Jornal Estado de Minas

Peso do cargo faz prefeitos de 40 cidades mineiras desistirem da reeleição

Rivais apontam jogo de cena ou medo das urnas

Leonardo Augusto
Brasília – Desiludidos, doentes e cansados da política, prefeitos em primeiro mandato de pelo menos 40 cidades mineiras, conforme dados da Confederação Nacional de Municípios (CNM), anunciam que não vão tentar a reeleição, apesar de garantirem ter feito uma administração impecável. A oposição, no entanto, diz que é tudo jogo de cena e que a desistência ocorre por outros motivos, sobretudo a falta de respaldo popular e de apoio político para disputar o cargo novamente.
A batida em retirada das eleições de outubro já foi confirmada por um ex-deputado estadual com quatro mandatos na Assembleia, o prefeito de Leopoldina, na Zona da Mata, Benedito Rubens Renó, o Bené Guedes (PSDB). Aos 70 anos, dos quais 43 na política, o ex-parlamentar afirma não ter mais saúde para uma segunda campanha consecutiva para o Executivo municipal. “Tive uma isquemia recentemente e hoje prefiro apoiar outra pessoa do nosso grupo. Tenho muito tempo de voo na política e é preciso passar a vez para os mais jovens”, diz Bené Guedes.

Rival do prefeito, o vereador Ivan Martins Nogueira (PMDB) afirma que o adversário pode até estar cansado, mas, acredita, não seria esse o motivo da partida de Guedes, ainda que momentaneamente, da vida pública. “A cidade está cheia de buracos. As estradas na zona rural sofrem com o mesmo problema. Se concorresse, não ganharia”, afirma o parlamentar. Outro problema enfrentado pelo prefeito, conforme informações que circulam na cidade, é ter um “bom coração”. Faltaria a Guedes coragem para substituir secretários que não trabalham direito, uma relutância que teria prejudicado a administração e, consequentemente, sua avaliação perante o eleitorado.

Companheira de partido do vereador, a prefeita de Carneirinho, no Triângulo Mineiro, Dalva Maria de Queiroz Tiago, de 67, também vai se aposentar. “Cansei da política. Há mais de 30 anos, eu e meu marido estamos envolvidos com a vida pública e nem sempre tivemos o respeito merecido”, argumenta a peemedebista, referindo-se a ataques que sofre na Câmara da cidade. A prefeita diz ainda que pretende agora ficar mais próximo da família. “Quero sossego”, afirma.

O vereador Sirvaldo Socorro de Toledo (DEM), porém, aponta outro motivo para a desistência da prefeita de participar de nova disputa pela administração municipal. “Dalva terceirizou tudo no município, a coleta de lixo, o transporte universitário, os caminhões basculante e as máquinas com pás carregadeiras. Disse que os custos cairiam, mas a prefeitura entrou o ano passado com um estouro de R$ 6 milhões no orçamento”, diz o parlamentar. Conforme Sirvaldo, a receita anual de Carneirinho é de R$ 30 milhões.

O prefeito de Carmo do Paranaíba, Helder Costa Boaventura (DEM), também não terá o nome nas urnas em outubro. O chefe do Poder Executivo local, porém, se nega a declarar a razão da desistência de participar de mais uma campanha. “São assuntos particulares”, resume. O vereador da oposição, Silas Rezende (PMDB), afirma, contudo, que a decisão do prefeito tem fundamento mais público. “Helder disse que construiria uma clínica para a saúde da mulher e não cumpriu a promessa. Afirmou que asfaltaria a estrada para Quintinos (um distrito de Carmo do Paranaíba), mas a obra também não saiu”, acusa.

Ao mesmo tempo, o parlamentar considera que o anúncio do prefeito de que não pretende disputar novo pleito na cidade, localizada no Alto Paranaíba, pode ser apenas um blefe. “Se afirmar agora que pretende partir para a reeleição vai apanhar por mais tempo dos adversários, colocando em risco uma possível vitória”, argumenta Silas. “Acredito que o prefeito vai dizer que é candidato, mas mais tarde”, acrescenta. O prazo para as convenções partidárias escolherem quem vai disputar prefeituras e cadeiras na câmaras municipais termina em 30 de junho.