Jornal Estado de Minas

Prefeito de BH emprega 11 antigos funcionários em cargos de confiança

Marcio Lacerda leva ao pé da letra a expressão cargo de confiança e instala em postos importantes da prefeitura ex-funcionários de suas companhias do setor de telecomunicações

Leonardo Augusto Alice Maciel

Clique na imagem para ampliá-la - Foto: Ninguém nunca levou a expressão “cargo de confiança” tão a sério quanto o prefeito de Belo Horizonte, Marcio Lacerda (PSB). Ex-empresário, o chefe do Poder Executivo municipal mantém os principais postos da administração central e de empresas públicas nas mãos de ex-funcionários da Construtel e Batik, companhias do setor de telecomunicações que pertenceram a ele – a primeira foi desativada e a segunda Lacerda vendeu.

A Secretaria de Governo, uma espécie de central para orientação político-administrativa a todas as outras pastas, empresas, fundações e autarquias municipais, está sob o comando de Josué Valadão. O escolhido de Lacerda para o cargo foi diretor de Sistemas da Construtel, onde respondia, por exemplo, pelas linhas telefônicas implantadas pela empresa, principalmente na década de 1990.

O responsável pela Secretaria de Assuntos Institucionais, Marcello Abi Saber, era o braço direito do prefeito na Batik, fornecedora de equipamentos de telecomunicações, onde ocupava o cargo de diretor-geral. “Era quem mandava quando Lacerda não estava por perto”, diz um ex-funcionário da empresa. Hoje, as funções de Abi Saber envolvem muito mais poder de articulação do que de determinar o que deve ou não ser feito. O secretário faz a ponte entre a prefeitura e a Câmara dos Vereadores, discutindo projetos de lei que o governo quer aprovar e também os que pretende derrubar.

Na Secretaria de Serviços Urbanos, Lacerda lotou Píer Giorgio Senesi Filho. Ex-diretor-geral da Construtel no Chile, o auxiliar do prefeito foi ainda seu tesoureiro na campanha eleitoral de 2008. Da pasta de Senesi saem, por exemplo, as regras da prefeitura para ocupação das calçadas da cidade por mesas de bares. O secretário usa ainda a experiência acumulada no alto escalão do braço internacional da Construtel – e também na gestão de recursos na eleição de Lacerda – para fiscalizar e, muitas vezes, multar quem constrói em áreas proibidas, faz propaganda onde não é permitido ou ultrapassa os limites de som estabelecidos pela Lei do Silêncio.

Em 2009, a satisfação de Lacerda em ter Senesi trabalhando ao seu lado foi estendida a outro integrante da família. Naquele ano, a prefeitura contratou Veneranda Fúlvia de Simone Senesi, mulher do secretário, para trabalhar como assessora na Secretaria de Governo, e a transferiu para exercer a mesma função em seu gabinete.

‘Desvio de função’

A confiança de Lacerda nos trabalhadores de suas antigas empresas atinge tal dimensão que cargos da administração municipal foram entregues a antigos funcionários que exerciam funções completamente diferentes das que passaram a exercer na prefeitura. O analista de sistemas e gerente de informática da Construtel, Augusto Pirassinunga, é hoje diretor de Manutenção da Superintendência de Desenvolvimento da Capital (Sudecap), autarquia responsável pelas obras de infraestrutura realizadas na cidade.

O diretor de Voz e Imagem da Prodabel, a empresa de processamento de dados de Belo Horizonte, Lauro Ferreira Sigaud, também entrou na estratégia de “desvio de função” colocada em curso por Lacerda para alocação de ex-funcionários. Responsável pela implantação de sistemas de comunicação da prefeitura, Lauro era diretor financeiro da Construtel. Na mesma linha, a ex-gerente de Planejamento e Marketing da empresa, Beatriz Góes, ganhou função mais ampla na prefeitura. Virou consultora técnica especializada no gabinete de Lacerda.

A lista dos que foram colocados para exercer funções equivalentes também é grande. Nourival Resende, diretor administrativo-financeiro da Sudecap, era gerente de contabilidade da Construtel. Janete Maria de Souza, diretora de Administração e Finanças na Prodabel, era contadora na Batik. Eliane Faria Silva, assessora na prefeitura, era secretária na mesma empresa, e Cláudia Angélica Santos, assessora no gabinete do prefeito, era secretária na Construtel.

De todo o grupo de ex-funcionários das empresas de Lacerda que hoje trabalham na prefeitura, um, pelo histórico profissional, deixa a impressão de que tem condições de alcançar cargos mais importantes na prefeitura: George Wilson Almeida Machado, diretor de Rede da Prodabel, foi presidente da Construtel no Chile.