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Estado de Minas

Entenda as alianças de Demóstenes Torres em rota de cassação

Relator pede abertura de processo disciplinar contra Demóstenes por suas ligações com o bicheiro e por mentir em plenário. Na votação secreta, PMDB pode ser a tábua de salvação


postado em 04/05/2012 06:00 / atualizado em 04/05/2012 07:34

Humberto Costa cumprimenta Kakay, advogado de Demóstenes, depois de ler as 63 páginas de seu parecer na Comissão de Ética do Senado(foto: Wilson Dias/ABr)
Humberto Costa cumprimenta Kakay, advogado de Demóstenes, depois de ler as 63 páginas de seu parecer na Comissão de Ética do Senado (foto: Wilson Dias/ABr)
O destino do senador Demóstenes Torres (sem partido-GO) está hoje nas mãos de correligionários e das alianças que ele construiu durante sua trajetória política. Ontem, o Conselho de Ética do Senado deu mais um passo no processo que pode levar à cassação do parlamentar, com a apresentação do parecer do relator, senador Humberto Costa (PT-PE). Ele pediu a abertura de processo disciplinar contra  Demóstenes, que aparece na Operação Monte Carlo, da Polícia Federal, como um dos integrantes da organização do empresário do jogo Carlos Augusto Ramos, o Carlinhos Cachoeira. Para caminhar, no entanto, o relatório de Costa tem que ser aprovado por maioria dos votos dos 11 integrantes do conselho, em sessão marcada para terça-feira. Se acatado, o pedido de cassação só deverá chegar ao plenário do Senado próximo do recesso parlamentar, que começa em 18 julho (veja quadro com os próximos passos).

Na votação secreta sobre o destino de Demóstenes, o governista PMDB pode ser o fiel da balança. É que o parlamentar, que deixou o DEM no início de abril quando estava sob ameaça de expulsão, tramava há quase um ano sua desfiliação do partido, para engrossar a fileira da base do governo no PMDB. O grande mentor da manobra foi justamente Carlinhos Cachoeira, que garantiu ao senador que o DEM tinha “naufragado”, de acordo com telefonema interceptado pela Polícia Federal em abril do ano passado.

No diálogo com o chefe da jogatina no Brasil, o oposicionista Demóstenes faz bravata sobre a possível troca de partido, afirmando que a presidente Dilma Rousseff já pretendia falar com ele “por debaixo”. Cachoeira foi o padrinho da aproximação do democrata com o PMDB. Conforme o inquérito que tramita no Supremo Tribunal Federal (STF), o senador e sua mulher comemoraram a oportunidade de dividir a mesa com um seleto grupo de peemedebistas, como Renan Calheiros (AL) e José Sarney (AP), durante um jantar. Em conversa com o bicheiro, a mulher de Demóstenes, Flávia Coelho, não esconde a satisfação com a situação política do marido: “Fui a um jantar no Sarney com o Demóstenes. O Demóstenes é hoje um dos mais influentes que existem no quadro nacional todo, tem trânsito com todo mundo”, disse.

Mesmo oficialmente filiado ao DEM, Demóstenes tramava ao lado do parceiro Cachoeira assumir o controle do PMDB de Anapólis (GO), cidade onde o bicheiro tinha grande volume de negócios, e evitar a reeleição do prefeito Antônio Gomide (PT). Naquele momento, os líderes peemedebistas  pretendiam apoiar a reeleição do petista e não lançar candidato próprio.

O contraventor teria promovido também a aproximação de Demóstenes com o governador de Goiás, Marconi Perillo (PSDB), com quem teria ligações políticas e de negócios. O democrata mostrava muita desenvoltura em questões partidárias envolvendo os tucanos. Em uma das conversas gravadas pela Polícia Federal, Cachoeira pede ao senador que interceda junto a Perillo para que o PSDB aceitasse vaga de vice em chapa com o PMDB para disputar a Prefeitura de Anapólis. No ano passado, já estavam adiantadas as negociações entre Demóstenes e os caciques do PMDB para a troca de partido do senador. O parlamentar, entretanto, temia que o DEM pedisse seu mandato na Justiça.

Mentira

Ontem, ao ler o relatório em que pediu a abertura de processo disciplinar contra Demóstenes, Costa considerou que o senador mentiu no plenário da Casa, em 6 de março, ao afirmar que atuava contra a legalização do jogo de azar no país, apesar de ser amigo do bicheiro Carlinhos Cachoeira. “Sempre me opus ao jogo, votando contra todas as iniciativas de legalizá-lo. Portanto, atuei às claras no combate às causas costumeiramente tratadas nos subterrâneos”, disse o senador no depoimento. De acordo com a investigação da Polícia Federal, entretanto, Demóstenes chegou a consultar o bicheiro sobre os efeitos para os negócios do amigo de uma possível aprovação de um projeto de lei que tratava do tema.

No documento de 63 páginas, que segundo Costa teve como embasamento apenas a investigação da PF, o relator afirma ainda que as relações entre Demóstenes e Cachoeira são antigas, que o parlamentar teria recebido do bicheiro “valor questionável na forma de presente de casamento” e ainda “vantagem indevida ao aceitar um rádio Nextel”.

Os integrantes do Conselho de Ética terão até terça-feira para analisar os argumentos sustentados por Costa e decidir se o processo deve ser aberto. Se o pedido for aprovado, terá início a segunda etapa dos trabalhos: a análise de mérito. Só depois disso é que o processo de cassação pode ir ao plenário do Senado. A decisão final depende do voto secreto da maioria dos membros da Casa. Demóstenes esteve no Senado ontem pela manhã e registrou presença no plenário. Ele falou com assessores e desapareceu. Deixou em seu lugar na sessão do Conselho de Ética seu advogado, Antônio Carlos de Almeida Castro, o Kakay.

A vez da sala-cofre

Mesmo depois do festival de vazamentos das informações e diálogos da Operação Vegas e da Monte Carlo, o presidente da CPI do Cachoeira, senador Vital do Rêgo (PMDB-PB), criou uma espécie de caverna monitorada por um sistema de câmeras e sem internet para guardar o inquérito contra o senador Demóstenes Torres, enviado pelo Supremo Tribunal Federal. Vital resolveu passar a chave depois que a porta já estava escancarada. O senador justificou a criação da sala-cofre alegando que ainda há muita informação que não foi vazada. "Estou fazendo minha parte", resumiu. O cofre, vigiado 24 horas por dia por 12 policiais, fica no subsolo da sala onde funciona a comissão. Os integrantes da CPI mista só poderão acessar os documentos a partir das 9h de segunda-feira, um dia antes do depoimento do delegado da Polícia Federal Raul Alexandre Marques, responsável pela Operação Vegas. Não haverá tempo determinado para a pesquisa.


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