O líder do governo no Senado, Eduardo Braga (PMDB-AM), disse nesta terça-feira ser favorável que a recém-criada Comissão da Verdade investigue tanto os militares quanto os militantes de esquerda que faziam oposição à ditadura instalada no País em 1964. Braga recorreu a um provérbio para explicar sua posição.
Braga afirmou, no entanto, que a atribuição de culpa sobre atos de violência e violação dos direitos humanos é maior por parte das autoridades. "Naquela altura, era mais provável que atos de violência partissem das autoridades, pois o País estava em um regime de exceção", disse, ressaltando: "Isso não quer dizer que não se deva investigar os dois lados."
A Comissão da Verdade será empossada amanhã em cerimônia no Palácio do Planalto. A declaração do líder do governo no Senado entra em conflito com a opinião de pelo menos dois dos sete nomes escolhidos pela presidente Dilma Rousseff para a comissão.
Em entrevista publicada hoje pelo jornal "O Estado de S. Paulo", o diplomata Paulo Sérgio Pinheiro foi enfático ao comentar a possibilidade de a comissão investigar tanto os militantes de oposição quanto os agentes públicos da ditadura. "O único lado é o das vítimas, o lado das pessoas que sofreram violações de direitos humanos. Onde houver registro de vítimas de violações praticadas por agentes de Estado a comissão irá atuar", afirmou, acrescentando: "Nenhuma comissão da verdade teve ou tem essa bobagem de dois lados, de representantes dos perpetradores dos crimes e das vítimas. Isso não existe."
A professora e advogada Rosa Cardoso, integrante da comissão, também descartou a intenção de investigar crimes praticados por organizações de esquerda que aderiram à luta armada. De acordo com declarações dela ontem no Rio, a comissão vai, fundamentalmente, rever "condutas de agentes públicos".