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Estado de Minas

Centro de Documentação e Memória deve reunir 25 mil arquivos

O centro será um novo espaço de preservação da história operária e popular


postado em 22/04/2012 07:22

Operários da Usiminas na
Operários da Usiminas na " Operação Vingança" que destruiu caminhão que transportava soldados (foto: Hilton Rocha/EM/D.A Press)

O confronto entre operários da Usiminas e soldados do Exército em outubro de 1963, que ficou conhecido como Massacre de Ipatinga e foi uma das primeiras demonstrações de represália por parte dos militares, que mais tarde passariam a ser comuns em todo o país durante a ditadura, será o ponto de partida para um trabalho de recuperação da memória operária e popular da região. O novo Centro de Documentação e Memória, apresentado ontem no Vale do Aço pela Associação dos Trabalhadores Anistiados de Minas Gerais (Atamig), foi desenvolvido em parceria com o Instituto Pauline Reischstul (IPR), de Belo Horizonte, e financiado pelo Ministério da Justiça. Ele pretende reunir documentos e promover ações para recuperar relatos e imagens de um evento que deixou pelo menos 30 mortos e cerca de 3 mil feridos.

“Queremos recuperar um material maior da década de 1960 e 1970, muitos registros particulares que podem servir para que todos passem a conhecer melhor essa história. Mesmo com o passar do tempo, os envolvidos são procurados frequentemente por estudantes e pesquisadores que tentam entender melhor o que aconteceu. Mas não existia ainda um espaço para esse fim”, diz Ivo José, diretor da Atamig. A expectativa dos organizadores é de que, até o fim do ano, o arquivo consiga recolher aproximadamente 25 mil documentos, entre fotos, gravações de fitas e diversos registros pessoais. Grande parte de documentos que já estão sendo reunidos no novo centro foram obtidos no Arquivo Público Nacional, no Rio de Janeiro.

Depois do tratamento e organização do acervo, o material recuperado será digitalizado e ficará disponível em um website aberto à consulta pública. O suporte de profissionais especializados na área de pesquisa ficará a cargo do Instituto Pauline Reichstul, criado em 2003, em homenagem à militante de nacionalidade tcheca que veio para o Brasil se dedicar à luta contra a ditadura militar no início da década de 1970 e foi torturada e assassinada por militares aos 25 anos, junto com outros cinco integrantes do movimento.

“Nosso grupo traz no nome uma das figuras importantes na luta contra a repressão no Brasil e quando fomos procurados para participar desse projeto sentimos a necessidade de fortalecer um trabalho para retomar histórias que não podem ficar esquecidas para as novas gerações. A ideia é justamente incorporar um material novo sobre um evento que já é muito conhecido, mas que tem questões ainda em aberto, e podemos levantar detalhes importantes para toda uma memória da região”, explica Pedro Moreira, presidente do IPR.

O MASSACRE

Meses antes do golpe que deu início aos 21 anos de ditadura, os operários do setor metalúrgico no interior mineiro já viviam na pele a realidade de repressão por parte de autoridades policiais e difíceis condições de trabalho. Em 6 de outubro de 1963, no fim da jornada de trabalho, a determinação de revistas na saída da empresa acirrou os ânimos entre os operários. Segundos os relatos já documentados, a polícia foi chamada para garantir que não ocorreriam tumultos, mas a ação truculenta acabou deixando o clima ainda mais tenso entre os operários, que teriam sido espancados.

A notícia da ação policial circulou entre os trabalhadores e no dia seguinte cerca de 3 mil operários foram até os portões da Usiminas, pedindo a retirada da polícia e a substituição da equipe de vigilância. A resposta foi ainda mais dura, com um caminhão da Polícia Militar enviado ao local, com militares armados e ordens de não negociar com os operários. O confronto resultou na morte de vários trabalhadores – há controvérsias sobre o resultado trágico do confronto, mas os relatos da época apontam 30 mortos e cerca de 3 mil feridos.

Entenda o caso

Em 7 de outubro de 1963, no distrito de Ipatinga, então município de Coronel Fabriciano, militares entraram em confronto com funcionários da siderúrgica Usiminas, revoltados com as más condições de trabalho e a humilhação sofrida ao serem revistados na entrada e na saída da empresa.

A tensão culminou com a PM, que cuidava da vigilância patrimonial da Usiminas, àquela época uma empresa estatal, sob as ordens do governador mineiro Magalhães Pinto, atirando com metralhadoras contra operários desarmados que se manifestavam na portaria.

Oficialmente, oito pessoas teriam morrido, inclusive uma criança no colo de sua mãe, e 80 ficado feridas. Mas dados extraoficiais, até hoje não confirmados, apontam mais de 30 mortos no confronto. Houve relatos de até 3 mil feridos.

O desencontro de informações sobre esses números era tamanho que o padre Abdala Jorge, do distrito de Timóteo, que também fazia parte de Coronel Fabriciano, revelou, à época, que teria contado pessoalmente 11 cadáveres no Hospital Nossa Senhora do Carmo (atual Hospital Unimed, em Fabriciano) para onde foram levadas as vítimas.


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