Jornal Estado de Minas

Já são 13 parlamentares envolvidos no esquema de Cachoeira

Vinícius Sassine
Brasília – A rede do bicheiro Carlinhos Cachoeira já inclui 13 parlamentares que deverão dar explicações na comissão parlamentar de inquérito (CPI) instalada no Congresso, em algum momento da apuração. Os desdobramentos da Operação Monte Carlo, da Polícia Federal, motivaram a abertura de procedimentos de investigação contra o senador Demóstenes Torres (sem partido-GO), no Conselho de Ética do Senado; contra os deputados Carlos Alberto Leréia (PSDB-GO), Sandes Júnior (PP-GO) e Rubens Otoni (PT-GO), na Corregedoria da Câmara; e contra o deputado Protógenes Queiroz (PCdoB-SP), no Conselho de Ética da mesma Casa. Esses parlamentares começaram a ser investigados pelo Congresso antes mesmo do início dos trabalhos da CPI. O Estado de Minas apurou que o suposto envolvimento de outros deputados federais e de dois suplentes de senador – com chances reais de assumir o mandato – no esquema de Cachoeira é bem maior do que o apontado até agora pelos próprios suspeitos.
Reunião da comissão de inquérito do Cachoeira: o colegiado de deputados e senadores investiga a relação do bicheiro com políticos - Foto: Bruno Peres/CB/D.A Press
É o caso do deputado federal Leonardo Vilela (PSDB-GO), que admitiu ter pedido a Cachoeira emprego para a filha farmacêutica e ter solicitado ao bicheiro um jantar com Demóstenes. As conversas telefônicas transcritas para o inquérito da Monte Carlo mostram que o parlamentar, pré-candidato do PSDB à Prefeitura de Goiânia, participou de diferentes jantares com o senador e, nessas ocasiões, foi alvo dos interesses comerciais de Cachoeira. O bicheiro, que atuava para a Delta Construções, estava insatisfeito com a compra de uma área em Águas Lindas (GO), na Região Metropolitana de Goiânia, pela Construtora Queiroz Galvão. A empreiteira seria a responsável pelo lixão do município. “O Leonardo Vilela, do Meio Ambiente de Goiás, tem condição de travar”, disse Cachoeira a Cláudio Abreu, então diretor da Delta no Centro-Oeste, num diálogo gravado em 26 de abril do ano passado.
Leonardo Vilela exerceu o cargo de secretário de Meio Ambiente no governo de Marconi Perillo (PSDB) até março deste ano, quando retornou à Câmara. Cachoeira queria conquistar o contrato de inspeção veicular, objeto de um edital na secretaria, e para isso contava com o pré-candidato tucano à Prefeitura de Goiânia. “Hoje eu vou jantar com o Leonardo à noite. Leonardo Vilela”, afirmou o bicheiro a Cláudio Abreu, numa conversa telefônica sobre o contrato de inspeção veicular. “Só eu, o Demóstenes e ele. Só nós três.”

Ao Estado de Minas, Leonardo Vilela disse não ter recebido nenhum pedido para interromper uma obra da Queiroz Galvão. Já sobre o contrato de inspeção veicular, o deputado afirmou que recebeu “dois ou três grupos” interessados em atuar na área. “Não me lembro quem são esses grupos.” Segundo o tucano, o edital para a contratação da empresa responsável pela fiscalização da emissão de poluentes não foi adiante. Leonardo Vilela confirmou ter participado “algumas vezes” de jantares com Demóstenes. “Eu me lembro de o Cachoeira estar presente uma vez.”

Parceria Outros dois auxiliares diretos de Perillo, com chances reais de assumir o mandato no Congresso, são ligados a Cachoeira, conforme as investigações da PF. Um deles, o deputado federal eleito Thiago Peixoto (PSD-GO), secretário de Educação de Perillo, pode ter recebido o bicheiro na própria secretaria. Numa conversa entre Cachoeira e o deputado Carlos Alberto Leréia, o contraventor diz estar “na Secretaria de Educação acompanhando um prefeito para falar com o secretário”. Peixoto não atendeu as ligações do EM.

Se Demóstenes Torres for cassado no Senado, quem assumirá é o empresário da construção civil Wilder Morais (DEM-GO), primeiro suplente e secretário de Infraestrutura do governo de Goiás. Cachoeira “brigou” para Wilder ser suplente de Demóstenes, conforme diálogos telefônicos usados na Monte Carlo. O empresário também procurou Perillo para falar de assuntos tratados previamente com o bicheiro e discutiu projetos de parceria público-privada com Cachoeira e Demóstenes, como mostram as conversas. Wilder não comenta sobre o suposto envolvimento com o bicheiro, hoje casado com a ex-mulher do suplente, Andressa Mendonça. Outro empreiteiro-suplente, Ataídes Oliveira (PSDB-TO), é mais que amigo de infância de Cachoeira, como sustenta. O substituto do senador João Ribeiro (PR-TO) aproximou o bicheiro do governador de Tocantins, Siqueira Campos (PSDB), e emprestou aviões para o contraventor pôr a serviço da Delta Construções.

Rapidez nas apurações


Brasília – O relator do processo aberto contra o deputado Carlos Alberto Leréia (PSDB-GO) na Corregedoria da Câmara, Jerônimo Goergen (PP-RS), diz já ter informações suficientes para emitir seu parecer sobre o parlamentar envolvido com Carlinhos Cachoeira e pretende defender maior celeridade no trabalho da comissão. “Só vamos avaliar a representação e julgar se houve relação política dos parlamentares com o Cachoeira e, para isso, não precisamos de nenhuma prova de fora ou até mesmo de detalhes do inquérito.” Goergen lembra que o simples fato de um parlamentar manter relação próxima com alguém que publicamente comete atos ilícitos pode ser considerado quebra de decoro. “Não estou adiantando meu parecer, mas o deputado Leréia tem dificultado muito a situação dele ao dizer publicamente que é amigo do Cachoeira”, destacou o relator, referindo-se ao discurso feito pelo tucano na quinta-feira, quando ele parabenizou o bicheiro pelo aniversário e assumiu que são “amigos pessoais”.

Uma comissão de sindicância da Corregedoria da Câmara apura há 15 dias se os deputados Leréia, Rubens Otoni (PT-GO) e Sandes Júnior (PP-GO) quebraram o decoro parlamentar ao se relacionar com o bicheiro. O autor da representação contra os três é o PSOL. Os três já apresentaram defesa, negando que a relação que mantinham com Cachoeira seja irregular. Se a decisão for pela punição aos parlamentares, o processo será encaminhado ao Conselho de Ética da Casa.

Na quarta-feira, o deputado Protógenes Queiroz (PCdoB-SP) também pode começar a ser investigado. O Conselho de Ética e Decoro Parlamentar da Câmara se reunirá para analisar a representação entregue pelo PSDB contra o parlamentar. Protógenes havia sido o primeiro a apresentar um requerimento para a abertura de uma CPI sobre o caso Cachoeira, quando apenas a relação do senador Demóstenes Torres (sem partido-GO) com o bicheiro havia sido divulgada. Protógenes aparece em conversas telefônicas com o araponga Idalberto Matias de Araújo, o Dadá, que integrava o grupo de Cachoeira. (AC e VS)