoje, já não existe mais a questão econômica, com os brasileiros sendo apontados como os que mais gastaram na Flórida e Nova Iorque no ano passado. A questão de segurança também avançou muito e dificilmente seria apontada como um obstáculo”, argumenta Santoro.
Trampolim Para o professor de ciências políticas da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) Dawisson Belém Lopes, além da questão envolvendo o histórico de migrações por motivos econômicos que ainda está presente nas avaliações que os norte-americanos fazem sobre os brasileiros, uma outra barreira é a necessidade de adaptar a estrutura física dos consulados brasileiros para atender a demanda crescente. “Os aspectos operacionais também estão sendo considerados pelo Itamaraty, uma vez que é preciso uma atenção a possíveis sobrecargas para consulados e embaixadas brasileiras nos EUA. Percebe-se que o próprio governo brasileiro não faz questão de que essa flexibilização venha tão rapidamente, uma vez que será preciso adaptar sua estrutura para atender a esse público”, ressalta Lopes.
As atenções para as relações entre o Brasil e seus vizinhos sulamericanos também são apontadas pelo cientista político como um aspecto essencial a ser considerado pelo governo brasileiro. Com um destaque cada vez maior no cenário internacional, melhorar as maneiras de lidar com imigrantes de outros países seria um caminho essencial para evitar que o país se transforme em rota para os EUA e tenha o benefício cortado. “Há uma grande diferença econômica entre o Brasil e os outros países latinos. A concessão não será garantida a todos. Por isso, existe o perigo de o país se tornar um trampolim para outros viajantes. Problema que se tornou frequente para muitos países da Europa, como a Polônia e outros países do Leste, usados por migrantes como forma de chegar à França”, lembra Lopes.