A semana que começa será decisiva para definir os rumos da CPI do Cachoeira. Marcada por depoimentos sem respostas e pela blindagem dos aliados, a comissão mista ainda não conseguiu dizer a que veio e revelar informações além das já constatadas pelas operações Vegas e Monte Carlo. Mesmo com previsão de comparecimento de personagens importantes para os próximos dias, é na reunião administrativa de terça-feira que os parlamentares estão apostando suas fichas. Será votado o requerimento para convocação dos governadores e para a quebra de sigilo da Delta nacional. A partir disso, os parlamentares esperam que os trabalhos comecem de fato.
O deputado Rubens Bueno (PP-PR) sustenta que esse é o ponto chave. “Temos que saber por que, de 2003 para cá, a empresa cresceu rapidamente, ganhou licitação com baixo preço e se tornou uma das mais ricas e poderosas do país”, diz. Otimista, acredita que dificilmente o requerimento será barrado. “Não tem como segurar”, afirma.
Silêncio Outro ponto crucial é a convocação dos três governadores citados nos inquéritos: Marconi Perillo (PSDB-GO), Agnelo Queiroz (PT-DF) e Sérgio Cabral (PMDB-RJ). O senador Álvaro Dias (PSDB-PR) acha difícil fazer uma previsão. Já os governistas seguem repetindo o discurso de que a situação de Perillo é diferente da dos outros dois. “Não há como analisar todos em conjunto, cada um é um problema. Não se pode comparar a situação do Perillo com os outros. Ele está totalmente comprometido com a organização criminosa do Cachoeira, um envolvimento pessoal”, sustenta Cândido Vaccarezza (PT-SP).
A semana também será marcada pelo depoimento de peças chaves, como o senador Demóstenes Torres (sem partido-GO); o ex-diretor da Delta Cláudio Abreu; José Olímpio de Queiroga Neto; Gleyb Ferreira da Cruz; Geovani Pereira da Silva; e Lenine Araújo, todos auxiliares de Cachoeira. “Em depoimento a gente não sabe se vai falar, se vai ficar em silêncio. A votação é que vai sinalizar sobre o comportamento dos membros da CPI, sinalizar a parcialidade e a imparcialidade”, afirma Álvaro Dias.
De olho nos documentos
Brasília – Depois de se irritarem com o silêncio de Carlinhos Cachoeira e seus auxiliares, os integrantes da CPI pretendem dedicar mais energia à análise dos novos documentos que chegam à sala secreta do Senado onde ficam guardados. Para alguns deles, a papelada e os áudios podem ser mais úteis à investigação do que os depoimentos silenciosos de quem não quer se comprometer.
O deputado Paulo Teixeira (PT-SP) lembra que a CPI está finalmente recebendo os documentos que interessam de fato. “A comissão praticamente se inicia agora, com as quebras de sigilo, o material da Justiça Federal, do Judiciário, isso tudo vai ajudar mais a CPI”, comenta. “Antes, nem dava para fazer o dever de casa, porque o pouco que tinha já era de conhecimento público. Este é realmente o momento de pesquisa.”
O líder do PPS na Câmara, Rubens Bueno (PR), destaca que o principal passo será o cruzamento dos dados disponíveis. “Só assim poderemos saber quem abastecia o esquema, qual partido era beneficiado e qual o papel de cada um no organograma do crime”, afirma. Ele reclama, no entanto, da demora para que o programa que deve simplificar esse cruzamento de informações comece a funcionar.
A reclamação é a mesma do deputado Miro Teixeira (PDT-RJ). “A quebra da chave de acesso para os programas de computador que cruzam os dados já está sendo prometida há 10 dias”, reclama. Segundo ele, cruzar as informações de sigilo bancário, telefônico e datas pode revelar os caminhos que o dinheiro percorria e cúmplices que ainda não apareceram. Os softwares serviriam para facilitar esse trabalho. (AC e JB)
Cronograma
Confira os próximos passos da CPI do Cachoeira
Terça-feira
Reunião administrativa para votar requerimentos: quebra de sigilo da Delta nacional e convocação dos governadores
Quarta-feira
Depoimentos de Cláudio Abreu, José Olímpio de Queiroga Neto, Gleyb Ferreira da Cruz, Geovani Pereira da Silva e Lenine Araújo
Quinta-feira
Depoimento do senador Demóstenes Torres (sem partido-GO)