Brasília – Faltando apenas três semanas para o Conselho de Ética do Senado decidir se encaminha para votação em plenário o processo de cassação do senador Demóstenes Torres (sem partido-GO), levantamento do Estado de Minas aponta que já existem votos suficientes para o parlamentar goiano perder o mandato. Mesmo sofrendo um desgaste imenso há três meses — desde que foi explicitada a relação com o contraventor Carlos Augusto Ramos, o Carlinhos Cachoeira —, a margem ainda é bastante apertada.
Para Demóstenes ser cassado, são necessários 41 votos num universo de 80, pois ele não tem direito a se manifestar. Dos 64 parlamentares ouvidos (16 não foram localizados), 43 prometeram votar pela cassação. O levantamento expõe um Senado absolutamente constrangido. Apenas 29 senadores abriram o próprio voto e autorizaram a publicação dos nomes na lista. Ninguém declarou abertamente que votaria contra a cassação. Fugiram do assunto, alegando os mais diversos motivos, 34 parlamentares.
A senadora Lúcia Vânia (PSDB-GO) foi a única a afirmar que ainda estava indecisa. Disse que só teria convicção após a leitura do relatório que será apresentado no Conselho de Ética. “Até por eu ser de Goiânia, não vou me deixar contaminar. Só vou me posicionar após a leitura do relatório.”
Nos bastidores do Senado, circula a informação de que Demóstenes já teria articulado e convencido 32 senadores a votar contra a cassação. A estratégia seria esvaziar o plenário no dia da sessão. Com as ausências, ficaria complicado alcançar os 41 votos. No levantamento do Estado de Minas, pelo menos seis senadores afirmaram, reservadamente, que foram procurados pelo parlamentar goiano. “O Demóstenes me procurou, mas eu não quis nem conversar sobre isso. Já tenho minha convicção. Não adianta conversa. Ele já falou o que tinha que falar. Não precisamos de mais nenhum elemento para nos posicionarmos”, comentou um senador do PMDB.
O senador Pedro Taques (PDT-MT), que foi xingado pelo deputado Silvio Costa (PTB-PE) por ter dito que Demóstenes, assim como os outros depoentes, merecia ser tratado com respeito e dignidade, declarou que vai votar pela cassação. Aos gritos, quando foi interrompido na sessão da CPI do Cachoeira da última quinta-feira, Costa afirmou que Taques estava “na contabilidade dos 32 votos que Demóstenes alega ter”.
O senador Antônio Russo (PR-MS), que preferiu não declarar o voto, afirmou que, na próxima terça, haverá reunião com um grupo de 13 senadores do PTB, do PR e do PSC para decidir se o bloco vai votar a favor ou contra a cassação de Demóstenes.
Grande parte dos senadores que não autorizou a publicação do nome no levantamento alegou que, como a votação é secreta, a declaração antecipada do posicionamento feria o regimento da Casa. Alguns chegaram a dizer que temiam que o voto fosse impugnado se afirmassem como votariam. O senador Eduardo Suplicy informou que, no momento da votação, mesmo a sessão sendo secreta, vai se posicionar abertamente. No entanto, ele preferiu não antecipar o voto.
Prazo O presidente do Conselho de Ética, senador Antônio Carlos Valadares (PSB-SE), e o relator, senador Humberto Costa (PT-PE), comunicaram, por meio da assessoria de imprensa, que, pelos cargos que ocupam, não poderiam declarar o voto de forma antecipada. Humberto Costa, que deve encaminhar relatório pedindo a cassação de Demóstenes Torres, assegurou que apresenta o parecer em até três semanas. A expectativa é de que, após passar pela Comissão de Cidadania e Justiça (CCJ), o relatório chegue ao plenário até 17 de julho, um dia antes do recesso legislativo.