O bicheiro Carlos Augusto Ramos, o Carlinhos Cachoeira, prestará na próxima semana seu primeiro depoimento à Polícia Federal desde a prisão pela Operação Monte Carlo. Ele falará sobre uma gama de acusações, como exploração de jogos ilegias, corrupção ativa e passiva. Ele chegou ontem a Brasília procedente de Mossoró (RN), onde estava recolhido em um presídio do Sistema Penitenciário Federal. O empresário desembarcou no Aeroporto Juscelino Kubitschek em voo comercial e seguiu diretamente para o Complexo da Papuda, onde ficará em ala administrada pelo Ministério da Justiça. A viagem do Rio Grande do Norte ao Distrito Federal demorou pouco mais de cinco horas.
Preso em 29 de fevereiro, durante a Operação Monte Carlo, desencadeada pela PF e pelo Ministério Público Federal para desvendar um esquema de exploração de jogos caça-níqueis, Cachoeira não prestou depoimento ao delegado Matheus Rodrigues, alegando que só falaria em juízo. Mesmo mudando de defensor – foi contratado o ex-ministro da Justiça Márcio Thomaz Bastos –, o empresário dos jogos de azar ilegais deve manter o posicionamento. Pelo menos em um primeiro momento, a expectativa é de que Cachoeira não fale sobre suas relações políticas. Thomaz Bastos estará hoje pela manhã com seu cliente, mas esperará o julgamento de um habeas corpus no Tribunal Regional Federal (TRF) da 1ª Região para definir os próximos passos da defesa.
Cachoeira chegou a Brasília às 8h05 escoltado por quatro agentes, depois de cinco horas de viagem em voo comercial, mas saiu sem ser visto pela imprensa. De lá, foi levado à Papuda. Segundo o Departamento Penitenciário Nacional (Depen), ele viajou em um voo proveniente de Fortaleza, escoltado por policiais federais. O trajeto de Mossoró à capital cearense foi feito de carro. O comboio formado por três viaturas saiu às 23h30 de Mossoró com destino a Fortaleza, a 260 quilômetros de distância, onde agentes e Cachoeira pegaram o voo. Segundo a assessoria, a transferência de Cachoeira foi uma operação delicada, com vários critérios de segurança.
O empresário está preso com outros dois detentos em uma cela com espaço entre 10m² e 12m². No local, podem ser alojadas até quatro pessoas e há direito a televisão, além de banho de sol diário de até quatro horas e visitas íntimas. No presídio de Mossoró, Cachoeira ficava 22 horas por dia trancado em uma cela sozinho sem ver ninguém. Tinha direito a duas horas de sol por dia e conversava com as visitas por meio de um interfone, sem ter contato físico.
Quem viu Cachoeira diz que ele emagreceu durante a estada no presídio federal de Mossoró, onde passou quase 50 dias, e ainda está abatido pela morte da mãe, Maria José, ocorrida há três dias. De acordo com familiares, o empresário perdeu 16 quilos, teve o cabelo raspado e está deprimido. Ele chegou a passar mal e precisou ser atendido por médicos.
A liminar que autorizou a transferência do bicheiro para a penitenciária da Papuda foi concedida na noite de segunda-feira pelo desembargador Fernando Tourinho Neto, do Tribunal Regional Federal da 1ª Região.