O senador Demóstenes Torres (sem partido-GO), investigado pelo Supremo Tribunal Federal (STF) por suspeita de envolvimento com a organização criminosa comandada pelo contraventor Carlos Augusto de Almeida Ramos, o Carlinhos Cachoeira, funcionava como um verdadeiro despachante de luxo do chefe da jogatina no Brasil. Adulado com propinas de cerca de R$ 3 milhões e mimos como passeio de avião, vinhos caríssimos, home theater e festa com foguetório, Demóstenes cumpria ordens do bicheiro, como acompanhar empresários em órgãos do governo e intervir a favor de amigos da área de educação. O contraventor chegou até a definir se o senador deveria comparecer a audiências da Comissão de Infraestrutura, da qual ele era integrante permanente.
No dia 12 de julho, Demóstenes Torres viveu uma verdadeira saia justa. Segundo diálogo interceptado pela Polícia Federal, Carlinhos Cachoeira determinou que o senador não comparecesse à sessão da comissão que iria inquirir Luiz Antonio Pagot, ex-diretor-geral do Departamento Nacional de Infraestrutura em Transportes (Dnit), sobre denúncias de corrupção envolvendo o Ministério dos Transportes e a cúpula da autarquia. Demóstenes, que naquele momento era um dos principais críticos do governo federal, fez de tudo para convencer o contraventor de que essa não era a melhor estratégia.
O medo de Cachoeira era de que, pressionado, o ex-diretor do Dnit terminasse por revelar que o senador Demóstenes intercedeu para que Pagot se encontrasse com o então presidente da Delta Construções, Fernando Cavendish, afastado do cargo no mês passado. O tema do encontro era o interesse da Delta, que tem estreita ligação com o contraventor, em abocanhar novos contratos com a União envolvendo obras no setor de transportes. Convencido da necessária presença de Demóstenes, Cachoeira recomendou: “Não aperta o homem. Cuidado com as perguntas”. Não satisfeito, o bicheiro escolheu um intermediário para justificar para Pagot a presença do senador na comissão durante o depoimento. A missão dele era deixar claro para o ex-diretor do Dnit que o parlamentar cumpria uma mera formalidade, mas continuava sendo um parceiro.
Com tantos negócios, Cachoeira usou Demóstenes Torres para servir de acompanhante a um de seus parceiros, o empresário Rossini Aires Guimarães, que tinha pendências no Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama). Em um telefonema, o senador se colocou à disposição prontamente e quis apenas saber o horário marcado, já que tinha uma viagem agendada para as 17h. Cachoeira, que desconhecia a pretensão de Rossini, informou que o encontro aconteceria duas horas antes do embarque do senador.
Em um segundo telefonema, nove horas depois do primeiro, que aconteceu à meia-noite, Demóstenes se mostrou ainda mais solícito para atender Cachoeira. Ainda sem conhecer a demanda do empresário, diz: “Eu tô achando que esse trem do Ibama não vai resolver nada pra ele, não. Tô às ordens, mas acho melhor ir por cima. Eu tenho bom acesso à ministra (Isabela Teixeira, que comanda a pasta do Meio Ambiente).” A ideia atraiu o contraventor.
Faculdade
O bicheiro pediu ao senador também que fizesse lobby no Ministério da Educação para resolver pendências envolvendo a Faculdade Padrão, de propriedade de Walter Paulo. Nas escutas, Demóstenes revelou ter cumprido as ordens do contraventor e conversado com José Paim Fernandes, secretário-executivo da pasta, na tentativa de conseguir um encontro com o então ministro, Fernando Haddad.
No dia 12 de julho, o bicheiro ligou para o senador perguntando se ele havia conseguido falar com o ministro. "Não deram notícia não. Vou cobrar hoje de novo. Eu até tinha pedido uma audiência pra ele (ministro). Falei com o Paim, que é o secretário-executivo dele. Vou cobrar lá", disse o senador. No ano passado, um pedido da faculdade para criar um curso de medicina foi negado pelo MEC.
Diálogo
Dia: 14/04/2011
Hora: 00h15
Cachoeira: O Rossini vai tá aí amanhã. Vá com ele lá no Ibama.
Demóstenes: Uai, tranquilo.
Cachoeira: Tentei falar com você mais cedo.
Demóstenes: Pra ir ao Ibama, por quê?
Cachoeira: Ao Ibama. Já tá marcado lá. Você pode acompanhar ele lá.
Demóstenes: Ah, tá. Que hora?
Cachoeira: Três horas.
Demóstenes: Meu voo é às cinco. Tem que ver como é que faz. Eu vou lá com ele. Cinco, dá pra ir. Fala pra ele chegar e me procurar.
Dia: 14/4/2011
Hora: 09h44
Demóstenes: Ô… me diga uma coisa. O que que é o negócio do Rossini? Ele tinha falado comigo. Nós tínhamos ficado de ir à ministra a hora que ele quisesse. Ele ia consultar o advogado…
Cachoeira: Eu não sei não. Eu vou falar para ele te chamar no rádio aí, agora. Você fala com ele.
