Seguindo os passos do bem-sucedido Carlos Cachoeira, ao decidir se arriscar no mundo dos negócios, o senador goiano Demóstenes Torres (sem partido), escolheu Minas para receber sua primeira empresa, uma faculdade em Contagem, na região metropolitana da capital. Em 2008, Demóstenes se associou a sua assessora no Senado, Renata Carla de Castro Costa, e ao empresário Marcelo Henrique Limírio Gonçalves para criar o Instituto de Nova Educação Ltda. A composição societária da faculdade terminou por revelar mais uma vez que os caminhos de Demóstenes e Cachoeira se cruzam com frequência. Limírio é sócio do contraventor na empresa ICF – Instituto de Ciências Famarcêuticas de Estudos e Pesquisa Ltda, em Goiânia, que teria faturado R$ 30 milhões em 2010. A ICF, na verdade, está registrada em nome da ex-mulher de Cachoeira, Andréa Aprígio de Souza e fornece testes para laboratórios.
Limírio é dono da empresa Hypermarcas, que integra o conglomerado de empresas Bionovis, e fez negócio de pai para filho com Demóstenes Torres. Ele investiu R$ 600 mil no negócio, sendo que coube ao senador a aplicação de R$ 200 mil divididos em 25 prestações de R$ 8 mil mensais, quitadas há dois anos. Registrada em 2008, a faculdade foi inaugurada no final de 2009 com um coquetel que contou com a presença de Demóstenes. A comemoração foi feita na própria sede da universidade, que oferece cursos de administração, ciências contábeis, direito, farmácia e enfermagem. A terceira sócia de Demóstenes, Renata Costa, passou a ser diretora-executiva da instituição depois de ser exonerada do cargo de chefe de gabinete do senador. Antes de se mudar para Brasília, ela ocupou um cargo comissionado na Assembleia Legislativa de Minas. Sua participação foi adquirida nas mesmas condições de Demóstenes Torres.
Alvo De acordo com o Ministério Público, manter relação com o contraventor Cachoeira não é crime. No entanto, as investigações da Procuradoria tentam esclarecer o enriquecimento rápido daqueles que transitam por sua rede de negócios. A faculdade do político em Minas é um dos alvos da apuração. Ontem, a diretora Renata Costa negou que o instituto tenha qualquer vinculação com as investigações da Procuradoria da República em Goiás. Garantiu não conhecer o contraventor, mesmo tendo sido chefe de gabinete de Demóstenes. Disse ainda que desconhecia o relacionamento de seus sócios com Carlinhos Cachoeira. “Eu os conheço apenas profissionalmente. Não tenho qualquer conhecimento da vida pessoal deles”, diz. O envolvimento de Demóstenes foi revelado no final de fevereiro, quando Cachoeira e mais 34 pessoas foram presas durante a Operação Monte Carlo, que fez devassa na organização criminosa especializada na exploração do jogo.
O senador é acusado de tráfico de influência para favorecer o contraventor depois da interceptação de telefonemas entre Demóstenes e Cachoeira, que chegaram a quase 300. Nele, o político chama Carlinhos Cachoeira de “professor” e demonstra preocupação com projetos de lei em tramitação que possam prejudicar os negócios do amigo. Em uma delas fica, ele deixa claro sua posição ao assumir o lobby pela legalização do jogo no Brasil. Além disso, Demóstenes recebeu vários mimos de presente de Cachoeira.