À medida em que o mapa do caminho do dinheiro da quadrilha de Carlinhos Cachoeira é desvendado, relações entre as contas bancárias dos comparsas dos bicheiros, empresas fantasmas e caixas eleitorais ganham evidência. Relatório do Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf) identificou grande volume de saques em dinheiro vivo às vésperas da eleição de 2010. A quebra do sigilo bancário do ex-diretor da Delta Cláudio Abreu mostra que três dias antes das eleições do segundo turno, o empresário recebeu duas transferências, no valor total de R$ 600 mil, do CNPJ da Construtora Rio Tocantins (CRT), firma registrada em nome de Rossine Guimarães, sócio de Cachoeira.
Após receber as transferências, Cláudio Abreu repassou parte do dinheiro, R$ 275 mil, para um dos donos da Ginga Rara, empresa de publicidade que recebeu R$ 5,1 milhões em contratos com o governo de Tocantins. Ainda no fim de outubro, outros R$ 300 mil foram sacados em espécie pelo ex-diretor da Delta em uma agência de Catalão (GO).
O relatório do Coaf aponta que, semanas após os saques realizados às vésperas da eleição, a conta de Cláudio Abreu voltou a ter baixa movimentação financeira, sendo usada apenas para pagamento de despesas como cartão de crédito, água e luz, recebendo depósitos no valor máximo de R$ 2,5 mil. Integrantes da Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) mista solicitaram à Polícia de Goiás nomes de presos em flagrante envolvidos em compra de votos nas eleições do estado para cruzar com dados de integrantes da quadrilha do bicheiro.
Esquema O Estado de Minas percorreu a sede de algumas das firmas do Deltaduto, levantou os respectivos históricos de movimentações empresariais e constatou que a maior parte das beneficiárias da Delta Construções não tem atividade produtiva — funcionam apenas para emprestar o CNPJ para a quadrilha do contraventor.
Os registros das empresas do Deltaduto em juntas comerciais de pelo menos cinco unidades da Federação (Distrito Federal, Goiás, Tocantins, Paraná e São Paulo) revelam a estratégia orquestrada de montar uma rede de CNPJs para fins de lavagem de dinheiro. Onze das 29 firmas beneficiárias das transferências da Delta sofreram alterações cadastrais vinculadas ao quadro societário e à descrição de atividade econômica na mesma data, 3 de novembro de 2005. Investigações da Polícia Federal registraram o contador da quadrilha, Geovani Pereira da Silva, negociando a compra de CNPJs por R$ 5 mil.