Vencido o desentendimento, Cachoeira pede um cargo para uma mulher identificada como Lívia, que seria “sobrinha” de Deuselino e estabelece o valor do salário em R$ 1,5 mil. Sem questionar, Fernando responde: “Vou ligar para ela agora. Te retorno aí”. O contraventor foi um dos principais financiadores da campanha de Fernando Cunha, que, em sinal de gratidão, propôs e concedeu ao empresário o título de cidadão honorário de Anápolis. Além do sobrinho, o contraventor tinha como parceiro na Câmara o vereador Wesley Clayton Silva (PMDB), preso no dia 25 na Operação Saint Michel, desdobramento da Monte Castelo, que derrubou o grupo de Cachoeira dois meses antes.
Consulta As investigações da Polícia Federal interceptaram também outro telefonema, desta vez entre Deuselino e uma mulher, justamente para tratar de um emprego para ela. Em diálogo na tarde de 15 de abril de 2011, o delegado federal pergunta à mulher se ela gostaria de um emprego em Anápolis ou em Goiânia, em vez de trabalhar no Detran. A resposta foi: “Qualquer lugar, meu amigo.” Deuselino, então, a chama de “doida” e informa que arrumou uma vaga na Câmara de Anápolis.
A mulher topa e ele prossegue perguntando se ela ainda está linda. E completa: “Tô com saudade. Muita saudade”. Ao final do diálogo, o delegado federal não se contenta em ter conseguido a vaga de emprego e ainda promete mandar buscar sua apadrinhada para levá-la até o novo trabalho. No entanto, Cachoeira desiste de atender Deuselino de imediato e adia a contratação para nova data, mais conveniente para seus negócios. Outras conversas gravadas durante as investigações demonstram que Cachoeira funcionava também como uma grande agência de empregos. A diferença é que os salários eram estabelecidos por ele, de acordo com seus interesses.
O dia D dos amigos
A previsão mais otimista para o futuro do contraventor Carlinhos Cachoeira é de que o Superior Tribunal Justiça (STJ) julgue apenas no dia 8 o pedido de liberdade feito por seus advogados. Coincidentemente, na mesma data o amigo Demóstenes Torres (sem partido-GO) saberá se o Conselho de Ética vai ou não abrir o processo que pode levar à cassação de seu mandato. Os advogados do contraventor já descartaram a possibilidade de entrar com novo habeas corpus antes do julgamento do mérito pelo STJ. "Não vamos fazer isso. Vamos esperar o julgamento do STJ", adiantou-se a advogada Dora Cavalcanti, uma das defensoras de Cachoeira. Cachoeira está preso desde o dia 29 de fevereiro, quando foi deflagrada a Operação Monte Carlo, da Polícia Federal.
DIÁLOGOS DO CHEFE
O contraventor Carlinhos Cachoeira e o vereador tucano Fernando de Almeida Cunha (PSDB)
Dia: 24/03/2011 - Hora: 9:59:20
Carlinhos: Ô Fernandinho e aí? Aquela Lívia, que eu pedi, que é
sobrinha do Dr. Deuselino... Pedi pra você pôr lá no seu gabinete. Você pôs?
Fernandinho: Lívia? Sobrinha de quem? Dr...
Carlinhos: Dr. Deuselino.
Fernandinho: Não, não pus não. Você me pediu mesmo? Certeza?
Carlinhos: (incompreensível)
Fernandinho: Ah? E, você pediu... a última que você me pediu foi a do Paraíba. Você tem que me mandar então aqui ela, ela vir aqui.
Carlinhos: Lívia. Não pedi não?
Fernandinho: Não. Tô falando sério, pediu não. A última foi do Paraíba e eu ainda te falei ontem que não tinha jeito de entrar este mês, só mês que vem porque ele me entregou um papelzinho depois daquele dia.
Carlinhos: Anota o telefone dela aí. É a sobrinha do dr. Deuselino,
delegado da Polícia Federal 8200-XXXX.
Fernandinho: 8200-XX...
Carlinhos: ..XX. Você põe ela aí pra mim? Põe um salário de 1.500.
Fernandinho: Vou ligar pra ela aqui agora. Te retorno aí.
Carlinhos: Lívia, sobrinha do dr. Deuselino. Então você liga pra ela, eu vou apagar ela aqui, tá bom?
Fernandinho: Tá bom. Eu te ligo aí pra te falar.
(encerrada)
Delegado federal Deuselino Valadares com mulher não identificada (MNI)
Dia: 15/4/2011 - Hora: 13:58:15
Deuselino: Deixa eu te falar, em vez do Detran, você prefere
emprego em Anápolis ou Goiânia?
MNI: Qualquer lugar meu amigo.
Deuselino: É doida.
MNI: Por quê? Tem disponibilidade para Anápolis?
Deuselino: Não, eu arrumei na Câmara aí.
MNI: Pode ser.
Deuselino: Pode ser?
MNI: Pode.
Deuselino: Ah, então tá, Tá organizado aí, tá bom? Aí eu vou só pegar... é... porque ele não tava conseguindo falar contigo e eu não sei o que aconteceu, aí eu já falei com ele ontem, aí é para trabalhar na Câmara aí, tá?
MNI: Tá joia. Tem problema não.
Deuselino: Como é que você está?
MNI: Tô indo
Deuselino: Tá linda?
MNI: Oi?
Deuselino: Tô com saudade.
MNI: É né. Tá.
Deuselino: Muita saudade (...) Então tá, deixa eu te falar, é... Eu vou ver com ele aqui. Eu te ligo daqui a pouco, conforme seja aí já, você pode ir lá agora à tarde?
MNI: Eu tô sem carro.
Deuselino: Uai, eu dou um jeito de mandar te buscar aí, tá?
MNI: Oi?
Deuselino: Eu vou só ver, se ele tiver no jeito lá, eu vou mandar um carro lá.