Brasília – A Procuradoria Geral da República (PGR) lançou ontem uma ofensiva para tentar livrar Roberto Gurgel de uma iminente convocação à CPI que investiga as relações do bicheiro Carlinhos Cachoeira com políticos e empresas públicas e privadas. Assessores do procurador-geral da República passaram o dia em telefonemas com deputados e senadores para transmitir dois recados ao Congresso: o primeiro, de que Gurgel está pronto para entrar com um mandado de segurança no Supremo Tribunal Federal (STF) caso seja convocado pela comissão. O segundo, um apelo para que o procurador-geral possa responder às perguntas da CPI por escrito, evitando o constrangimento de passar por um duro interrogatório.
A ação ocorreu um dia depois do depoimento do delegado da Polícia Federal Raul Alexandre Marques de Souza à CPI, que reforçou entre os integrantes da comissão, inclusive da oposição, o discurso pela convocação de Gurgel. Na CPI, o delegado expôs que um mês após encaminhar o inquérito da Operação Vegas à subprocuradora criminal Cláudia Sampaio, mulher de Roberto Gurgel, ela afirmou que não havia provas contundentes contra os parlamentares citados e que, portanto, nada seria feito em relação às pessoas com foro privilegiado.
Àquela altura, já havia sido constatada a participação do senador Demóstenes Torres (sem partido-GO) e dos deputados federais Carlos Alberto Leréia (PSDB-GO) e Sandes Júnior (PP-GO) na organização criminosa. O inquérito, então, foi interrompido e engavetado pela Procuradoria Geral da República (PGR) em setembro de 2009. Em outra frente, integrantes da CPI se mobilizam para convocar a subprocuradora Cláudia Sampaio. Segundo o delegado, foi ela quem informou à Polícia Federal, verbalmente, que a investigação não continha elementos suficientes para gerar denúncia contra Demóstenes.
O senador Cássio Cunha Lima (PSDB-PB), até anteontem contrário ao comparecimento de Gurgel, agora considera insustentável a situação dele. Embora ainda não defenda a convocação, o senador afirma que o procurador terá que prestar esclarecimentos, seja presencialmente ou respondendo a questionamentos por escrito.
Planalto reage à venda da Delta
A possível compra da Delta Construtora pelo grupo que comanda o JBS não altera a disposição do Planalto de romper o vínculo com a maior empresa envolvida no escândalo Cachoeira. A mudança do controle da empresa desagradou o Planalto. O Banco Nacional de Desenvolvimento Social (BNDES) injetou R$ 9,1 bilhões – 30% do capital total da empresa – no JBS, o que tornaria o governo federal sócio de uma empresa que enfrenta problemas na Justiça.