Demóstenes: Na hora. Mande ele me procurar aqui. Eu tô achando que esse trem do Ibama não vai resolver nada pra ele, não. Tô às ordens, mas acho melhor ir por cima. Eu tenho bom acesso à ministra.
Cachoeira: É ministra?
Demóstenes: Ministra! Ministra do Meio Ambiente. O Ibama é subordinado a ela, uai.
Cachoeira: Vou falar para ele te chamar aí. Obrigado, aí.
No dia 12 de julho, Demóstenes Torres viveu uma verdadeira saia justa. Segundo diálogo interceptado pela Polícia Federal, Carlinhos Cachoeira determinou que o senador não comparecesse à sessão da comissão que iria inquirir Luiz Antonio Pagot, ex-diretor-geral do Departamento Nacional de Infraestrutura em Transportes (Dnit), sobre denúncias de corrupção envolvendo o Ministério dos Transportes e a cúpula da autarquia. Demóstenes, que naquele momento era um dos principais críticos do governo federal, fez de tudo para convencer o contraventor de que essa não era a melhor estratégia.
O medo de Cachoeira era de que, pressionado, o ex-diretor do Dnit terminasse por revelar que o senador Demóstenes intercedeu para que Pagot se encontrasse com o então presidente da Delta Construções, Fernando Cavendish, afastado do cargo no mês passado. O tema do encontro era o interesse da Delta, que tem estreita ligação com o contraventor, em abocanhar novos contratos com a União envolvendo obras no setor de transportes. Convencido da necessária presença de Demóstenes, Cachoeira recomendou: “Não aperta o homem. Cuidado com as perguntas”. Não satisfeito, o bicheiro escolheu um intermediário para justificar para Pagot a presença do senador na comissão durante o depoimento. A missão dele era deixar claro para o ex-diretor do Dnit que o parlamentar cumpria uma mera formalidade, mas continuava sendo um parceiro.
Com tantos negócios, Cachoeira usou Demóstenes Torres para servir de acompanhante a um de seus parceiros, o empresário Rossini Aires Guimarães, que tinha pendências no Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama). Em um telefonema, o senador se colocou à disposição prontamente e quis apenas saber o horário marcado, já que tinha uma viagem agendada para as 17h. Cachoeira, que desconhecia a pretensão de Rossini, informou que o encontro aconteceria duas horas antes do embarque do senador.
Em um segundo telefonema, nove horas depois do primeiro, que aconteceu à meia-noite, Demóstenes se mostrou ainda mais solícito para atender Cachoeira. Ainda sem conhecer a demanda do empresário, diz: “Eu tô achando que esse trem do Ibama não vai resolver nada pra ele, não. Tô às ordens, mas acho melhor ir por cima. Eu tenho bom acesso à ministra (Isabela Teixeira, que comanda a pasta do Meio Ambiente).” A ideia atraiu o contraventor.
Faculdade
O bicheiro pediu ao senador também que fizesse lobby no Ministério da Educação para resolver pendências envolvendo a Faculdade Padrão, de propriedade de Walter Paulo. Nas escutas, Demóstenes revelou ter cumprido as ordens do contraventor e conversado com José Paim Fernandes, secretário-executivo da pasta, na tentativa de conseguir um encontro com o então ministro, Fernando Haddad.
No dia 12 de julho, o bicheiro ligou para o senador perguntando se ele havia conseguido falar com o ministro. "Não deram notícia não. Vou cobrar hoje de novo. Eu até tinha pedido uma audiência pra ele (ministro). Falei com o Paim, que é o secretário-executivo dele. Vou cobrar lá", disse o senador. No ano passado, um pedido da faculdade para criar um curso de medicina foi negado pelo MEC.
Diálogo
Dia: 14/04/2011
Hora: 00h15
Cachoeira: O Rossini vai tá aí amanhã. Vá com ele lá no Ibama.
Demóstenes: Uai, tranquilo.
Cachoeira: Tentei falar com você mais cedo.
Demóstenes: Pra ir ao Ibama, por quê?
Cachoeira: Ao Ibama. Já tá marcado lá. Você pode acompanhar ele lá.
Demóstenes: Ah, tá. Que hora?
Cachoeira: Três horas.
Demóstenes: Meu voo é às cinco. Tem que ver como é que faz. Eu vou lá com ele. Cinco, dá pra ir. Fala pra ele chegar e me procurar.
Dia: 14/4/2011
Hora: 09h44
Demóstenes: Ô… me diga uma coisa. O que que é o negócio do Rossini? Ele tinha falado comigo. Nós tínhamos ficado de ir à ministra a hora que ele quisesse. Ele ia consultar o advogado…
Cachoeira: Eu não sei não. Eu vou falar para ele te chamar no rádio aí, agora. Você fala com ele.
Demóstenes: Na hora. Mande ele me procurar aqui. Eu tô achando que esse trem do Ibama não vai resolver nada pra ele, não. Tô às ordens, mas acho melhor ir por cima. Eu tenho bom acesso à ministra.
Cachoeira: É ministra?
Demóstenes: Ministra! Ministra do Meio Ambiente. O Ibama é subordinado a ela, uai.
Cachoeira: Vou falar para ele te chamar aí. Obrigado, aí.