O monumento deverá ficar pronto em julho, quando restarão aproximadamente 90 dias para as eleições municipais de outubro. A legislação eleitoral proíbe a inauguração de obras três meses antes do pleito, portanto em 7 de julho. A regra, contudo, vale para projetos tocados com recursos públicos.
Prefeito em segundo mandato, José Braz, por não poder se candidatar novamente, apoiará o vice, Aloísio Aquino (PSDB). A oposição, com temor de um cabo eleitoral que ao final das obras pesará aproximadamente 80 toneladas, promete reação.
O vereador Carlos Wilson (PMDB), pré-candidato a prefeito de Muriaé, afirma que ao término da construção da estátua vai pedir ao prefeito prestação de contas dos gastos com o monumento. O parlamentar diz ainda que a imagem do Cristo, mesmo ainda em edificação, já foi utilizada em convites para o fórum municipal de cultura realizado na cidade há dois meses. “Será que a obra servirá também como mote de campanha?”, questiona o parlamentar. José Braz afirma não precisar da obra com a qual presenteará a mulher para eleger o sucessor. “Estamos muito bem em Muriaé. Podem falar o que for, mas o nosso candidato vai ganhar”, diz.
Mas que a obra tem grande potencial para atrair votos, não há dúvidas. Além do clamor sobretudo entre os católicos, segundo o próprio prefeito, no local serão construídas ainda duas capelas, um salão de festas e um estacionamento. Toda a estrutura, diz José Braz, poderá ser usada gratuitamente para, por exemplo, festas de casamento. À noite, promete o prefeito, refletores coloridos iluminarão a estátua. “Será ainda um grande ponto turístico de Muriaé”, diz.
José Braz afirma ter pensado em contratar o religioso e cantor padre Marcelo para a inauguração do Cristo. “Mas seria necessário uma data mais exata para o fim das obras, o que ainda não temos”, argumenta.
O prefeito diz que a mulher pediu a construção da estátua no primeiro mandato do marido. Alega, no entanto, que só no ano passado decidiu começar o projeto. “Fui a uma festa em Ouro Fino (Região Sul de Minas), onde conheci a estátua do Menino da Porteira. Gostei e perguntei quem tinha feito. Me disseram que era um pessoal do Ceará, que acabei contratando para construir o Cristo Redentor em Muriaé”.
José Braz é empresário do setor de revenda de veículos. O grupo com atuação nacional que controla é o primeiro no país em venda de veículos Volkswagen, e o segundo no mundo no comércio de carros da marca, atrás apenas de uma empresa na China. “Um milhão para a construir o Cristo é muito dinheiro, mas dá para gastar”, diz.
Moradores A comunidade evangélica de Muriaé não concorda com a construção do Cristo na cidade. Segundo Roberto José Ferreira, de 60 anos, o pastor da igreja que ele frequenta questiona a obra sempre que possível. “Não acreditamos em imagens e estátuas, só no Deus vivo”, diz. Pelo lado dos católicos, a doméstica Maria da Conceição de Jesus, de 53 anos, diz que o Cristo terá o poder de “reforçar a união da população da cidade com a Igreja”.
Uma dívida de R$ 40 mi
O Cristo gigantesco que está para ser inaugurado em breve em Muriaé não é o único monumento a causar polêmica no município da Zona da Mata. A Estátua do Trabalhador, que fica na Praça Carlos Drummond de Andrade, é alvo de uma pendenga judicial que se arrasta há 23 anos. A obra foi encomendada em 1983 pelo então prefeito Paulo Oliveira Carvalho ao seu genro, o artista plástico Sérgio Luiz de Souza Campos, mas foi instalada em praça pública sem sua autorização e sem que ele recebesse nenhum centavo pelo trabalho. O fato gerou uma dívida da prefeitura com o artista que já está na casa de R$ 40 milhões, valor da indenização mais os juros e multas, segundo decisão do Tribunal de Justiça de Minas Gerais (TJMG). Os recursos são suficientes para erguer dezenas de estátuas do Cristo Redentor que está sendo finalizado, avaliado em cerca de R$ 1 milhão.
Em 1988 a prefeitura pediu autorização à Câmara Municipal para elaborar um contrato garantindo o pagamento ao artista. Os vereadores rejeitaram, mas a estátua, que estava guardada na prefeitura, foi instalada assim mesmo na praça. No ano seguinte, já sob a administração do então prefeito Christiano Canedo, Sérgio Campos entrou com a ação na Justiça contra a prefeitura solicitando o pagamento da obra. Um perícia inicial calculou o preço em R$ 6 milhões. A prefeitura não questionou o valor estabelecido e ele acabou servindo de referência para o cálculo final da indenização. Vinte anos depois de muitas idas e vindas o Superior Tribunal de Justiça (STJ) confirmou a sentença do TJMG determinando o pagamento da indenização, mas a atual administração tenta reverter a sentença na Justiça. A indenização calculada em 2009 era de R$ 14 milhões, mais os juros e multas, o valor chegou a R$ 32 milhões. Hoje, segundo a prefeitura, já alçança quase R$ 40 milhões.
Segundo o chefe de gabinete da prefeitura, Adellunar Marge, a prefeitura não tem condição de arcar com um custo desse montante. Marge disse que a administração tenta de toda maneira se livrar do pagamento, considerado astronômico. Segundo ele, o processo movido pelo artista correu à revelia durante vários anos. “Parece até que deixaram isso correr assim de má-fé para chegar a esse valor.” Ele disse que o material da estátua, que é feita de ferro revestido de bronze, foi comprado pela própria prefeitura e que o artista quando executou a obra tinha um cargo de confiança na administração municipal.
A reportagem não conseguiu falar com Sérgio Campos, que se mudou para o Rio de Janeiro, segundo informação de moradores da cidade, nem com o seu advogado José Olavo Tostes, que estava em Niterói, região metropolitana do Rio de Janeiro.