Jornal Estado de Minas

Depois de conquistar governistas, mineiro relator da CMPI de Cachoeira terá que afastar aliados

João Valadares Maria Clara Prates
Odair Cunha (PT-MG), relator da CPI do Cachoeira - Foto: Antônio Cruz/ABrUm autêntico mineirinho. O deputado federal Odair Cunha (PT-MG), 35 anos, relator da chamada CPI do Cachoeira, é conhecido pela atuação extremamente discreta e sempre branda. Fala pouco e prefere a sombra. Há quem o classifique, inclusive alguns deputados petistas, como político inexpressivo. O fato é que, até ser indicado como o timoneiro responsável por ditar o ritmo e definir o foco das investigações em relação às ligações do bicheiro Carlinhos Cachoeira com parlamentares, era um ilustre desconhecido na política brasileira. Apesar de jovem, está no terceiro mandato de deputado federal (2002, 2006 e 2010). Considerado um soldado fiel do partido, não é de embate em plenário. Difícil vê-lo se envolver publicamente em polêmicas. Foge dos holofotes. É cão de guarda que atua sempre nos bastidores. Durante a CPI do Mensalão, em 2005, trabalhou para defender os interesses do ex-ministro da Casa Civil José Dirceu. O desempenho foi aprovado pelos governistas.
De família simples, filho de trabalhador rural e de uma dona de casa, é natural de Piedade (SP), mas ainda recém-nascido foi para Boa Esperança, no Sul de Minas. Advogado, é ligado à Igreja Católica e atuou como conselheiro jurídico em prefeituras e câmaras da região. Casado, pai de três filhos, filiou-se ao PT em 1999. Bastante próximo ao líder do governo na Câmara, Arlindo Chinaglia (PT-SP), e ao presidente da Casa, Marco Maia (PT-RS), o nome de Odair é sinônimo de blindagem para o Palácio do Planalto. Mais: é garantia de uma CPI sem pirotecnia. Ponto para a presidente Dilma Rousseff. O ex-presidente Lula, com o objetivo de se vingar da oposição, preferia um perfil mais agressivo, a exemplo do deputado federal Cândido Vaccarezza (PT-SP). Foi convencido de que Odair Cunha iria conduzir a investigação de maneira serena. O equilíbrio, no entendimento do Palácio do Planalto, evitaria o respingo de qualquer gota de lama com o DNA da empresa Delta, no foco do escândalo, na saia da presidente Dilma.

Em várias oportunidades, o deputado, vice-líder do governo até assumir a relatoria, atuou para evitar a convocação de ministros investigados por corrupção. Recentemente, cochilou e caiu na sua conta a convocação da ministra das Relações Institucionais, Ideli Salvati, para explicar, na Câmara, o episódio envolvendo a compra irregular de lanchas. Levou um puxão de orelhas, mas, pelo seu perfil, seguiu prestigiado. Relatou matérias importantes. Destacou-se como relator da PEC 61/2011, que trata da Desvinculação dos Recursos da União (DRU).

Na sua primeira declaração pública como relator, foi mais Odair do que nunca. Deixou bem claro que a condução da CPI mista está alinhada com o que deseja o Planalto. "Temos que ter clareza de que estamos investigando Carlinhos Cachoeira e suas relações. Não é uma investigação que necessariamente vá para cima do Planalto ou qualquer membro do governo. Queremos investigar o fato determinado que originou a CPI", disse. Em seguida, usou a expressão "doa a quem doer" para justificar uma possível mudança de foco das investigações e amenizar o tom da declaração anterior. Inicialmente, afirmou que não via problemas em ser vice-líder do governo e relator da comissão mista ao mesmo tempo. "Não sou nem mais nem menos governista do que qualquer deputado do PT." Na quinta-feira, a assessoria do deputado informou que ele não era mais vice-líder.

Indicação


Pelos serviços prestados ao governo ao longo dos anos, Odair ganhou o direito de indicar, em 2008, o diretor de Furnas. Colocou no comando da hidrelétrica Luiz Fernando Paroli Santos e conseguiu investimentos da estatal em programas sociais no Sul de Minas, seu reduto eleitoral. O Estado de Minas mostrou, em maio do ano passado, que o número de votos do parlamentar, após ter indicado o diretor de Furnas, foi turbinado. Em sua primeira eleição, em 2002, Cunha se elegeu com 34.846 votos. Na legislatura seguinte, foi reeleito com 87,1 mil e saltou para 165.644, em 2010. Um crescimento no número de eleitores de 365%.

Quando foi eleito deputado federal pela primeira vez, Cunha tinha apenas 27 anos. Antes, havia sido diretor da Rádio Difusora de Campanha e assessor da deputada estadual petista Maria Tereza Lara. Atualmente, é membro da executiva estadual do partido em Minas e coordenador da tendência Articulação no estado. Em Belo Horizonte, fez coro com petistas que defendiam o apoio à reeleição do prefeito Márcio Lacerda (PSB, contrários à participação do PSDB na chapa. "O PSB é nosso aliado estratégico em diversas capitais do Brasil e queremos manter essa união em Belo Horizonte, mas sem o PSDB", diz Cunha.

Ligações

Em âmbito nacional, o deputado federal é integrante da tendência Construindo um Novo Brasil (CNB). É bastante ligado a Luiz Dulci e Patrus Ananias, ex-ministros do governo Lula. No governo Dilma, é próximo à ministra das Relações Institucionais, Ideli Salvatti, e ao ministro do Desenvolvimento, Fernando Pimentel.

No seu segundo mandato na Câmara dos Deputados, em 2008, Odair foi escolhido para compor a Mesa Diretora da Casa. Exerceu o cargo de terceiro-secretário até o fim da Legislatura, em fevereiro de 2011. Hoje, é titular da Comissão de Constituição e Justiça e Cidadania, suplente na Comissão de Fiscalização e Controle, co-presidente da Frente Parlamentar em defesa da cafeicultura e do Grupo Parlamentar Brasil-Estados Unidos e integra a Frente Parlamentar em apoio à mídia regional e o recém-formado grupo de trabalho destinado a analisar a dívida dos estados com a União.