Brasília – A recusa do procurador-geral da República, Roberto Gurgel, em atender ao convite feito pela Comissão Parlamentar Mista de Inquérito (CPMI) do Cachoeira consumiu boa parte das discussões da reunião desta quarta-feira, na comissão. Deputados e senadores da CPMI se dividiram e governistas defenderam a convocação de Gurgel, enquanto os da oposição alegaram que ela não poderia ser feita pela comissão, do ponto de vista legal, e que o depoimento dele enfraqueceria seu trabalho no Ministério Público Federal.
O senador Álvaro Dias (PSDB-PR), líder dos tucanos no Senado, foi contra a convocação de Gurgel. “O procurador-geral da República merece o nosso respeito, adquiriu respeitabilidade. É um homem público correto e tem da nossa parte o apoio intransigente para que possa cumprir o seu dever ao final dos trabalhos dessa comissão. Há que se distinguir procuradores do procurador-geral da República. É uma outra situação, é outro cenário. Ele não pode ser convocado", disse.
Já o deputado Cândido Vaccarezza (PT-SP) defendeu a convocação e disse que o procurador-geral tem explicações a dar a população devido à demora em oferecer denúncia contra o senador Demóstenes Torres e o empresário Carlos Augusto de Almeida Ramos, conhecido como Carlinhos Cachoeira, acusado de envolvimento com jogos ilegais e de formar uma rede de influência envolvendo políticos. "O procurador pode ser convocado sim. Além disso, ele tem uma explicação a dar à sociedade brasileira. Ele tem que explicar porque ficou sentado nessas acusações por quase três anos", observou Vaccarezza.
Já o deputado Maurício Quintella Lessa (PR -AL) acredita que a decisão de convocação de Gurgel deve ser tomada após a primeira análise dos documentos e depois que a comissão ouvir os primeiros depoimentos. "Se ficar claro que houve prevaricação por parte do procurador-geral, ele precisar dar satisfação a essa CPMI e à sociedade", disse.
Hoje, Gurgel rejeitou convite feito pela CPMI do Cachoeira. Em nota divulgada pela Procuradoria-Geral da República (PGR), ele alegou que um depoimento seu à comissão “poderá, futuramente, torná-lo impedido para atuar nos inquéritos em curso e ações penais subsequentes”. Ele também garantiu que o Ministério Público Federal “não se furtará a investigar quem quer que seja”.
Gurgel voltou a explicar os motivos que retardaram o pedido de abertura de inquérito no STF, já que recebeu as primeiras informações sobre o envolvimento de políticos com Cachoeira ainda em 2009. Segundo o procurador, os dados iniciais eram insuficientes e os indícios mais robustos chegaram apenas com a Operação Monte Carlo, da Polícia Federal. O material completo dessas apurações foi encaminhado à PGR pela Justiça Federal em Goiás no início de março.