Um fim de semana com tudo pago – com dinheiro público – em um dos maiores hotéis voltados para turismo e negócios de Minas Gerais e com direito a dois dias de folga no retorno a Belo Horizonte. O benefício de fazer inveja a qualquer trabalhador foi concedido a 445 servidores do Tribunal de Contas do Estado (TCE) ao custo de R$ 336.574. Até o transporte foi por conta do órgão: foram alugados 15 ônibus contratados por R$ 36 cada, por quilômetro percorrido.
Quem aceitou o convite para participar do encontro de servidores terá direito a pensão completa, ou seja, café da manhã, almoço e jantar, coquetel de boas-vindas e coffee-break nos intervalos das atividades. Foram ocupados 250 apartamentos, entre individuais, duplos, triplos e quádruplos. O hotel contratado – por meio de licitação – tem em sua estrutura sauna, sala de jogos, piscinas internas e externas, inclusive térmica e com toboágua, ginásio, quadra de tênis e academia de ginástica. Ao chegar ao hotel ontem por volta das 15h, alguns participantes já planejavam o que fazer.
Em uma volta pela piscina, uma servidora avisou animadamente aos colegas que colocou um maiô na mala. Em outro tour, ao ver um dos três bares fechados, outro servidor ficou curioso para saber o horário de abertura. “A turma está a fim de beber”, justificou. Bebidas, no entanto, serão custeadas do próprio bolso. Os servidores poderão usar gratuitamente toda a estrutura do hotel, com exceção do boliche (R$ 39 a hora) e o spa (entre R$ 59 e R$ 79 pela massagem).
Para levar os participantes ao hotel, foram contratados pelo TCE 15 ônibus rodoviários executivos com capacidade para 42 a 46 poltronas individuais “confortáveis”. O edital de licitação para contratação da empresa determinou, entre outros pontos, que as poltronas deveriam ser em “tecido super soft” com pelo menos dois níveis de inclinação e descanso de pernas; climatizado com ar-condicionado com jato individual; monitores de TV com DVD; sistema de som ambiente com CD Player; microfone; geladeira elétrica/frigobar com água mineral e janelas laterais com vista panorâmica.
Levando-se em conta que a distância da sede do TCE, na Avenida Raja Gabaglia, até a porta do hotel é de 55,5 quilômetros, a viagem de ida e volta dos 15 ônibus custará pelo menos R$ 59,4 mil, o que elevará o valor do congresso dos servidores para quase R$ 400 mil. Para o evento, foi disponibilizado um auditório com capacidade para 700 pessoas – o maior do local – equipado com sistema de iluminação, sonorização e mobiliado com mesas e cadeiras e salas para 40 pessoas. As diárias desses locais variam de R$ 80 a R$ 3 mil.
IMERSÃO
Como justificativa para a realização do evento fora de Belo Horizonte, o TCE alegou no edital de licitação para escolha do hotel que as palestras, discussões em grupo e dinâmicas demandam o envolvimento dos participantes em tempo integral. “O resultado almejado recomenda, portanto, a realização dos trabalhos em regime de imersão, em espaço localizado fora do ambiente de trabalho e da capital, a fim de favorecer o comprometimento com os trabalhos e um maior aproveitamento da vivência proposta, de forma que os participantes consigam se afastar com mais facilidade dos problemas cotidianos.”
Na programação iniciada ontem, seriam realizadas palestras do conselheiro Antônio Carlos Andrada – que deixa o TCE na semana que vem para disputar a Prefeitura de Barbacena – e do professor Clóvis Barros Filho, da USP, Ph.D em filosofia, sobre ética. Para hoje estão previstas palestras sobre autoconhecimento, motivação, trabalho em equipe e sensibilização para mudança. À noite, o grupo poderá “festejar” o encontro em uma boate reservada para ele. O retorno à capital será amanhã.