Brasília – A Guerrilha do Araguaia, um dos episódios mais violentos em confrontos entre esquerdistas e militares, terminou há quatro décadas, mas ainda é um tema polêmico que provoca muitas discussões e incomoda o governo. O confronto entre os militares e os guerrilheiros do PCdoB, ocorrido a partir de abril de 1972, será um dos principais assuntos que virá a debate na Comissão da Verdade e pode trazer à tona fatos desconhecidos que podem mudar o rumo da história, não só daqueles que lutaram, mas também de vários camponeses que até hoje estão desaparecidos.
Um grupo pede ao governo o aprofundamento na história da Guerrilha do Araguaia, que atingiu eles próprios ou seus familiares. No mês passado, a Comissão da Verdade da Câmara colheu o depoimento de um trabalhador que quase perdeu a vida durante o conflito, e até hoje não sabe para onde seu irmão foi levado. Em sessão secreta, ele fez relatos sobre as atrocidades sofridas pelos colonos, enquanto dois militares descreveram, na mesma audiência, o que seus superiores os obrigavam a fazer.
Além disso, Costa diz que os camponeses tinham que comunicar às autoridades quando saíam das cidades. “Eles não tinham o direito de ir e vir”, observa o diretor da Associação dos Desaparecidos da Guerrilha do Araguaia, que dá uma pista sobre o paradeiro das vítimas. “Existem documentos nos arquivos públicos de Goiás, Tocantins, Pará e Maranhão. Além disso, quando as pessoas viajavam, comunicavam às delegacias de Polícia próximas às áreas de conflito”, acrescenta.
Nos últimos três anos, o governo tenta encontrar vestígios de guerrilheiros mortos pelos militares. Em 2009, o Ministério da Defesa, cumprindo ordem judicial, constituiu um grupo de trabalho formado por vários órgãos que vêm fazendo escavações na região do Araguaia, mas até agora foram encontradas apenas duas ossadas. Os moradores, porém, esperam muito mais: querem seus desaparecidos. Alguns eram acusados de ajudar os guerrilheiros, enquanto outros simplesmente morriam por não delatar os comunistas.