Jornal Estado de Minas

CPI do Cachoeira entra em semana decisiva

Comissão decide na terça-feira dois assuntos que são fundamentais para o futuro da investigação: a quebra de sigilo da Delta nacional e a convocação de governadores

Juliana Braga
Integrantes da CPI estão divididos sobre a convocação dos governadores: PT-PMDB contra o PSDB - Foto: wilson dias/abr
A semana que começa será decisiva para definir os rumos da CPI do Cachoeira. Marcada por depoimentos sem respostas e pela blindagem dos aliados, a comissão mista ainda não conseguiu dizer a que veio e revelar informações além das já constatadas pelas operações Vegas e Monte Carlo. Mesmo com previsão de comparecimento de personagens importantes para os próximos dias, é na reunião administrativa de terça-feira que os parlamentares estão apostando suas fichas. Será votado o requerimento para convocação dos governadores e para a quebra de sigilo da Delta nacional. A partir disso, os parlamentares esperam que os trabalhos comecem de fato.
Para o deputado Miro Teixeira (PDT-RJ), somente o aprofundamento das investigações em relação à construtora Delta poderá revelar informações que já não foram descobertas pela Polícia Federal ou pelo Ministério Público. “A movimentação financeira da Delta com empresas fantasmas pode revelar um mecanismo de subornos. É o caminho que acho que temos de seguir para procurar verificar a quem se destinava esse dinheiro”, justifica. Segundo Miro, nem todos na comissão entenderam que esta é uma CPI diferente, que já começa com duas investigações prontas.

O deputado Rubens Bueno (PP-PR) sustenta que esse é o ponto chave. “Temos que saber por que, de 2003 para cá, a empresa cresceu rapidamente, ganhou licitação com baixo preço e se tornou uma das mais ricas e poderosas do país”, diz. Otimista, acredita que dificilmente o requerimento será barrado. “Não tem como segurar”, afirma.

Silêncio Outro ponto crucial é a convocação dos três governadores citados nos inquéritos: Marconi Perillo (PSDB-GO), Agnelo Queiroz (PT-DF) e Sérgio Cabral (PMDB-RJ). O senador Álvaro Dias (PSDB-PR) acha difícil fazer uma previsão. Já os governistas seguem repetindo o discurso de que a situação de Perillo é diferente da dos outros dois. “Não há como analisar todos em conjunto, cada um é um problema. Não se pode comparar a situação do Perillo com os outros. Ele está totalmente comprometido com a organização criminosa do Cachoeira, um envolvimento pessoal”, sustenta Cândido Vaccarezza (PT-SP).

A semana também será marcada pelo depoimento de peças chaves, como o senador Demóstenes Torres (sem partido-GO); o ex-diretor da Delta Cláudio Abreu; José Olímpio de Queiroga Neto; Gleyb Ferreira da Cruz; Geovani Pereira da Silva; e Lenine Araújo, todos auxiliares de Cachoeira. “Em depoimento a gente não sabe se vai falar, se vai ficar em silêncio. A votação é que vai sinalizar sobre o comportamento dos membros da CPI, sinalizar a parcialidade e a imparcialidade”, afirma Álvaro Dias.

De olho nos documentos
Brasília – Depois de se irritarem com o silêncio de Carlinhos Cachoeira e seus auxiliares, os integrantes da CPI pretendem dedicar mais energia à análise dos novos documentos que chegam à sala secreta do Senado onde ficam guardados. Para alguns deles, a papelada e os áudios podem ser mais úteis à investigação do que os depoimentos silenciosos de quem não quer se comprometer.

O deputado Paulo Teixeira (PT-SP) lembra que a CPI está finalmente recebendo os documentos que interessam de fato. “A comissão praticamente se inicia agora, com as quebras de sigilo, o material da Justiça Federal, do Judiciário, isso tudo vai ajudar mais a CPI”, comenta. “Antes, nem dava para fazer o dever de casa, porque o pouco que tinha já era de conhecimento público. Este é realmente o momento de pesquisa.”

O líder do PPS na Câmara, Rubens Bueno (PR), destaca que o principal passo será o cruzamento dos dados disponíveis. “Só assim poderemos saber quem abastecia o esquema, qual partido era beneficiado e qual o papel de cada um no organograma do crime”, afirma. Ele reclama, no entanto, da demora para que o programa que deve simplificar esse cruzamento de informações comece a funcionar.

A reclamação é a mesma do deputado Miro Teixeira (PDT-RJ). “A quebra da chave de acesso para os programas de computador que cruzam os dados já está sendo prometida há 10 dias”, reclama. Segundo ele, cruzar as informações de sigilo bancário, telefônico e datas pode revelar os caminhos que o dinheiro percorria e cúmplices que ainda não apareceram. Os softwares serviriam para facilitar esse trabalho. (AC e JB)

Cronograma
Confira os próximos passos da CPI do Cachoeira

Terça-feira
Reunião administrativa para votar requerimentos: quebra de sigilo da Delta nacional e convocação dos governadores

Quarta-feira
Depoimentos de Cláudio Abreu, José Olímpio de Queiroga Neto, Gleyb Ferreira da Cruz, Geovani Pereira da Silva e Lenine Araújo

Quinta-feira
Depoimento do senador Demóstenes Torres (sem partido-GO)