No Brasil, figuras com postura semelhante à do senador Demóstenes Torres (sem partido) são recorrentes. Fazem o nome e galgam postos na vida pública acusando e condenando os pares. Apontam, sem prudência, o dedo indicador, sempre com uma oratória adequada para o momento. “Como existe na sociedade, há muito tempo, a percepção de que a corrupção é um problema, é fácil fazer um discurso em cima disso”, afirma o professor do departamento de Ciência Política da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) Carlos Ranulfo.
Porém, muitos que se valem das palavras oportunas e jogam pedras se complicam mais quando encontram um telhado de vidro. “É fácil fazer um discurso nesse tom. O Collor ganhou assim”, lembra Ranulfo. O professor se refere ao senador Fernando Collor de Mello, presidente do Brasil entre 1990 e 1992. Ele renunciou antes de sofrer impeachment e ficou afastado da política até voltar na década passada, como senador por Alagoas. Quando candidato, em 1989, abusou da fama de “caçador de marajás”. Pregou que acabaria com a corrupção, mas foi engolido por ela.
Outro presidente que se valeu da mesma estratégia foi o último eleito antes de Collor: Jânio Quadros (PDC), em 1960. Com a música de campanha pregando que varreria a corrupção, Jânio não durou sete meses no poder. Renunciou e deu início a uma crise política que culminou com mais de duas décadas de ditadura militar. A letra da música era sintomática do estilo que adotou: “Varre, varre, varre, varre vassourinha / Varre, varre a bandalheira / Que o povo já está cansado / De sofrer dessa maneira/ Jânio Quadros é a esperança desse povo abandonado / Jânio Quadros é a certeza de um Brasil, moralizado”.
Na análise de Ranulfo, Jânio seguiu uma linha adotada pela UDN, que não era seu partido, mas o apoiou. “Um discurso moralista e com muita hipocrisia. A UDN acusava Juscelino Kubitschek (PSD) de ser corrupto o tempo todo”, destaca o professor. Aliás, a escola UDN de moralistas conta com outro político de destaque na República brasileira: Carlos Lacerda, deputado federal por vários mandatos e que chegou a governador do então Estado da Guanabara, hoje Rio de Janeiro.
Quem destaca a atuação de Lacerda é o professor do departamento de história da UFMG Rodrigo Patto. “O Lacerda batia muito no Getúlio Vargas (PTB)”, recorda. A crise que serviu de estopim para o suicídio de Vargas, em 1954, teve Lacerda como um dos principais envolvidos. Depois de sofrer atentado, o udenista acusou o segurança e o irmão de Getúlio de serem os responsáveis, elevando ao limite as tensões. Patto ressalta que além de político Lacerda era jornalista, dono do jornal Tribuna da Imprensa, que fazia forte oposição a Vargas. “A crise começou quando Lacerda acusava Vargas de ter apoiado a criação do jornal Última Hora, em 1951, com dinheiro do Banco do Brasil”, lembra Patto. A partir daí, o político investigou e descobriu várias brechas para bater com mais força em Vargas.
Brecha
“Esse tipo de comportamento é uma trajetória recorrente na nossa política. Quanto mais corrompido o país está, mais surgem os campeões da moralidade”, pontua o professor do departamento de história da UFMG João Pinto Furtado. O professor destaca que a existência dessas figuras demonstra que a corrupção é generalizada. “O Demóstenes era uma das figuras mais proeminentes e raivosas porque parecia que ele não devia nada para ninguém”, afirma.
Furtado lembra de um exemplo recente de político combativo e que também foi cassado: José Dirceu (PT). Liderança petista e um dos coordenadores da primeira campanha vitoriosa do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) Dirceu era um dos mais ativos críticos do governo de Fernando Henrique Cardoso (PSDB). “Logo no início do escândalo do mensalão, Dirceu bradava: ‘Este é um governo que não rouba e nem deixa roubar’”, recorda o professor, destacando o estilo de Dirceu, que foi cassado acusado de ser o operador do mensalão.
