Cerca de 50 pessoas representando ao menos cinco movimentos sociais protestaram nesta quinta-feira de manhã na Câmara Municipal de São Paulo contra a cessão de um terreno na região da Cracolândia, centro da capital, para a construção do Memorial da Democracia, a ser administrado pelo Instituto Lula. Apesar de convidado, o Instituto Lula não enviou representante para o início da audiência pública da Comissão Permanente de Política Urbana, Metropolitana e Meio Ambiente.
A representante do movimento NasRuas, Carla Zambelli, que afirma representar mais de 70 mil pessoas que aderiram ao protesto, leu trechos de um e-mail que lhe teria sido enviado pelo jurista Ives Gandra Martins, comparando a doação do terreno aos Fuscas com que o então prefeito Paulo Maluf presenteou os jogadores campeões da Copa do Mundo de 1970. "Kassab e o próprio Lula podem vir a ter problemas legais", teria escrito Martins no e-mail.
O clima esquentou quando o vereador José Américo (PT) afirmou que os argumentos daqueles contrários à cessão do terreno soavam como de defensores da ditadura militar. "Vocês estão associados ao golpe de 1964", disse, sob vaias. "Existe uma política pública de concessão. Transformar o Memorial da Democracia no substituto de todas as creches que não temos tem viés ideológico", afirmou.
Representante da Prefeitura, o procurador Henrique Fugaya afirmou que a concessão do terreno - de cerca de 4 mil metros na Rua dos Protestantes - é importante porque o acervo documental dos dois mandatos do ex-presidente Lula é um patrimônio a ser conservado. "O acervo do FHC é particular, mas merece ter um apoio público", afirmou.
A Câmara Municipal já aprovou o projeto em primeira votação no dia 18. Foram 37 votos a favor, 10 contra e 1 abstenção. A audiência pública antecede uma segunda votação antes de o projeto, se aprovado, ser enviado para sanção do prefeito Gilberto Kassab (PSD).