Brasília – O grupo petista ligado aos envolvidos no mensalão aposta na histórica rixa entre a Polícia Federal e o Ministério Público, agravada por declarações recentes da subprocuradora da República Cláudia Sampaio, para reunir elementos que forcem a ida do marido dela, o procurador-geral da República, Roberto Gurgel, à CPI do Cachoeira. No depoimento que o delegado da PF Raul Alexandre Souza dará hoje ao Conselho de Ética do Senado, o PT vai usar o desencontro entre os discursos de Cláudia, de Raul e de Gurgel e voltará a explorar o fato de o procurador-geral não ter pedido o indiciamento de Demóstenes Torres (sem partido-GO) em 2009, quando recebeu o inquérito da Operação Vegas.
Embora afirme ser contra a convocação, o deputado Cândido Vaccarezza (PT-SP) cobra um posicionamento de Gurgel. “Ele não saiu falando dos mensaleiros? Tem que falar agora é sobre a má conduta dele. Ele deve uma explicação à sociedade. Quando politizou, falando de mensaleiros, ficou ridículo e pior para ele. Agora, com esse bate-boca entre a mulher dele e o delegado, está claro que eles estão confusos”, concluiu. O deputado se refere às declarações de Cláudia Sampaio à imprensa de que o próprio delegado Raul teria pedido que ela não tomasse providências em relação à Operação Vegas, porque poderiam atrapalhar as investigações em curso. Ontem, o senador Fernando Collor (PTB-AL) defendeu a convocação de Cláudia Sampaio.
As alegações da subprocuradora se chocam com o depoimento que Raul deu na semana passada. Ele disse à CPI que a mulher de Gurgel, ao receber o inquérito da Vegas, avisou aos policiais que não havia indícios para que fossem tomadas providências contra pessoas com foro privilegiado. Nos bastidores, fala-se que o depoimento do delegado da Polícia Federal “entregou” o procurador-geral. Ontem à noite, a Polícia Federal divulgou uma nota oficial, reiterando as informações dadas por Raul à CPI. Segundo a corporação, houve três encontros entre o delegado e a subprocuradora e em nenhum deles Raul sugeriu o “arquivamento ou o não envio da Operação Vegas ao STF”. (Com G.M.)
Semana movimentada
A agenda da CPI mista e do Conselho de Ética do Senado, que investiga o senador Demóstenes Torres
Hoje – Conselho de Ética recebe os delegados da Polícia Federal Raul Alexandre Marques Souza, responsável pela Operação Vegas; e Matheus Mella Rodrigues, da Operação Monte Carlo. Os depoimentos terão início às 9h. Depoimento de Cachoeira previsto para as 14h poderá ser trocado pelo de procuradores.
Amanhã: Conselho volta a se reunir, às 14h, para ouvir os procuradores Daniel de Resende Salgado e Léa Batista de Oliveira, que participaram da Operação Monte Carlo, em função da qual Cachoeira foi preso.
Quinta-feira (17): CPI mista tem reunião marcada para 10h. Na pauta, apreciação de requerimentos e a oitiva dos procuradores da República Daniel de Resende Salgado e Léa Batista de Oliveira. Os dois seriam ouvidos em reunião secreta na semana passada, mas as oitivas foram adiadas depois do depoimento de quase 10 horas do delegado da PF Matheus Mela Rodrigues, responsável pela operação.
Terça-feira (22): A pedido da defesa do senador Demóstenes Torres, o Conselho de Ética ouve, como testemunha, o advogado Ruy Cruvinel. A reunião foi marcada para as 9h.
Quarta-feira (23): Conselho de Ética recebe Carlos Cachoeira, às 14h.
Segunda-feira (28): Senador Demóstenes Torres (sem partido-GO) vai ao Conselho de Ética, às 18h.