Brasília – As denúncias de envolvimento do senador Demóstenes Torres (sem partido-GO) na defesa de interesses do bicheiro Carlinhos Cachoeira dentro do Ministério Público de Goiás, reveladas ontem pelo Estado de Minas, estarão na mesa de investigações da Comissão Parlamentar Mista de Inquérito (CPMI) a ser instaurada nesta semana. Parlamentares ouvidos pela reportagem vêem indícios de irregularidades na conduta do senador, que garantiu, em conversas com o contraventor, ter condições de influenciar decisões do MP-GO, sob o comando do irmão de Demóstenes, o procurador-geral de Justiça de Goiás, Benedito Torres. Os parlamentares adiantaram que vão apresentar um requerimento à Comissão pedindo investigações sobre o caso. Também são citados o presidente da Associação Goiana do Ministério Público (AGMP), Alencar José Vital, e o procurador-geral do estado, Ronald Bicca.
O líder do PT no Senado, Walter Pinheiro (BA) afirma que as gravações são “preocupantes” e deverão ser usadas como subsídio para o trabalho da comissão. “A CPI vai ter que colocar os olhos nessas informações. Não dá só para cassar o Demóstenes no Conselho de Ética e achar que está tudo certo. Está provado que membros de outros poderes têm envolvimento com os esquemas de Cachoeira”, disse.
Líder do PT na Câmara dos Deputados, Jilmar Tatto (SP) entende que a CPI deve investigar todos os tentáculos da organização, que se espalhava por setores dos Três Poderes. “Esse é um caso gravíssimo. A CPI se fortalece por causa de histórias como essas. Vamos acrescentar essa questão nas investigações, vamos verificar a ramificação dessa organização criminosa”, pontua.
A série de denúncias envolvendo o senador goiano e o bicheiro aponta, segundo Tatto, que havia a formação de uma rede de crime organizando com influência em uma parte importante do Estado brasileiro, com ramificação no Ministério Público, no Judiciário e no Legislativo. “O grau de profissionalização, a organização dos envolvidos e a abrangência dos fatos torna essa uma das mais importantes CPIs da história”, classifica. Com o inquérito aberto, o parlamentar espera que o acesso à quebra de sigilos bancário e telefônico, e com outras informações à disposição, será possível mapear até onde o bicheiro agia. “Não podemos perder a oportunidade de passar a limpo essa bandalheira que estava tomando conta do estado.”
Níveis e Poderes Na mesma linha, o líder do PSDB no Senado, Álvaro Dias (PR), entende que a denúncia intensifica ainda mais o que as investigações já vinham apontando. “Sabíamos que a ambição do Carlos Cachoeira nunca foi algo restrito”, frisou. Segundo Dias, devido ao tamanho do aparelhamento do bicheiro no Estado, a CPI acabou com um texto de criação igualmente abrangente. Ela passará pelos Três Poderes e três níveis: municipal, estadual e federal. “Assim, podemos nos antecipar e chegar a todas as áreas”, destaca.
PARLAMENTARES PEDEM APURAÇÃO