Outro citado por Furtado é o ex-deputado federal e senador Arthur Virgílio (PSDB-AM), principal orador contrário ao governo petista no Congresso, que não conseguiu se reeleger no último pleito e está sem cargo. “A derrota dele pode representar que a corrupção não tem solução. O povo brasileiro entregou as armas.
Porém, muitos que se valem das palavras oportunas e jogam pedras se complicam mais quando encontram um telhado de vidro. “É fácil fazer um discurso nesse tom. O Collor ganhou assim”, lembra Ranulfo. O professor se refere ao senador Fernando Collor de Mello, presidente do Brasil entre 1990 e 1992. Ele renunciou antes de sofrer impeachment e ficou afastado da política até voltar na década passada, como senador por Alagoas. Quando candidato, em 1989, abusou da fama de “caçador de marajás”. Pregou que acabaria com a corrupção, mas foi engolido por ela.
Outro presidente que se valeu da mesma estratégia foi o último eleito antes de Collor: Jânio Quadros (PDC), em 1960. Com a música de campanha pregando que varreria a corrupção, Jânio não durou sete meses no poder. Renunciou e deu início a uma crise política que culminou com mais de duas décadas de ditadura militar. A letra da música era sintomática do estilo que adotou: “Varre, varre, varre, varre vassourinha / Varre, varre a bandalheira / Que o povo já está cansado / De sofrer dessa maneira/ Jânio Quadros é a esperança desse povo abandonado / Jânio Quadros é a certeza de um Brasil, moralizado”.
Na análise de Ranulfo, Jânio seguiu uma linha adotada pela UDN, que não era seu partido, mas o apoiou. “Um discurso moralista e com muita hipocrisia. A UDN acusava Juscelino Kubitschek (PSD) de ser corrupto o tempo todo”, destaca o professor. Aliás, a escola UDN de moralistas conta com outro político de destaque na República brasileira: Carlos Lacerda, deputado federal por vários mandatos e que chegou a governador do então Estado da Guanabara, hoje Rio de Janeiro.
Quem destaca a atuação de Lacerda é o professor do departamento de história da UFMG Rodrigo Patto. “O Lacerda batia muito no Getúlio Vargas (PTB)”, recorda. A crise que serviu de estopim para o suicídio de Vargas, em 1954, teve Lacerda como um dos principais envolvidos. Depois de sofrer atentado, o udenista acusou o segurança e o irmão de Getúlio de serem os responsáveis, elevando ao limite as tensões. Patto ressalta que além de político Lacerda era jornalista, dono do jornal Tribuna da Imprensa, que fazia forte oposição a Vargas. “A crise começou quando Lacerda acusava Vargas de ter apoiado a criação do jornal Última Hora, em 1951, com dinheiro do Banco do Brasil”, lembra Patto. A partir daí, o político investigou e descobriu várias brechas para bater com mais força em Vargas.
Brecha
“Esse tipo de comportamento é uma trajetória recorrente na nossa política. Quanto mais corrompido o país está, mais surgem os campeões da moralidade”, pontua o professor do departamento de história da UFMG João Pinto Furtado. O professor destaca que a existência dessas figuras demonstra que a corrupção é generalizada. “O Demóstenes era uma das figuras mais proeminentes e raivosas porque parecia que ele não devia nada para ninguém”, afirma.
Furtado lembra de um exemplo recente de político combativo e que também foi cassado: José Dirceu (PT). Liderança petista e um dos coordenadores da primeira campanha vitoriosa do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) Dirceu era um dos mais ativos críticos do governo de Fernando Henrique Cardoso (PSDB). “Logo no início do escândalo do mensalão, Dirceu bradava: ‘Este é um governo que não rouba e nem deixa roubar’”, recorda o professor, destacando o estilo de Dirceu, que foi cassado acusado de ser o operador do mensalão.
Outro citado por Furtado é o ex-deputado federal e senador Arthur Virgílio (PSDB-AM), principal orador contrário ao governo petista no Congresso, que não conseguiu se reeleger no último pleito e está sem cargo. “A derrota dele pode representar que a corrupção não tem solução. O povo brasileiro entregou as armas.