Jornal Estado de Minas

Carlinhos Cachoeira fez depósito para subprocurador

Correio Braziliense

Brasília – Quebra de sigilo do contador da quadrilha de Carlinhos Cachoeira mostra que o escritório do subprocurador-geral da República Geraldo Brindeiro recebeu R$ 161,2 mil das contas de Geovani Pereira da Silva, procurador de empresas fantasmas utilizadas para lavar dinheiro do esquema criminoso. De acordo com o senador Pedro Taques (PDT-MT), que analisou laudo de perícia financeira constante no inquérito que investiga o contraventor e seus comparsas, o escritório Morais, Castilho e Brindeiro Sociedade de Advogados recebeu o montante em cinco parcelas, a maior delas de R$ 76 mil. “Não é possível que um membro do MP advogue para uma quadrilha criminosa enquanto homens da Polícia Federal se arriscam investigando os acusados”, criticou Taques.

O senador, que trocou o MP pelo Parlamento, explicou que juristas ingressos na procuradoria antes de 1988 têm o direito de advogar, pois a limitação passou a constar apenas na nova Constituição. O parlamentar, no entanto, questiona o suposto conflito na prestação de serviços do escritório do subprocurador à quadrilha de Cachoeira. Ontem, Taques apresentou requerimento de informações à CPI que investiga o contraventor para que o colegiado apure as circunstância dos repasses do contador de Cachoeira ao subprocurador.

Brindeiro foi procurador-geral da República durante o governo Fernando Henrique Cardoso. Criticado por não dar sequência a investigações de grande repercussão, Brindeiro ganhou o apelido de engavetador-geral da República.

Esquema via Delta Dados da movimentação bancária em análise pela comissão mostram que a Delta Construções fez depósitos nas contas de duas empresas de fachada, a Alberto Pantoja Construções e Transportes e a Brava, e essas firmas fantasmas repassaram os recursos para o contador de Cachoeira. O escritório em que Brindeiro tem sociedade foi pago com recursos da conta de Geovani.

O contador é considerado uma das principais testemunhas no inquérito contra Cachoeira. Ele era procurador de empresas de fachada usadas para lavar o dinheiro no esquema da quadrilha. A Polícia Federal monitorou pelo menos oito contas registradas no nome do comparsa de Cachoeira. Apesar de declarar renda anual de R$ 21,3 mil e patrimônio de R$ 197,5 mil, Geovani chegou a movimentar R$ 4,3 milhões nas contas em que tem titularidade.

Paralelamente às ações da CPI, Taques anunciou que entraria com ação no Conselho Nacional do Ministério Público (CNMP) para apurar o serviço advocatício prestado pelo escritório de Brindeiro que justificasse o pagamento feito por uma das contas utilizadas no esquema do contraventor. O senador do PDT também entrou com ação solicitando a indisponibilidade de bens da Delta Construções. Taques tem reclamado que a CPI está “chapa branca” e decidiu lançar mão de instrumentos externos para ter resultados mais rápidos em relação às irregularidades apuradas pela PF e trabalhos iniciais da comissão.

O Estado de Minas entrou em contato com o escritório de advocacia do subprocurador, mas não recebeu resposta até a publicação desta edição.

O procurador-geral da República, Roberto Gurgel, afirmou que avaliará se caberá ao órgão apurar o pagamento a Brindeiro. “Não é nada que diga respeito ao MP. É algo que diz respeito à advocacia privada. Mas é claro que qualquer fato com que a gente se depare, temos que examinar se há algo para apurar em relação a isso”, disse. (JJ)

Enquanto isso...

...STF permite fim de sigilo


O ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Ricardo Lewandowski autorizou ontem que a CPI do Cachoeira derrube o sigilo de parte das informações que reuniu até o momento. A exceção são aquelas relativas a gravações de conversas telefônicas. Lewandowski argumentou que as interceptações telefônicas são sigilosas por força de lei. Na terça-feira a CPI deve quebrar o sigilo bancário nacional da construtora Delta. A comissão já tem informações de que o ex-diretor da empresa no Centro-Oeste Cláudio Abreu tinha autorização para movimentar pelo menos 10 contas da empresa, algumas com abrangência nacional. A intenção agora é ter o acesso a toda a movimentação financeira da Delta, inclusive os contratos firmados com governos estaduais e federal, e possíveis pagamentos a parlamentares envolvidos no esquema de corrupção.