Passados seis anos do fim da CPI dos Correios, lideranças da oposição identificaram no “deltaduto” - rede abastecida pela Delta Construções para doações eleitorais por meio de empresas de fachada do grupo do contraventor Carlos Augusto Ramos, o Carlinhos Cachoeira - esquema semelhante ao utilizado pelo empresário Marcos Valério para enviar dinheiro aos partidos aliados ao governo, o que deu origem ao escândalo do mensalão.
O “deltaduto”, como revelou ontem o jornal O Estado de S. Paulo, irrigou a campanha do tucano Marconi Perillo ao governo de Goiás. Mas, como a empresa atua nacionalmente e o grosso de seus contratos é com o governo federal e com o Estado do Rio - cujo governador, Sérgio Cabral (PMDB), é aliado do Planalto -, a oposição enxerga potencial de desgaste na operação.
Indicações
Os partidos têm até terça-feira, dia 24, para indicar os nomes dos parlamentares que integrarão a CPI, que deverá ter sua primeira reunião na quarta-feira, dia 25, quando será eleito o presidente e escolhido o relator. O favorito para a presidência é o senador Vital do Rêgo (PMDB-PB). O relator é nomeado pelo presidente após acordo. O cargo é disputado por petistas, sendo Odair Cunha (MG) o favorito.
Além de requerimentos ao Coaf, a oposição também se prepara para pedir a quebra dos sigilos bancário, fiscal e telefônico de Cavendish e da Delta, de seus sócios e de supostos laranjas. Já os governistas pregam cautela. Defendem que, antes de qualquer convocação ou aprovação de requerimento, seja feita a análise dos documentos produzidos pelas operações Vegas e Monte Carlo, ambas da Polícia Federal.
“Não é preciso pressa. Temos de ver os documentos da PF e assim fazer nossa programação”, disse o líder do PT no Senado, Walter Pinheiro (BA). “Não pode ter pirotecnia. Não pode chamar já na primeira semana o dono da Delta”, disse o líder do PT na Câmara, deputado Jilmar Tatto (SP). “Temos de conhecer primeiro os documentos que já existem”, argumentou.
O temor dos aliados é o de que a CPI acabe “drenando a energia” do Parlamento e, assim, deixe de lado a apreciação de projetos considerados importantes pelo Planalto. “A gente não vai cometer o erro”, disse o líder do governo na Câmara, Arlindo Chinaglia (PT-SP). “É preciso ter atitude sóbria de ambos os lados e não pode haver vazamento seletivo de informações”, afirmou. “Os envolvidos é que têm de se defender.”