Jornal Estado de Minas

Parlamentares da CPMI pressionam por mudanças no acesso a documentos sigilosos

João Valadares
Brasília – Grupo de deputados e senadores que integram a CPI mista do Cachoeira se reúne no fim da tarde de hoje para decidir encaminhamentos contra as medidas restritivas tomadas pelo presidente da comissão, senador Vital do Rêgo (PMDB-PB), em relação ao acesso às informações do inquérito da Operação Vegas. O descontentamento é grande e a confusão que se aproxima parece ser maior ainda. Numa espécie de caverna, localizada no subsolo da sala onde funciona a comissão, só há três computadores para 32 integrantes. Não foi definido nenhum critério para acesso aos dados. O mais provável é que seja por ordem de chegada. Além disso, os parlamentares só podem entrar na chamada sala-cofre, monitorada por câmeras e sem internet, depois de deixar os aparelhos eletrônicos do lado de fora. Reservadamente, alguns insatisfeitos cogitam até mesmo a possibilidade de acionar a Justiça para tentar impedir o que chamam de bloqueio às informações.
O senador Pedro Taques (PDT-MT) declarou, ontem, que a atitude inviabiliza o caráter fiscalizatório do legislador. “Uma das funções primárias do legislador é fiscalizar. Estamos impedidos até mesmo de entrar com nossos assessores para analisar as informações. Tenho que ler o inquérito no local e guardar na minha mente de super-homem. O detalhe é que são apenas 20 mil páginas”, ironizou. O parlamentar preferiu não detalhar as medidas que o grupo vai tomar. “Vamos nos reunir e avaliar esses pontos. Já existe um movimento contrário às medidas. Como vamos fazer os nossos questionamentos dessa maneira? Respeito a posição do presidente, mas é preciso dizer que essa postura inviabiliza o nosso trabalho.”

Na sexta-feira, o senador Cássio Cunha Lima (PSDB-PB) já havia demonstrado grande insatisfação. Ele informou que vai requerer, além do fim do que considera restrição ao trabalho investigativo da CPI mista, todo o material bruto referente às interceptações telefônicas que ficou de fora do inquérito. O senador Vital do Rêgo já deu demonstrações de que não vai ceder à pressão do grupo descontente.

Depoimentos Na terça-feira pela manhã, a CPI mista do Cachoeira ouvirá o delegado da Polícia Federal Raul Alexandre Marques Souza, responsável pela investigação da Operação Vegas. Na quinta-feira, é a vez do também delegado da PF Matheus Mella Rodrigues e dos procuradores da República Daniel de Rezende Salgado e Lea Batista de Oliveira, que estiveram à frente da Operação Monte Carlo. Existe uma grande probabilidade de os depoimentos serem fechados, numa tentativa de preservar os investigadores. No entanto, este encaminhamento precisa ser aprovado pelos integrantes da comissão.

Um dos momentos mais aguardados da CPI mista, o depoimento do contraventor Carlos Augusto Ramos, o Carlinhos Cachoeira, ocorrerá na terça-feira da próxima semana. Ainda não há decisão se ele comparecerá algemado e em trajes prisionais. O ex-diretor da empresa Delta Cláudio Abreu vai à comissão no dia 29. Dois dias depois, o senador goiano Demóstenes Torres (sem partido), no foco das denúncias, será ouvido.

Cronograma de depoimentos

Amanhã – Delegado da Polícia Federal Raul Alexandre Marques Souza, responsável pela investigação da Operação Vegas.

Quinta-feira – Delegado da Polícia Federal Matheus Mella Rodrigues e dos procuradores da República Daniel de Rezende Salgado e Lea Batista de Oliveira, responsáveis pela investigação da Operação Monte Carlo

Dia 15 – Contraventor Carlos Augusto Ramos, o Carlinhos Cachoeira

Dia 29 – Ex-diretor da empresa Delta Cláudio Abreu

Dia 31 – Senador Demóstenes Torres (sem partido-GO)