O Brasil já cumpre as exigências feitas pelos Estados Unidos para autorizar a entrada de estrangeiros em seu território sem a necessidade de visto. O compromisso assinado na segunda-feira pelos presidentes Dilma Rousseff e Barack Obama de derrubar a barreira chega atrasado. O preconceito, contudo, em relação aos imigrantes brasileiros relacionado a questões econômicas é apontado por especialistas como principal obstáculo para o acesso de brasileiros na terra do Tio Sam.
Apesar do aumento significativo dos gastos tupiniquins no exterior – passando de US$ 3,8 bilhões em 2000 para US$ 21,2 bilhões no ano passado, segundo o Banco Central –, e de os EUA ser o principal destino dos brasileiros – em 2011, 23,8% deles foram para os EUA, segundo o IBGE –, um entrave concebido de antemão e que vem de longa data adia a inclusão do país na lista vip dos norte-americanos.
“As exigências técnicas não existem mais ou são detalhes, que não impediriam esse acordo. O que ainda existe e surge como maior dificuldade para nossa inclusão nessa lista é uma mentalidade que persiste sobre nossos viajantes”, analisa o especialista em relações internacionais da Fundação Getúlio Vargas, Maurício Santoro. Segundo o professor, o processo de negociação não deve acontecer no curto prazo, com estimativa de cinco anos para ser concretizado. “A Coreia do Sul, por exemplo, levou mais de dez anos para conseguir entrar na lista, em um processo demorado e de muita negociação”, exemplifica Santoro.
Trampolim Para o professor de ciências políticas da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) Dawisson Belém Lopes, além da questão envolvendo o histórico de migrações por motivos econômicos que ainda está presente nas avaliações que os norte-americanos fazem sobre os brasileiros, uma outra barreira é a necessidade de adaptar a estrutura física dos consulados brasileiros para atender a demanda crescente. “Os aspectos operacionais também estão sendo considerados pelo Itamaraty, uma vez que é preciso uma atenção a possíveis sobrecargas para consulados e embaixadas brasileiras nos EUA. Percebe-se que o próprio governo brasileiro não faz questão de que essa flexibilização venha tão rapidamente, uma vez que será preciso adaptar sua estrutura para atender a esse público”, ressalta Lopes.
As atenções para as relações entre o Brasil e seus vizinhos sulamericanos também são apontadas pelo cientista político como um aspecto essencial a ser considerado pelo governo brasileiro. Com um destaque cada vez maior no cenário internacional, melhorar as maneiras de lidar com imigrantes de outros países seria um caminho essencial para evitar que o país se transforme em rota para os EUA e tenha o benefício cortado. “Há uma grande diferença econômica entre o Brasil e os outros países latinos. A concessão não será garantida a todos. Por isso, existe o perigo de o país se tornar um trampolim para outros viajantes. Problema que se tornou frequente para muitos países da Europa, como a Polônia e outros países do Leste, usados por migrantes como forma de chegar à França”, lembra Lopes.