Em relatório, a Procuradoria da República em Goiás destrincha a estreita ligação de Cachoeira com a empreiteira, que tem sua parte mais visível na sua proximidade com o diretor Cláudio Abreu, que ocupou o cargo para as regiões do Distrito Federal e Centro-Oeste, até 8 de março, quando foi destituído. Além dele, é citado um funcionário identificado apenas como Pacheco. Registro na Junta Comercial indica Carlos Alberto Duque Pacheco como sócio da Delta e atualmente seu vice-presidente. De acordo com o Ministério Público Federal (MPF), “a citada existência de poder decisório e de influência de Carlos Cachoeira nas decisões da Delta é vista em diversos diálogos”. Entre eles, a procuradoria destaca o que aconteceu em 29 de março do ano passado, às 19h41min07, entre Cachoeira e Cláudio Abreu. Nele, o contraventor dá instruções ao então diretor Abreu, de como deveriam ser conduzidas as negociações para formalizar uma parceria com a incorporadora DataKraft.
DESPACHO
Quase três meses depois, em um novo diálogo entre Cláudio e o contraventor sobre uma operação de fechamento de uma casa de bingo, surgiu o nome do Pacheco, demonstrando a extensão dos contatos de Cachoeira na empreiteira. Cláudio, depois de tranquilizá-lo sobre a inexistência de ação policial, disse que Pacheco gostaria de falar com ele. O diálogo aconteceu em 14 de junho do ano passado, às 6h39. No entanto, ainda em março, outros telefonemas do contraventor demonstram ainda proximidade física dele com a empreiteira. Entre os dias 20 e 28 daquele mês, conversas entre Cachoceira e Gleyb Cruz, um dos operadores dos recursos ilícitos da organização, mostram que a sede da empreiteira era o local preferido para despachos do capo do jogo. No dia 20, Cachoeira pediu que Gleyb marcasse encontro com um homem identificado apenas como Neguinho, supostamente o delegado Deuselino Valadares, na construtura em Goiânia. E diz: “Pode marcar na Delta”. No dia seguinte, eles voltaram a conversar e Gleyb demonstrou ter feito o dever de casa: “Ô, ele chega nove e meia amanhã, eu falei para ele que na hora que chegar ir direto lá na Delta”.
Com naturalidade, Cachoeira voltou a agendar encontros na Delta. Dessa vez, com o delegado Hylo Marques Pereira, titular do 1º Distrito Policial de Águas Lindas de Goiás, que, segundo o MPF, foi cooptado pela organização criminosa, especializada na jogatina. Em 30 de maio, por volta das 11h, o policial ligou para o contraventor pedindo um encontro. Cachoeira, mais uma vez, escolheu a sede da empreiteira para isso: “Lá naquele local, às duas horas, na Delta”.
Na sede, foi recebido também o delegado federal Fernando Byron, outro colaborar do grupo, segundo o MPF, conforme outros diálogos gravados. Além dessas evidências, os federais conseguiram provas documentais dessa relação entre o contraventor e a construtora. Uma equipe de policiais acompanhou um encontro dos colaboradores de Cachoeira e constatou que o veículo Pálio placa NKT-0458 é arrendado pela Delta.
ENCONTRO
De acordo com o inquérito da Polícia Federal, em 10 de agosto, Lenine Araújo de Souza – apontado como gerente financeiro e segundo homem na hierarquia da organização criminosa do contraventor – se encontrou com seu sócio em lojas de caça-níqueis, William Vitorino, em Luziânia. Eles usavam um Astra e pretendiam se encontrar com o delegado da Polícia Civil Niteu Chaves Júnior, segundo a PF, “na data de possível entrega de valores”, ou seja, pagamento de propina a colaboradores. No local combinado, Niteu surgiu conduzindo o Palio. Registros do Denatran revelaram aos federais que o carro estava vinculado ao Santander Leasing S.A., sendo o arrendatário a Delta Construções S.A., com CNPJ 10.788.628/0017- 14. Coincidência ou não, no mesmo dia a contabilidade de Lenine registrou um pagamento no valor de R$ 1 mil, na conta Assistência Social, Seção Val Paraíso, associado ao código N, inicial do nome do policial civil.
As conversas - Diálogos entre o contraventor Carlinhos Cachoeira e Gleyb Cruz, um dos operadores dos recursos ilícitos da organização
Data: 20/3/11
Hora: 21h39min27
Carlinhos: O NEGUINHO chegou?
Gleyb: Dá uma ligada nele aqui, calma aí.
Carlinhos: Marca amanhã cedo, só pra mim (sic) passar uma informação pra ele. Marca, pode marcar. na DELTA ou na STRAVAGANZA.
Gleyb: Ali tá, calma aí, deixa eu ligar nele (sic) e já te ligo aí.
Carlinhos: Chama ele (sic) pra tomar café na STRAVAGANZA oito e meia.
Gleyb: Tá.
Data: 21/3/11
Hora: 21h40min43
Gleyb: Ô, ele chega nove e meia amanhã, eu falei para ele que na hora que chegar ir direto lá na DELTA.
Carlinhos: Ali tá bom. Um abraço.
Gleyb: Outro, tchau.
Data: 8/4/11
Hora: 11h33min15
Carlinhos: Onde é que você tá?
Gleyb: Na DELTA.
Carlinhos: Cadê o NEGUINHO. Tá aí?
Gleyb: Já.
Carlinhos: Tô chegando aí.
Gleyb: Falou, tchau.
Data: 12/4/11
Hora: 09h20min43
Gleyb: Ôpa!
Carlinhos: 6h! Negão, cadê o rapaz, eu preciso olhar com ele urgente. Pede pra ele dar um pulinho na DELTA correndo.
Gleyb: Neguinho, né?
Carlinhos: É.
Gleyb: Tá, calma aí.
Data: 26/4/11
Hora 13h56min16
Carlinhos: Você vem pra Goiânia?
Gleyb: Ainda num (sic) fui não, vou.
Carlinhos: Marca com NEGUINHO pra ir lá pra DELTA, agora. Vê se ele pode ir.
Gleyb: Ele tinha me marcado (sic) se precisasse de qualquer coisa cinco horas. Vou ver se ele pode... ele lava dentro do trem lá.
Diálogo entre Carlos Cachoeira e o delegado da Polícia Civil de Goiás Hylo Marques Pereira
Data: 30/5/11
Hora: 11h29min49
Hylo: Quando é que nós podemos ver?
Carlinhos: Ou!
Hylo: Tô aqui no fórum.
Carlinhos: Uai, então vamos encontrar. Vamos fazer o seguinte: meio é... Vamos encontrar uma e meia...
Hylo: Uma e meia? Onde?
Carlinhos: Lá naquele local, às duas horas, na DELTA.
Hylo: Pode ser. Beleza, de boa.
Carlinhos: Duas horas...
Hylo: Não, uma e meia, sabe por quê? Duas e meia o Antônio Carlos quer falar comigo na secretaria. Já deve ser essa porra! Mas tudo bem. Já vou com o resultado. Um abraço. Tchau.
Carlinhos: Uma e meia...