Depoimento do governador de Goiás, Marconi Perillo, que tenta se desvencilhar das acusações que o ligam ao contraventor, será na terça-feira - Foto: monique rene/cb/d.a press - 15/12/11)
Ligações telefônicas trocadas entre Carlinhos Cachoeira e o ex-vereador Wladimir Garcez (PSDB) às vésperas da assinatura do contrato de venda da casa do governador Marconi Perillo (PSDB) flagraram o contraventor saudando o dono da Faculdade Padrão, Walter Paulo de Oliveira Santiago, por ter emprestado o nome para o negócio. Em 12 de julho de 2011, Cachoeira trocou pelo menos cinco ligações com Garcez, orientando o intermediário da venda da casa de Perillo a estabelecer preço e forma de pagamento pelo imóvel. Em uma das conversas, Cachoeira afirmam que as ofertas pelo imóvel do condomínio Alphaville Flamboyant chegaram a R$ 2,3 milhões, mas depois de negociação o preço caiu para R$ 2,2 milhões. O valor da casa declarado na escritura é de R$ 1,4 milhão. As ligações reforçam a tese de que a transação de compra e venda foi feita entre Perillo e Cachoeira com auxílio de intermediários.
Logo após firmar a venda do imóvel, Garcez ligou para Cachoeira e disse que estava com o "professor Walter", e que o dono da Faculdade Padrão estava "louquinho", impressionado com o vulto da transação realizada em seu nome — o diálogo está em uma das gravações inéditas da Polícia Federal obtida pelo Estado de Minas. "Estou com o professor Walter aqui, já estou terminando aqui, assim que eu terminar eu encontro com você, mas o menino esteve aqui, o Jayme (Rincón), e disse para ficar despreocupado, porque esteve com o cara ontem à noite", afirma Garcez na gravação. "E aí, fechou?", pergunta Cachoeira. "O professor tá mandando um abração aqui pra você. É (fechou), ele tá louquinho aqui, nunca teve o nome dele igual esse aqui, não, Carlinhos", responde o ex-vereador. "Manda fechar logo, rapaz", encerra o contraventor. Em outro telefonema, Cachoeira demonstrou ansiedade pela assinatura da escritura. Garcez respondeu que a formalização da venda do imóvel só seria feita no outro dia (13 de julho), e Cachoeira perguntou se ele pegou a comissão de R$ 100 mil pela intermediação do negócio: "À vista, né? Nossa Senhora, e o trabalho que deu pra olhar esse trem aqui. E você toda hora ligando."
As escutas contradizem a versão do dono da Faculdade Padrão, que afirmou em depoimento à CPI que comprou a casa de Perillo para fazer um aporte no capital de sua firma – a Mestra Administração e Participações. Garcez , assim como Santiago, também foi ao Congresso dar explicações e disse que comprou o imóvel do governador para lucrar com possível transação de revenda. Apesar de os monitoramentos telefônicos indicarem que o verdadeiro comprador da casa era Cachoeira, os dois intermediários afirmaram que o imóvel seria para eles.
Depoimento As versões conflitantes complicam a situação de Perillo, que deve prestar esclarecimentos à comissão na terça-feira. O governador tentou se antecipar à convocação e apareceu de surpresa na CPI no dia 29, com documentos para rebater informações que constam no inquérito da PF, mas parlamentares da base do governo não abriram mão da convocação. Conversas registradas entre Cachoeira e sua mulher Andressa Mendonça justificaram a pressa do bicheiro em adquirir imóvel. No dia 11 de junho, pouco mais de um mês antes de a venda da casa de Perillo ter sido fechada, Andressa pressionou Cachoeira a sair do apartamento onde vivia com a ex-mulher Andrea Aprígio, reclamando que ficou sem lugar para morar após deixar seu ex-marido, Wilder Pedro de Morais, suplente do senador Demóstenes Torres (sem partido).
AGENDAConfira como serão os trabalhos na CPI na próxima semana» TucanoNa terça-feira, a comissão receberá o governador de Goiás, Marconi Perillo. Ela espera que o tucano explique a venda de uma casa que acabou nas mãos de Carlinhos Cachoeira. Duas testemunhas ouvidas pela CPI deram versões diferentes sobre a forma de pagamento do imóvel. PT e PSDB travam luta interna para usar o depoimento de Perillo como arma partidária.
» SecretáriosUm dia depois de Perillo, será a vez de o governador do Distrito Federal, Agnelo Queiroz, falar à CPI. Nomes de secretários do governador são citados por integrantes da organização criminosa e Cachoeira demonstra deter informações sobre obras públicas do DF.
» RequerimentosDepois de ouvir os governadores, a comissão se reunirá na quinta-feira para votar novos requerimentos de convocação de testemunhas e pedidos de quebra de sigilo de envolvidos com a organização criminosa.