Jornal Estado de Minas

PT e PMDB se unem para forçar convocação de Perillo na CPMI e proteger correligionários

Tucanos avaliam que é melhor abrir mão de depoimentos para blindar Perillo.

Josie Jerônimo
O líder do PSDB, Alvaro Dias, entre o presidente da CPI, Vital do Rêgo, e o relator, Cunha: tucano pediu convocação simultânea de governadores - Foto: Bruno Peres/CB/D.A Press
Brasília – O PSDB fez um balanço dos primeiros trabalhos da CPI criada para investigar os elos do bicheiro Carlinhos Cachoeira e chegou à conclusão que, até agora, o partido é o maior prejudicado. E para proteger o governador de Goiás, Marconi Perillo (PSDB), os tucanos vão abrir mão de parte da investigação. Em vez de trabalhar para aprovar requerimentos de convocações de integrantes e de envolvidos com a quadrilha de Cachoeira, os correligionários de Perillo apostam no aprofundamento de dados do inquérito enfatizando à participação da Delta Construções em âmbito nacional e a influência do bicheiro em órgãos do governo federal. Na outra ponta, PT e PMDB pretendem se unir para isolar os tucanos na comissão e forçar a convocação de Perillo antes dos demais governadores: Agnelo Queiroz (PT-DF) e Sérgio Cabral Filho (PMDB-RJ). Os dois partidos pretendem utilizar a maioria que têm na comissão para expor o governador de Goiás. Requerimentos pedindo a convocação dos chefes de Executivo serão votados na terça-feira.

Na manhã dessa quinta-feira, 11 tucanos – quatro senadores e sete deputados – se encontraram às 7h30 no cafezinho do Senado para combinar estratégia de condução do depoimento de comparsas de Cachoeira na CPI e de participação na sessão administrativa de votação de requerimentos para evitar a convocação de Perillo. A conversa secreta foi municiada por um envelope repleto de documentos elaborados pela assessoria parlamentar da Câmara com informações que pudessem ampliar para o plano nacional as questões direcionadas aos comparsas de Cachoeira que atuavam em Goiás.

No encontro, os parlamentares chegaram ao consenso de que os depoimentos de integrantes da quadrilha tendem a fragilizar mais a situação de Perillo do que de outros envolvidos. Citaram o exemplo do ex-vereador Wladimir Garcez. Apesar de o ex-presidente da Câmara Municipal de Goiânia ter sido flagrado fazendo lobby para empresas farmacêuticas de Cachoeira, é a história do suposto pagamento da casa do governador com cheques da Delta, informação dada por Garcez, que prevalece no noticiário.

Ao Estado de Minas, um dos parlamentares que participaram da reunião dessa quinta-feira afirmou que o objetivo do partido agora é “começar a fechar o cerco pelos depoimentos”. Se for para aprovar requerimento de depoente que possa provocar mais problemas a Perillo, os tucanos não têm interesse. O senador Aloysio Nunes (PSDB-SP), um dos que madrugaram nessa quinta-feira no Senado para a reunião, contou que os tucanos se encontraram para combinar perguntas para o depoimento do ex-vereador, do araponga Idalberto Matias, o Dadá, e Jairo Martins.

A polêmica do requerimento de convocação dos governadores só pode ser contornada se a comissão aprovar requerimento dando preferência a texto do líder do PSDB, senador Alvaro Dias (PR) que lista o nome dos três chefes de Executivo no mesmo documento, para que o tucano não seja o único a depor. O parlamentar nega que o encontro no cafezinho do Senado tenha sido uma reunião institucional do PSDB para discutir a atuação na CPI. “Pode ter tido encontro de alguns, mas não foi uma reunião de liderança.”

Estratégia PT-PMDB

A estratégia dos dois maiores partidos na CPI – o PT e o PMDB – também foi acertada nessa quinta-feira. O PMDB estava incomodado com a disposição de alguns petistas de convocar o governador do Rio, Sérgio Cabral Filho, e ameaçava não aprovar a convocação de Perillo. “Não aceitamos que o Cabral seja usado como moeda de troca”, ameaçou o deputado Eduardo Cunha (RJ), vice-líder do PMDB na Câmara. Os petistas entenderam o recado e firmaram a parceria.

Durante a sessão dessa quinta-feira, a polarização PT-PSDB atingiu um grau ainda não visto desde que os trabalhos da CPI tiveram início. O deputado Carlos Sampaio (PSDB-SP) atacou o relator Odair Cunha (PT-MG), reclamando que, durante o depoimento do ex-vereador Wladimir Garcez, 19 das 20 perguntas eram sobre o envolvimento de Perillo com o contraventor. “O senhor não está agindo como um magistrado”, criticou Sampaio.

Odair Cunha disse que estava agindo com isenção e que as perguntas foram motivadas pelo fato de Garcez ser filiado ao PSDB e ter uma estreita relação com o governador goiano.